segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Natal: festa de libertação e de resistência / Christmas: a celebration of liberation and resistance / Navidad: fiesta de la liberación y la resistencia

Jesus nasceu em um contexto de libertação e de resistência. A região da Palestina estava sob o domínio romano, mas enfrentava uma sequência de mais de seis séculos de opressão entre o período do cativeiro e o governo de grandes impérios. Assírios, babilônicos, selêucidas, ptolomeus e romanos se sucederam no controle da região.

A data escolhida para comemorar o nascimento de Jesus não foi aleatória. A explicação com a proximidade do solstício de inverno é insuficiente para comemorar um evento tão expressivo como a encarnação de Deus em Cristo. Há uma tradição judaica desse período que oferece mais significados para se compreender a intervenção divina na história de seu povo.

Havia a festa das luzes, ou festa da dedicação, que foi criada durante o período do domínio selêucida, no século II AEC. Seu nome em hebraico é Hanukkah. Ela não consta da Torah como as demais festas judaicas.

Ela aparece apenas no Novo Testamento, no evangelho de João, quando Jesus foi a Jerusalém. Nessa ocasião, ele declarou que era o Filho de Deus e possuía uma íntima sintonia com o Pai. Ele declarou: Eu e o Pai somos um” (João 10.30).

João afirma que naquela ocasiãoCelebrava-se a festa da Dedicação, em Jerusalém. Era inverno” (João 10.22). O nome “festa das luzes” se deve ao seu principal símbolo: um candelabro com nove pontas, sendo a do meio a mais elevada, que é chamado de hanukkah ou chanukiá. A festa acontece até os dias atuais no mês de dezembro. Em alguns anos, coincide com a data do Natal cristão, como aconteceu neste ano de 2024.

A festa serve para lembrar a libertação de Jerusalém, no tempo dos Macabeus, das mãos de Antíoco Epifânio IV, um tirano governante grego (Selêucida) que dominou a Síria por volta dos anos 175 a 164 AEC e controlou a Judeia de forma cruel, proibindo as práticas religiosas judaicas. Em uma de suas ações, Antíoco Epifânio IV ordenou a construção de um altar a Zeus no lugar do templo, exigindo que se fizesse sacrifícios com animais considerados imundos pelos judeus.

Um sacerdote judeu chamado Matatias se negou a seguir as ordens do tirano e organizou uma rebelião juntamente com seus cinco filhos. Um deles era chamado Judas e tinha o apelido de Macabeu, que quer dizer martelo. Matatias veio a falecer e Judas deu continuidade à luta liderando a revolta dos judeus de forma vitoriosa e libertando Jerusalém do domínio da tirania.

Uma das ações dos Macabeus foi reconstruir o altar do templo. Quando de sua inauguração, as luzes do candelabro que ficava no pátio do templo, que é chamado de Menorah, foram acesas. Há uma tradição que conta que os soldados só tinham óleo suficiente para acender o Menorah por uma noite. Entretanto, as luzes permaneceram acesas por oito noites inteiras.

Por essa razão, a festa é celebrada por oito noites. Cada família acende uma vela do candelabro por noite, sendo que a principal é usada para acender as outras. Essa história é registrada no livro deuterocanônico de Macabeus e pelo historiador Flávio Josefo. Tratava-se, portanto, da festa da libertação e da resistência contra a maldade.

Jesus usou a ocasião da Festa do Hanukkah para afirmar a sua messianidade e declarar o tempo da salvação de toda forma de opressão. Jesus se apresentou como o Filho de Deus. Por causa disso, os judeus quiseram apedrejá-lo acusando-o de blasfêmia. Apesar de Jesus ter realizado grandes obras ente eles, uma única acusação era suficiente para condenar toda a vida de uma pessoa.

Jesus fez um apelo comovente: Se eu não realizo as obras do meu Pai, não creiam em mim. Mas se as realizo, mesmo que não creiam em mim, creiam nas obras, para que possam saber e entender que o Pai está em mim, e eu no Pai” (João 10.37-38).

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