segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Natal: festa de libertação e de resistência / Christmas: a celebration of liberation and resistance / Navidad: fiesta de la liberación y la resistencia

Jesus nasceu em um contexto de libertação e de resistência. A região da Palestina estava sob o domínio romano, mas enfrentava uma sequência de mais de seis séculos de opressão entre o período do cativeiro e o governo de grandes impérios. Assírios, babilônicos, selêucidas, ptolomeus e romanos se sucederam no controle da região.

A data escolhida para comemorar o nascimento de Jesus não foi aleatória. A explicação com a proximidade do solstício de inverno é insuficiente para comemorar um evento tão expressivo como a encarnação de Deus em Cristo. Há uma tradição judaica desse período que oferece mais significados para se compreender a intervenção divina na história de seu povo.

Havia a festa das luzes, ou festa da dedicação, que foi criada durante o período do domínio selêucida, no século II AEC. Seu nome em hebraico é Hanukkah. Ela não consta da Torah como as demais festas judaicas.

Ela aparece apenas no Novo Testamento, no evangelho de João, quando Jesus foi a Jerusalém. Nessa ocasião, ele declarou que era o Filho de Deus e possuía uma íntima sintonia com o Pai. Ele declarou: Eu e o Pai somos um” (João 10.30).

João afirma que naquela ocasiãoCelebrava-se a festa da Dedicação, em Jerusalém. Era inverno” (João 10.22). O nome “festa das luzes” se deve ao seu principal símbolo: um candelabro com nove pontas, sendo a do meio a mais elevada, que é chamado de hanukkah ou chanukiá. A festa acontece até os dias atuais no mês de dezembro. Em alguns anos, coincide com a data do Natal cristão, como aconteceu neste ano de 2024.

A festa serve para lembrar a libertação de Jerusalém, no tempo dos Macabeus, das mãos de Antíoco Epifânio IV, um tirano governante grego (Selêucida) que dominou a Síria por volta dos anos 175 a 164 AEC e controlou a Judeia de forma cruel, proibindo as práticas religiosas judaicas. Em uma de suas ações, Antíoco Epifânio IV ordenou a construção de um altar a Zeus no lugar do templo, exigindo que se fizesse sacrifícios com animais considerados imundos pelos judeus.

Um sacerdote judeu chamado Matatias se negou a seguir as ordens do tirano e organizou uma rebelião juntamente com seus cinco filhos. Um deles era chamado Judas e tinha o apelido de Macabeu, que quer dizer martelo. Matatias veio a falecer e Judas deu continuidade à luta liderando a revolta dos judeus de forma vitoriosa e libertando Jerusalém do domínio da tirania.

Uma das ações dos Macabeus foi reconstruir o altar do templo. Quando de sua inauguração, as luzes do candelabro que ficava no pátio do templo, que é chamado de Menorah, foram acesas. Há uma tradição que conta que os soldados só tinham óleo suficiente para acender o Menorah por uma noite. Entretanto, as luzes permaneceram acesas por oito noites inteiras.

Por essa razão, a festa é celebrada por oito noites. Cada família acende uma vela do candelabro por noite, sendo que a principal é usada para acender as outras. Essa história é registrada no livro deuterocanônico de Macabeus e pelo historiador Flávio Josefo. Tratava-se, portanto, da festa da libertação e da resistência contra a maldade.

Jesus usou a ocasião da Festa do Hanukkah para afirmar a sua messianidade e declarar o tempo da salvação de toda forma de opressão. Jesus se apresentou como o Filho de Deus. Por causa disso, os judeus quiseram apedrejá-lo acusando-o de blasfêmia. Apesar de Jesus ter realizado grandes obras ente eles, uma única acusação era suficiente para condenar toda a vida de uma pessoa.

