quinta-feira, 11 de julho de 2024

Formas de amar: O amor é uma expressão plural / Ways of loving: Love is a plural expression / Formas de amar: El amor es una expresión plural

 

O amor é a marca distintiva da fé cristã. É impossível imaginar um cristão que não seja capaz de amar. O amor é essa força que nos aproxima uns dos outros e faz com que possamos viver em comunidade.

A Bíblia aponta gestos e atitudes que podem ser colocados em prática que fazem com que possamos nos aproximar uns dos outros, criando uma realidade vivencial em que todos e todas possam se sentir acolhidos e amados.

Jesus deixou seu mandamento de amor que é válido para todos os seres humanos, não só para os seguidores de Jesus. O cristão tem o dever de amar, porém essa é uma atitude que faz falta para toda a humanidade. Uma das críticas mais fortes contra a igreja nos dias atuais é que ela fala tanto do amor, mas pouco pratica.

Para que possamos colocar o amor em prática, precisamos ir além das palavras, transformando o amor em uma atitude. Que atitudes podem evidenciar o amor? O Novo Testamento possui quatro palavras que descrevem práticas que demonstram que de fato a gente ama. São atitudes que só podem ser realizadas se houver amor.

As palavras são: comunhão, uns aos outros, compaixão e fraternidade. São quatro atividades que cristãos devem desenvolver como formas de expressar o amor. São práticas que produzem laços fortes de unidade e de aproximação uns dos outros.

Essas expressões trazem consigo a ideia de que existem várias formas de amar, de que toda forma de demonstrar amor é válida. Existem outras práticas que também demonstram o amor de forma prática, como a solidariedade, a generosidade, o cuidado com a criação, a disposição de servir, a defesa da justiça, a promoção da paz e até a democracia.

O amor é uma atitude plural, que comporta diferentes maneiras de ser demonstrado de forma prática. Ele não pode ser formatado em um conjunto de regras e de obrigações. Por isso que a melhor forma de demonstrar amor é através dos gestos e atitudes. Pessoas que amam de fato são conhecidas por seu compromisso de caminhar em direção ao outro.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Um amor sem medida / A love without measure / Un amor sin medida

Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (João 13.1).

Jesus é apresentado nos evangelhos como a maior expressão do amor divino por toda humanidade. Somente alguém com tanto amor gastaria seu tempo para salvar gente como a gente. O Evangelho de João, principalmente, está cheio de referências desse cuidado amoroso de Deus através de Jesus Cristo.

Nos capítulo 13 a 17 de João encontramos o relato de uma ação de Jesus através da qual ele procura demonstrar como é esse amor sem igual, incompreensível ao nosso modo de entender. João registra a última reunião de Jesus com seus discípulos antes de ser crucificado. Era a época da Páscoa. Jesus participou de um banquete (capítulo 13), fez seu discurso de despedida (capítulos 15 e 16) e intercedeu em oração por eles (capítulo 17) antes de ser preso, condenado e crucificado.

No capítulo 13, podemos tomar parte da intimidade do colégio apostólico, ter uma ideia do modo como Jesus demonstrava afeto e atenção aos seus discípulos, como agia com humildade e ternura, como exercia sua liderança e como convivia em comunhão.

A primeira expressão que chama a atenção é o fato de que Jesus amou aqueles que o seguiam até o fim. Trata-se de uma forma de dizer que Jesus amou seus discípulos de maneira completa, até as últimas consequências e em todo tempo. Assim é o amor do Senhor por todos nós. Sem medidas. E é tudo o que nós precisamos para viver no mundo.

Nessa passagem, que começa com o relato do gesto de Jesus em lavar os pés dos seus discípulos, podemos perceber que Jesus propõe uma mudança radical de atitude. Trata-se de um ponto de virada no ministério apostólico. Os discípulos de Jesus deveriam compreender que dali para frente teriam que dar conta de si mesmos, de seguirem adiante colocando em prática tudo o que haviam aprendido.

Era o momento de assumir o sentido de missão para a vida de cada um deles, por isso precisavam compreender o sentido do amor, tanto pelo fato de teriam sido amados de forma incondicional quanto pelo compromisso de amar sem medida. Viver a fé em Jesus é viver em amor. Seguir Jesus é colocar o amor em prática. Ser cristão é, acima de tudo, amar.

