
A solidão é um estado emocional provocado pelo sentimento de ausência e abandono, relacionado a uma diversidade de fatores que envolvem valores, experiências e sentimentos que a pessoa carrega consigo, que acaba por orientar a sua percepção acerca do seu mundo exterior. É diferente do que se pode chamar de “solitude”, a experiência de silêncio e reclusão, muitas vezes encontrada na vida religiosa ou nas atividades criativas. Muitas das grandes realizações humanas – na poesia, nas artes, nas ciências – aconteceram em meio a momentos de quietude e isolamento.
A solidão é a principal causa de infelicidade para cerca de 20% das pessoas em geral. Uma em cada cinco pessoas sofre de solidão. Isso pode ser a causa de muitos problemas de saúde, como hipertensão, problemas cardiológicos, obesidade e baixa imunidade. A solidão pode provocar também um vazio existencial, em que a vida não faz mais sentido. O fato é que passamos 80% de nossa vida em companhia de pessoas. Fazer parte de um grupo social, ter amigos, viver em comunidade é uma necessidade humana, de tal modo que a solidão se constitui em um alerta para que evitemos o isolamento. Mesmo assim, muitos estão solitários em suas próprias casas ou até cercados por uma multidão de pessoas no trabalho, na escola, nas ruas, e até na igreja. O que provoca a solidão são mecanismos de defesa relacionados a uma atitude narcisista, à projeção que nos leva a remeter aquilo que não desejamos para o outro e até mesmo à crença de que precisamos de alguém para nos completar. Ou seja, tem mais a ver com a nossa personalidade do que com a forma como somos tratados.
O melhor remédio contra a solidão é a comunhão. A origem da palavra vem do latim communio, aqueles que têm o mesmo munus, a mesma tarefa, a mesma responsabilidade, o mesmo empenho de cuidar uns dos outros. Os primeiros seguidores de Jesus levaram a comunhão tão a sério que todos tinham tudo em comum. O Novo Testamento, ao descrever a comunhão dos primeiros cristãos, usa a palavra grega koinonia, que se refere a um relacionamento mútuo, que pode ser entendido como companheirismo.
Dietrich Bonhoeffer lembra, no seu livro Vida em comunhão, alguns aspectos que envolvem a relação entre comunhão e solidão. Para ele, é na solidão que se descobre o valor da comunhão. E alerta: “Àquele que não consegue ficar sozinho, que tome cuidado com a comunidade... Àquele que não está na comunidade, que tome cuidado ao ficar sozinho... Cada situação apresenta ciladas e riscos profundos. Aquele que deseja comunhão sem solitude mergulha num vazio de palavras e sentimentos e aquele que procura a solitude sem a comunhão perece no abismo da vaidade, do narcisismo e do desespero.”
Para Bonheffer, “é preciso destronar os ídolos da comunidade que criamos a partir de nossa memória ou teoria”. Toda pessoa traz consigo uma ideia bem definida de como deve ser a comunhão e se empenha por colocá-la em prática. Porém, para que a comunhão autêntica seja realizada, é preciso deixar de lado todo tipo de ideia pré-concebida e toda a fantasia para dar lugar ao princípio cristão da comunhão. Ele diz ainda em uma das cartas da prisão, ao experimentar o abandono e o desprezo dos campos de concentração: “Corre-se o perigo de esquecer que a comunhão dos irmãos crentes é um presente gracioso de Deus, presente esse que nos pode ser tirado a qualquer hora.”
Num tempo em que as pessoas se tornaram indiferentes à mensagem cristã, a comunhão possui uma riqueza de possibilidades que não podem ser desprezadas. Jesus entendeu que o melhor espaço para se viver em comunhão é a comunidade daqueles que vivenciam na prática os seus ensinos. Esse é o conceito bíblico de ser igreja. A vida em comunhão remete à noção de comunidade. A igreja é o lugar em que as pessoas têm o compromisso de se empenhar para viver em comunhão, com todos os riscos que isso implica. Nem sempre é assim. Afinal, não existe a igreja perfeita. Estamos todos em processo de construção. Rick Warren afirmou: “Quanto mais rápido renunciarmos à ilusão de que uma igreja deve ser perfeita para que a amemos, mais rápido deixaremos de fingir e admitiremos que somos todos imperfeitos e precisamos da graça. Esse é o início da verdadeira comunidade! Toda igreja deveria afixar uma placa: ‘Pessoas perfeitas não precisam entrar. Este lugar é somente para os que admitem ser pecadores...’”
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