Jesus fez um apelo comovente: Se eu não realizo as obras do meu Pai, não creiam em mim. Mas se as realizo, mesmo que não creiam em mim, creiam nas obras, para que possam saber e entender que o Pai está em mim, e eu no Pai” (João 10.37-38).

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Psicanálise e Clínica Pastoral: caminhos para o cuidado da alma / Psychoanalysis and Pastoral Clinic: paths to care for the soul / Psicoanálisis y Clínica Pastoral: caminos para el cuidado del alma

É possível uma aproximação entre a Psicanálise e o Aconselhamento Pastoral? Para muitos, a Psicanálise e o Aconselhamento Pastoral são campos completamente distintos. A bem da verdade, a abordagem psicanalítica nasceu a partir de um contexto arreligioso e leigo. Entretanto, não podemos negar a relevância da ação pastoral em meio aos conflitos vividos pelas pessoas, sobretudo nos dias atuais.

Ao longo do tempo, a ação pastoral foi adquirindo novos contornos. Desde a antiguidade clássica, aquilo que hoje chamamos de aconselhamento pastoral esteve ligado aos processos terapêuticos que os antigos gregos já vinham elaborando. A filosofia greco-romana, especialmente os estoicos, desenvolveram práticas e concepções que visavam o cuidado com a espiritualidade e com a vida saudável.

Os cristãos se apropriaram de muitas dessas práticas que resultaram nos ideais da vida regrada desde o século II. Essa apropriação formou o que Michel Foucault chamou de poder pastoral, que tinha a ver com uma certa habilidade do guia de almas para fazer com que os iniciados fossem capazes de falar a verdade sobre si e para confessarem as formas com que a maldade interferia em seus pensamentos e comportamento.

Com os avanços da ciência moderna, houve um distanciamento do cuidado com a alma, reduzindo-a a uma racionalidade. No âmbito das ciências médicas, isso representou o tratamento de problemas de saúde mental a partir dos aspectos biológicos e fisiológicos, considerando os comportamentos divergentes como loucura ou alienação. A Psicanálise representou um esforço na psiquiatria e na psicologia para trazer de volta a preocupação com o campo psíquico, agora não mais como um exercício espiritual, mas como uma ciência.

O tempo em que nós vivemos demanda uma abordagem da condição humana em todas as dimensões. Isso inclui também a espiritualidade e os aspectos ligados à vivência em uma comunidade de fé. Trazer a clínica pastoral para mais próximo da abordagem psicanalítica é um caminho necessário para cuidar de pessoas que sofrem os males desse tempo. Angústia, ansiedade, fobias, pânico, estresse e depressão são enfermidades que assolam cada vez mais pessoas.

As comunidades de fé também estão repletas de pessoas que sofrem com essas enfermidades, muitas vezes em silêncio por causa de preconceitos e ignorância a respeito da própria condição humana. Por causa dessa demanda que foi pensado o curso de Psicanálise e Clínica Pastoral.

A Psicanálise como método psicoterapêutico pode contribuir para o trabalho da clínica pastoral, fornecendo conceitos e técnicas para que as pessoas entendam melhor o funcionamento de sua psiquê e o papel do inconsciente, dos sentimentos e das emoções no processo de tomada de decisões, na maneira de pensar e de compreender a realidade. No âmbito do aconselhamento pastoral, o emprego de princípios de psicoterapia contribui para que as pessoas tenham mais liberdade para tratar a causa dos seus sofrimentos.

A clínica pastoral é um espaço em que as pessoas podem ter um primeiro contato com os processos terapêuticos e para a busca de tratamento de sua dor. Por isso que é importante oferecer uma abordagem a respeito do aconselhamento pastoral a partir da escuta atenta, tendo em vista fazer com que os que recebem o cuidado pastoral possam se conhecer melhor, compreender a sua condição de sujeito e desenvolver-se como pessoa a partir de suas próprias potencialidades e competências.