O capítulo 13 de João, portanto, é crucial para essa descoberta de o quanto somos amados e de quais implicações esse amor tem para a nossa vida. Jesus nos amou até o fim para que pudéssemos aprender o sentido de amar. Somente dessa forma conseguiremos colocar em prática o mandamento do amor.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Faça a vida valer a pena: Invista mais em você / Make life worth living: Invest more in yourself / Haga que la vida valga la pena: invierta más en usted mismo

Vale a pena viver. E a maior prova disso é que lutamos para chegar até aqui. Não importa como, mas eu e você nos esforçamos muito para viver do jeito que vivemos. E, se você lê este livro, fomos bem-sucedidos nesse empreendimento. “Valeu a pena?”, pergunta o poeta. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, responde o poeta.

Uma vida que vale a pena é aquela em que a gente consegue se tornar o que é. É a vida em que uma pessoa se torna capaz de viver de forma concreta a realidade de ser quem é, de assumir-se e de reconhecer-se. A vida que vale a pena não é medida pelo que se tem, mas pelo que se é. Para ser o que somos custou muito esforço, muita dor, muito sonho, muita esperança, muita desilusão, muito erro, muita queda, muita paciência, muita perseverança e muito aprendizado.

O que quero propor a você neste livro é uma reorientação da vida daqui pra frente. Reorientar a vida implica rever valores, hábitos e costumes, exige novos sentidos, requer novas atitudes. Não que você tenha feito errado antes, mas significa que você pode dar uma chance a si mesmo de tentar de outro modo.

Muitos têm tentado dizer o que é uma vida que vale a pena ser vivida, mas poucos têm procurado oferecer diretrizes seguras para uma vida realmente relevante e significativa. Entretanto, só vamos saber se todo o esforço aplicado foi eficaz no final da jornada.

(Trecho extraído da apresentação do e-book Faça a vida valer a pena: invista mais em você. Disponível no site da Amazon: https://www.amazon.com.br/dp/B014GSKFCO).

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Inundações no Rio Grande do Sul acendem o sinal vermelho da crise ambiental / Floods in southern Brazil turn on the red flag of the environmental crisis / Inundaciones en el sur de Brasil encienden la bandera roja de la crisis ambiental

 

As chuvas que caíram sobre o Estado do Rio Grande do Sul, na região Sul do Brasil, na última semana provocaram uma catástrofe ambiental sem precedentes. Dos 497 municípios, 336 se encontram em estado de calamidade. O Estado inteiro registrou inundações, sendo que em grande parte foram confirmadas inundações severas.

A explicação científica desse fenômeno climático remete à crise ambiental que afeta a vida no planeta com impactos expressivos sobre o clima e, consequentemente, ao meio ambiente. já há algumas décadas, estudiosos vêm alertando sobre os riscos e as consequências da exploração da natureza, medindo aquilo que poderia ser considerado como ponto de não retorno. Ou seja, o limite em que a vida no planeta encontra-se em situação de colapso.

O sinal vermelho acendeu para toda a humanidade. É preciso parar para socorrer as vítimas e reparar os danos. A mentalidade consumista, acumuladora e gananciosa não comporta mais diante do que se viu – e ainda se vê. O Rio Grande do Sul é um Estado forte, de economia pujante, responsável por grande parte da produção nacional de grãos, carnes e vinhos, possui uma indústria sólida e uma atividade cultural dinâmica. Sua história é marcada por lutas para a afirmação de um povo que se orgulha de suas origens.

Essa tragédia tem culpados, e é preciso aponta-los: são todos aqueles que negaram os muitos alertas da ciência e que não tomaram as providências devidas tendo em suas mãos o poder de fazê-lo. Antes de dar nomes ao bois, é preciso socorrer as vítimas e atuar de forma justa para aliviar o sofrimento das famílias e ajuda-los a reconstruir o que perderam.

Além de acender o sinal vermelho para a crise ambiental, essa tragédia é também a prova inequívoca de que é preciso praticar a Justiça Climática e Ambiental. O objetivo deve ser não só amparar os que foram atingidos pelos temporais, mas também reverter o cenário de crise que ameaça a vida. Trata-se de se levantar um conjunto de ações que envolvam tanto os governos como também o setor produtivo e a sociedade civil em geral para parar de vez os desmatamentos e as agressões aos biomas que ainda restam.

Quando falamos em Justiça climática, nos referimos ao o modo como os movimentos sociais têm abordado os problemas decorrentes das mudanças climáticas vividas nos últimos tempos. Eles vão além do aquecimento global. A alteração do clima na natureza não afeta só o meio ambiente, mas todas as relações sociais, econômicas e políticas da humanidade.

