A data escolhida para comemorar o nascimento de Jesus não
foi aleatória. A explicação com a proximidade do solstício de inverno é insuficiente
para comemorar um evento tão expressivo como a encarnação de Deus em Cristo. Há
uma tradição judaica desse período que oferece mais significados para se compreender
a intervenção divina na história de seu povo.
Havia a festa das luzes, ou festa da dedicação, que foi
criada durante o período do domínio selêucida, no século II AEC. Seu nome em
hebraico é Hanukkah. Ela não consta da Torah como as demais festas judaicas.
Ela aparece apenas no Novo Testamento, no evangelho de João,
quando Jesus foi a Jerusalém. Nessa ocasião, ele declarou que era o Filho de
Deus e possuía uma íntima sintonia com o Pai. Ele declarou: “Eu e o Pai
somos um” (João 10.30).
João afirma que naquela ocasião “Celebrava-se a festa da Dedicação, em Jerusalém. Era inverno” (João 10.22). O nome “festa das luzes” se deve ao seu principal símbolo: um candelabro com nove pontas, sendo a do meio a mais elevada, que é chamado de hanukkah ou chanukiá. A festa acontece até os dias atuais no mês de dezembro. Em alguns anos, coincide com a data do Natal cristão, como aconteceu neste ano de 2024.
A festa serve para lembrar a libertação de Jerusalém, no
tempo dos Macabeus, das mãos de Antíoco Epifânio IV, um tirano governante grego
(Selêucida) que dominou a Síria por volta dos anos 175 a 164 AEC e controlou a
Judeia de forma cruel, proibindo as práticas religiosas judaicas. Em uma de
suas ações, Antíoco Epifânio IV ordenou a construção de um altar a Zeus no
lugar do templo, exigindo que se fizesse sacrifícios com animais considerados
imundos pelos judeus.
Um sacerdote judeu chamado Matatias se negou a seguir as
ordens do tirano e organizou uma rebelião juntamente com seus cinco filhos. Um
deles era chamado Judas e tinha o apelido de Macabeu, que quer dizer martelo.
Matatias veio a falecer e Judas deu continuidade à luta liderando a revolta dos
judeus de forma vitoriosa e libertando Jerusalém do domínio da tirania.
Uma das ações dos Macabeus foi reconstruir o altar do
templo. Quando de sua inauguração, as luzes do candelabro que ficava no pátio
do templo, que é chamado de Menorah, foram acesas. Há uma tradição que conta
que os soldados só tinham óleo suficiente para acender o Menorah por uma noite.
Entretanto, as luzes permaneceram acesas por oito noites inteiras.
Por essa razão, a festa é celebrada por oito noites. Cada
família acende uma vela do candelabro por noite, sendo que a principal é usada
para acender as outras. Essa história é registrada no livro deuterocanônico de
Macabeus e pelo historiador Flávio Josefo. Tratava-se, portanto, da festa da
libertação e da resistência contra a maldade.
Jesus usou a ocasião da Festa do Hanukkah para afirmar a sua
messianidade e declarar o tempo da salvação de toda forma de opressão. Jesus se
apresentou como o Filho de Deus. Por causa disso, os judeus quiseram
apedrejá-lo acusando-o de blasfêmia. Apesar de Jesus ter realizado grandes
obras ente eles, uma única acusação era suficiente para condenar toda a vida de
uma pessoa.
Jesus fez um apelo comovente: “Se eu não realizo as obras do meu
Pai, não creiam em mim. Mas se as realizo, mesmo que não creiam em mim, creiam
nas obras, para que possam saber e entender que o Pai está em mim, e eu no Pai” (João 10.37-38).