[Saiba mais sobre o curso Psicanálise e Clínica Pastoral. As inscrições já estão abertas e o início será em 2 de novembro de 2024. É um curso de extensão, com 20 horas de duração, com aulas aos sábados. O curso visa a capacitação daqueles que atuam na área de aconselhamento pastoral. Ele não se destina a formar terapeutas, mas capacitar profissionais e lideranças que atuam como conselheiros em suas comunidades de fé. Para saber mais e fazer sua inscrição,, acesse o link: https://www.e-inscricao.com/ireniochaves/cursopsiclinpast ]

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A arte de perguntar / The art of asking / El arte de preguntar

Interrogou-o com muitas perguntas, mas Jesus não lhe deu resposta” (Lucas 23.9).

Quantas vezes você já se perguntou sobre qual é o sentido da vida, como será o futuro, quem é você ou mesmo qual é o seu valor como pessoa? Fazer perguntas é uma habilidade humana diante daquilo que não conhecemos. Jesus ouviu muitas dessas perguntas e procurou conduzir as pessoas a uma busca pelas respostas mais adequadas.

Por que perguntamos? Perguntamos quando somos confrontados diante daquilo que desconhecemos. As perguntas funcionam como chaves que abrem portas para o nosso entendimento. Só é capaz de fazer perguntas quem admite sua própria ignorância.

As perguntas estimulam o conhecimento em todos os campos de saber. A ciência só consegue avançar quando o próprio cientista reconhece que não tem conhecimento sobre um assunto. Quando as perguntas são feitas de forma adequada, elas podem gerar diversas possibilidades de respostas, podem despertar novas investigações e podem promover mudanças de entendimento que parecem consolidados há muito tempo.

O ato de perguntar ou de ser perguntado dá origem a novas descobertas , nos mobiliza a construir novos conceitos e aponta novas formas de compreensão da realidade. As perguntas têm o poder de despertar novos sentidos. Se nós não formos capazes de indagar a respeito dos problemas que enfrentamos, podemos nos tornar pessoas que se queixam de tudo sem buscar soluções.

A arte de perguntar é milenar. Os primeiros filósofos procuravam compreender os fenômenos naturais a partir da indagação sobre a causa dos próprios fenômenos. Sócrates desenvolveu um método próprio de fazer perguntas, chamado de maiêutica. Seu objetivo com isso era descobrir o que seus interlocutores tinham certeza a respeito do que sabiam. Através de um jogo de perguntas com base na ironia, Sócrates levava seus alunos e seus oponentes a novas descobertas.

Os tempos mudaram, o volume de informações aumentou e nossas demandas por conhecimento se tornaram mais urgentes. O conhecimento não está mais na capacidade de obter respostas, mas em fazer novas perguntas. Qualquer um de nós é capaz de olhar em volta e se perguntar a respeito do significado ou utilidade das coisas. As crianças descobrem isso desde cedo e começam a perguntar sobre o que é e o por quê das coisas.

Em tempos de novas tecnologias de informação e de inteligência artificial, quando alguém quer saber sobre algo, a recomendação mais fácil é: “dá um Google”. Mas a realidade é que não há ninguém que tenha uma inteligência tão extraordinária que seja capaz de resolver todos os problemas. Sempre haverá a necessidade de se fazer novas perguntas diante de novas possibilidades.

Nos evangelhos, encontramos Jesus ouvindo muitas perguntas de diversas pessoas a respeito de vários assuntos relacionados à vida. Ricos e pobres, autoridades e pessoas comuns, religiosos ou não, todos procuravam Jesus para perguntar sobre aquilo que angustia a todos nós: o sentido da vida, quem somos, para onde vamos. Jesus, porém, aproveitou essas oportunidades para desenvolver um diálogo com essas pessoas a respeito daquilo que mais as interpelavam.