Para tratar da Justiça climática, é preciso levar em conta princípios de Justiça Social, ética e responsabilidade histórica pelas causas e feitos das mudanças climáticas. O apelo da Justiça climática é para que haja igualdade de direito para com os grupos que são desproporcionalmente afetados, geralmente que se encontram entre as camadas mais pobres da sociedade e pessoas vulneráveis, como mulheres, negros, idosos e crianças.

As mudanças climáticas são, de fato, uma realidade global, mas suas consequências afetam as populações de forma desigual. As pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas são aquelas que menos participam das causas do aquecimento global.

E quando falamos de Justiça ambiental, no referimos à desigualdade da distribuição dos riscos ambientais. A ideia é reunir esforços coletivos para que nenhum grupo social tenha que sofrer consequências da degradação ambiental mais do que o outro.

Ao longo do tempo, as grandes potências mundiais destinaram suas indústrias mais poluentes para países em desenvolvimento enquanto a administração se localizava nas sedes das grandes cidades dos países mais desenvolvidos. O que a Justiça ambiental deseja é que haja tratamento justo para que todos e todas tenham acesso a uma vida mais saudável.

Quando escrevo esse texto, novas chuvas são previstas para esta semana, mas ainda tem gente ilhada, muitas ainda sobre os telhados de suas casas, esperando serem resgatadas. A cidade de Porto Alegre, capital do Estado, continua inundada, numa cena jamais imaginada. Para nós que estamos longe, só resta apelar pelo socorro divino.

Foto: Renan Matos/Reuters, publicado pelo Uol.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Etarismo e Decolonialidade: o que a Igreja tem a ver com isso / Ageism and Decoloniality: what does the Church have to do with it / Edadismo y decolonialidad: qué tiene que ver la Iglesia con esto

 

A OMS define etarismo, também conhecido pelo termo idadismo, como o conjunto de práticas orientadas por estereótipos, preconceitos e discriminação direcionados a pessoas por questões de idade. A idade é uma das primeiras coisas que percebemos no outro, quando o identificamos como pessoa. Você certamente já ouviu essa frase: “você não tem mais idade para isso”.

No início de março de 2023, viralizou nas redes sociais no Brasil um vídeo em que jovens universitárias criticavam a presença de uma aluna de 40 anos de idade em sua turma. “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”, disse uma delas. Recentemente soube de uma professora universitária que foi demitida aos 50 anos, mas que não consegue mais se inserir no mercado de trabalho por que está velha demais para conseguir um emprego mas nova demais para se aposentar (CAMPEZZI, 2023).

Esse tipo de preconceito está presente nos meios sociais mais do que podemos imaginar. E a igreja não fica de fora desse tipo de prática. Ele pode atingir diferentes faixas etárias, mas as maiores consequências recaem sobre as pessoas mais idosas. Ele surge quando as relações entre as diferentes faixas etárias tipificam umas as outras para causar divisão, promover exclusão, provocar tratamento desigual e injustiças. “O [etarismo] se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionados às pessoas com base na idade delas” (OMS, 2021, p. 3).

Esse tipo de preconceito se apresenta como um desencadeador de riscos para a saúde física e mental, para o bem-estar e para o envelhecimento saudável. O etarismo pode ser interpessoal, quando é praticado entre dois indivíduos, como o juízo de que pessoas mais idosas não podem fazer curso superior, por exemplo, ou quando tem que ceder lugar para um idoso ou idosa no transporte público. O etarismo pode ser também autodirigido, quando vagas de emprego são negadas a pessoas com base na idade ou quando alguém sofre preconceito por iniciar um movimento por direitos relativos à sua faixa etária. O etarismo pode ser ainda institucional, quando se refere às leis, regras, normas sociais, políticas e práticas de instituições que restringem as oportunidades e prejudicam pessoas devido à idade.

Em todas as esferas da sociedade, encontramos situações que cerceiam o direito e favorecem o preconceito e discriminação contra os idosos, sobretudo nas organizações que prestam serviços de saúde e assistência aos mais velhos. Um dos problemas mais comuns em todo o mundo é o racionamento à assistência à saúde a pessoas idosas.

O relatório da OMS indica que, a cada duas pessoas, uma pratica algum tipo de violação contra os idosos, em nível mundial. Na Europa, a cada três pessoas, uma afirma ter sido vítima do etarismo. “Para pessoas idosas, o [etarismo] está associado a uma menor expectativa de vida, pior saúde física e mental, recuperação mais lenta de incapacidade e declínio cognitivo. O [etarismo] piora a qualidade de vida das pessoas idosas, aumenta seu isolamento social e sua solidão (ambos os fatores estão associados a graves problemas de saúde), restringe sua capacidade de expressar sua sexualidade e pode aumentar o risco de violência e abuso contra as pessoas idosas” (OMS, 2021, p. 4).