Isso faz lembrar a ideia filosófica de que por traz de uma pergunta há sempre outras que não são ditas, mas que estão ali implícitas. Houve questões, entretanto, que não foram respondidas, como no caso de Herodes antes da crucificação. Houve outras que Jesus devolveu com um chamado à autorreflexão, como no caso da mulher pega em adultério. Houve também perguntas a respeito da sua pessoa, como a que foi feita pelos discípulos de João Batista, que só a observação dos fatos poderia oferecer a melhor resposta. E ainda houve as que Jesus aproveitou a ocasião para passar grandes ensinamentos, como no caso da cura do cego de nascença.

Se a fé nasce da busca de entendimento, como afirmou Anselmo de Cantuária, ela se faz através de muitas perguntas. Para ele, a busca de Deus é permeada de indagações: onde podemos encontrá-lo? Por que não o vemos? De que forma podemos buscá-lo? São algumas das muitas perguntas que também podemos fazer hoje. A fé cristã não é passiva, mas uma inquietante atitude diante do imponderável.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Emergência Climática: Urgência para a Teologia da Criação / Climate Emergency: Urgency for the Theology of Creation / Emergencia climática: urgencia para la teología de la creación

O apelo da Carta da Terra deve inquietar toda a comunidade cristã no mundo. Trata-se de um documento escrito desde o ano de 1987 e finalmente publicado em 2000 que serve como instrumento de motivação para a construção de um mundo melhor para o planeta. Ela diz em seu preâmbulo:

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.

Não temos o direito de ficar omissos diante do último Relatório sobre o Estado do Clima, divulgado em março de 2024 pela Organização Mundial do Clima, que aponta que o ano de 2023 foi o ano mais quente nos últimos dois séculos, ultrapassando em 1,45°C a temperatura de 1860, que serve de base referencial para a medição das mudanças climáticas. Essa informação acende o alerta vermelho em todo o planeta, pois antecipa a meta prevista de 1,5°C prevista pelo acordo de Paris para 2050.

Isso me leva a pensar que talvez sejamos uma das últimas gerações a desfrutar da vida nas condições atuais. A penúltima, para ser mais exato, segundo Mário Prata, escritor e dramaturgo brasileiro. Em uma crônica publicada em 21 de setembro de 2024 no jornal A Folha de São Paulo, Mário Prata analisou as projeções para o aumento da temperatura do planeta até o fim do século XXI.

Segundo o principal climatologista do Brasil Carlos Afonso Nobre, em recente artigo publicado na Internet, se ultrapassar os 2,5°C de temperatura até o final do século, o Pantanal e a Amazônia desaparecerão, a camada polar do Ártico se derreterá e uma grande quantidade de gases do efeito estufa será emitida, inviabilizando a vida nos grandes biomas. Se não formos capazes de refrear a atual escalada do aquecimento global, o mundo entrará em colapso. O artigo foi publicado em 13 de setembro de 2024, no canal Ecoa, do portal de notícias Uol.

O sentido de urgência também deve chegar à Teologia, a fim de apresentar caminhos para ação cristã no mundo em cooperação com as muitas outras linhas de ação para se tentar reverter essa tendência. Quando Paulo diz que a criação geme, isso inclui o nosso próprio gemido e também o gemido do Espírito Santo que nos interpela a nos tornarmos agentes de transformação da mentalidade do mundo com a mensagem do evangelho. Como cristãos e cristãs, somos aqueles que podem fazer algo nesse sentido, sensíveis à voz do Espírito e às muitas vozes da Criação e das principais vítimas das mudanças climáticas.

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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Exercícios para uma teologia da criação / Exercises for a theology of creation / Ejercicios para una teología de la creación

As imagens que têm ocupado os noticiários nesses últimos anos são evidências de que alguma coisa não vai bem com a natureza. A criação dá sinais evidentes de que não está bem. A criação está enferma e a causa somos nós, seres humanos. Fiz uma breve lista de calamidades desconexas: incêndios nos biomas mais úmidos do planeta; excesso de calor nas regiões em que predomina o clima frio; anúncio de que o Oceano Pacífico já apresenta marcas de elevação que comprometem a existência de alguns territórios ocupados por pessoas.

A criação sofre por causa de nossas ações egoístas, consumistas e despreocupadas com a sustentabilidade. Estamos literalmente devorando o nosso planeta. Chegamos ao ponto de não retorno, em que a natureza não consegue mais repor aquilo que dela tiramos para dar conta de nossa necessidade de consumo.

A teologia como forma de saber orientada para a reflexão e para a construção de esperanças não pode ficar de fora do diálogo necessário para se encontrar saídas para o cuidado da vida no planeta. Esse é o tempo em que se faz necessário emergir uma teologia da criação que ouse apontar para toda a humanidade os caminhos para uma ação consciente como cooperadores de Deus no cuidado com a natureza.

Elementos para uma teologia da criação para esse tempo:

a) Uma teologia da criação que dê ênfase à natureza como dádiva divina, e não como recurso a ser explorado.

b) Uma teologia da criação que nos leve a sofrer, a prantear e a lutar por causa de nossas próprias ações que destroem a natureza.

c) Uma teologia da criação que nos aponte a esperança de um futuro melhor.

d) Uma teologia da criação que nos motive a celebrar ao Deus criador com nossas ações como primícias da esperança.

e) Uma teologia que nos mobilize a trabalhar juntos e unidos à Criação pela construção de um novo tempo e de uma nova mentalidade.

f) Uma teologia da criação que entenda a origem da natureza em diálogo com a ciência como um mistério a ser desvendado.

g) Uma teologia da criação que aponte novos horizontes para a vida no planeta na perspectiva da consumação do Reino de Deus.

Os subsídios para a reflexão teológica a respeito do cuidado humano com a criação emergem das Escrituras. Em Romanos 8.19-25, Paulo apresenta um brevíssimo tratado de teologia da criação em que estão apontados os caminhos para uma reflexão mais profunda e transformadora.

Paulo apresentou nessa passagem da carta ao Romanos um retrato da natureza como alguém que geme com dores de parto. Diante desse estado de “ardente expectativa”, Paulo declara que a esperança de libertação para toda a criação é a atitude daqueles e daquelas que acolhem o convite amoroso de Deus para se tornarem seus filhos.

A redenção de toda a criação só pode vir da mudança de atitude de pessoas que restauram em sua própria vida a condição primeira de cuidadores da criação. Fomos criados para viver em harmonia com a natureza. Homens e natureza formam a totalidade da criação, que existem para se cuidarem mutuamente. É uma pretensão acharmos que podemos salvar o planeta, mas é sinal de esperança crermos que podemos experimentar em nós uma conversão ecológica a fim de restaurarmos nossa relação cósmica como pertencentes à grande família da criação.

Espera-se que filhos de Deus sejam capazes de mudar. Mudar a sua mentalidade de consumo, a maneira como descartam seus resíduos, a forma com que colocam em prática a estratégia de reusar, reciclar e reutilizar, o jeito de compartilhar seus bens e recursos, de ser solidários, de superar o individualismo e o egoísmo.

Esse é o papel dessa geração de filhos de Deus, a nossa geração. Temos um legado para deixar para as gerações futuras a respeito do que fizemos com a natureza, com o mundo que deixamos para nossos netos. É um compromisso que envolve responsabilidade ética mas também o exercício da fé no Deus que criou todas as coisas.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Como obter o máximo de seu potencial? / How to get the most out of your potential? / ¿Cómo aprovechar al máximo tu potencial?

Como pessoas comuns podem obter o máximo de seu potencial?

Precisamos falar sobre como você pode realizar mais e melhor.

Como realizar coisas extraordinárias mesmo sendo pessoas simples? Essa é uma pergunta que muitos têm feito e, por causa dela, são levados a acreditar que existe em algum lugar alguma fórmula mágica ou algum plano infalível para realizar grandes coisas.