A origem do etarismo está intimamente relacionada ao modo como a modernidade ocidental desenvolveu as suas próprias concepções civilizatórias, voltada para o modo capitalista de produção da riqueza. Um dos conceitos afetados pela racionalidade moderna está vinculado à ideia de novo, compreendido como atual ou moderno, em contraposição ao antigo, velho ou ultrapassado.

Trata-se de uma concepção linear das relações de conhecimento, que implica uma valorização do progresso e do desenvolvimento, com o rechaço dos conceitos fundadores e da própria arqueologia dos saberes. A linearidade do conhecimento e da ciência estabelece uma certa relação de poder que influencia a compreensão das relações humanas, atribuindo ao idoso as ideias de ultrapassados e antiquados.

Essa concepção moderna e ocidental orientou as estratégias de colonização, tratando as Américas, por exemplo, como Novo Mundo. O problema é que nesse “novo mundo” já existia um conjunto de práticas e saberes com base na valorização da ancestralidade.

Um exemplo disso vem dos indígenas Kadiwéu, que habitam em Porto Murtinho, na fronteira entre Brasil e Paraguai. A principal habilidade deles é a arte da pintura corporal e da cerâmica que encantou vários exploradores e pesquisadores, como o italiano Guido Boggiani, no final do século XIX e o antropólogo Claude Lévi-Strauss na década de 1930. O também antropólogo Darcy Ribeiro, que viveu entre os Kadiwéu na década de 1940, classificava a variedade de estilos dos desenhos abstratos e os padrões de pintura de rosto e de corpo dos Kadiwéu como “a mais elaborada manifestação artística dos índios americanos”. Os desenhos são feitos até hoje pelas mulheres, especialmente as mais velhas (DURAN, 2015).

A ancestralidade dos povos originários da América Latina se aproxima muito da perspectiva defendida nas Escrituras sobre o lugar do idoso na cultura hebraica. Essas afirmações podem ser encontradas tanto na Torah quanto na tradição poética dos Salmos e na literatura sapiencial.

A concepção cristã é herdeira dessa tradição hebraico-judaica. Ela está presente em formas de organização eclesial, como o tratamento dado aos presbíteros, que quer dizer anciãos, e também ao conselho ao cuidado com os mais idosos. Conselhos de Paulo a pastores sobre o tratamento com os idosos: Não repreenda asperamente ao homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai [...] as mulheres idosas, como a mães [...] (1 Timóteo 5.1-2). Ensine os homens mais velhos a serem sóbrios, dignos de respeito, sensatos, e sadios na fé, no amor e na perseverança. Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver [...] (Tito 2.2-3).

A igreja é desafiada a agir em favor da construção de um mundo para todas as idades. Veja algumas ações eclesiais que podem contribuir para uma consciência maior a respeito do lugar dos idosos e das idosas;

a) Conscientizar a comunidade a respeito do direito do idoso. O Brasil criou, em 2003, o Estatuto da Pessoa Idosa, que é a Lei n° 10.741.

b) Criar espaços para que idosos desenvolvam atividades comunitárias que visem solução de problemas comuns.

c) Desenvolver ações de acolhimento para idosos e idosas desamparados.

d) Desenvolver uma hermenêutica bíblica que prepare a igreja para uma práxis em que todos e todas desfrutem de uma velhice saudável.

Referências:

CAMPEZZI, Heitor. Vídeo de universitárias de SP debochando de colega por ter '40 anos' viraliza e gera indignação. G1, 11 Mar 2023. Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2023/03/11/video-de-universitarias-de-sp-debochando-de-colega-por-ter-40-anos-viraliza-e-gera-indignacao.ghtml > Acesso em 23 Mar 2023.

DURAN, Maria Raquel da Cruz. Leituras antropológicas sobre a arte kadiwéu. Cadernos de Campo. n 24. p.43-70. São Paulo, 2015.

NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Etarismo: o que é e como isso afeta a vida das pessoas? In: Revista National Geographic Brasil. 15 mar. 2023. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/03/etarismo-o-que-e-e-como-isso-afeta-a-vida-das-pessoas> Acesso em 23 mar 2023.

OMS. Relatório mundial sobre o idadismo: resumo executivo. 2021. Disponível em: <https://www.who.int/pt/publications/i/item/9789240020504> Acesso em 23 mar 2023.

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