Nesse aspecto, você pode ser alguém que faz as coisas acontecerem, ou ser aquele que apenas assiste as coisas acontecerem ou ainda ser quem não faz a menor ideia do que está acontecendo.

O fato é que todos nós possuímos duas características que nos ajudam em nossa capacidade de realização: uma é a faculdade de desenvolver habilidades e competências; outra é o estado de insatisfação que nos leva a querer sempre mais e melhor. Quando essas duas características estão intencionalmente inter-relacionadas, promovem o que podemos chamar de sucesso.

Isso tem a ver com a maneira como você investe em seu próprio potencial.

Entretanto, somos induzidos em todo tempo e acreditar que pessoas de sucesso ou pessoas bem-sucedidas são portadoras de virtudes especiais por causa de sua origem, talento ou poder. E isso não é de agora. Vem desde os tempos da antiguidade grega.

Você tem um jeito de ser. Isso tem a ver com suas origens, seu temperamento e suas intencionalidades. Isso influencia seu modo de se expressar, de se relacionar, de se organizar e de interagir.

Portanto, descubra quem você é. E o primeiro passo para se descobrir é abrir mão de quem você acha que é ou de quem disseram que você é. Isso é conhecer a si mesmo.

O conhecimento de si, já diziam os gregos antigos, é o princípio para conhecer o universo.

Descobrir quem é ajuda a identificar aquilo em que você é capaz, seus limites e suas competências. Com isso, você pode oferecer o melhor de si. Dar o seu melhor em tudo o que faz. Pessoas que fazem o melhor de que são capazes sempre fazem mais, por isso nunca se sentem inúteis e nunca estão ociosas.

Essas ideias fazem parte do meu e-book Faça a vida valer a pena: invista mais em você, um livro que vai te ajudar a fazer investimentos da forma correta e naquilo que realmente importa.

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sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Igreja humana, demasiadamente humana / Human church, all too human / Iglesia humana, demasiado humana

“[...] mas Cristo é tudo e está em todos” (Colossenses 3.11).

A igreja é uma comunidade de seres humanos que têm em comum a disposição de serem seguidores dos ensinos de Jesus de Nazaré, que se congregam em torno do seu nome e assumem o compromisso de levarem adiante a causa do Reino de Deus no poder do Espírito Santo.

É imprescindível que a Igreja que se afirma como uma comunidade de seguidores de Jesus se pareça mais com ele do que com a mentalidade que rege a contemporaneidade, que é individualista, gananciosa e competidora.

Há três fatos que estão relacionados à igreja. Primeiro, ela é uma comunhão de pessoas que atenderam ao convite amoroso de Deus. Segundo, os participantes da igreja têm a tarefa de encarnar a mensagem de Jesus na vida. E terceiro, a vida de comunhão da Igreja é uma tarefa inacabada, que precisa sempre ser renovada, revitalizada e atualizada. Dito de outro modo, a igreja deve assumir a sua própriaco0ndição humana. Quando assume a sua humanidade, ela também se compromete com aquilo que promove a dignidade da pessoa humana.

Jesus declarou que tinha muitas pessoas que precisam ser alcançadas, mas que ainda não tinham sido alcançadas. “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (João 10.16). Em uma igreja mais humana, todos são tratados como filhos de Deus iguais.

A igreja se torna mais humana a medida em que se assemelha mais ao caráter de Cristo. O cerne da mensagem do evangelho é que Jesus é o enviado de Deus para assumir toda a nossa humanidade em sua encarnação, vida e morte. Ele se fez o humano demasiadamente humano.

Como afirmou Irineu de Lyon, no século II, Jesus assumiu toda a condição humana a fim de restaurar em sua vida toda a nossa humanidade. “O que não foi assumido pelo Verbo não foi redimido”, disse Irineu. Ele se fez como um de nós para que sejamos como ele é.

Paulo, em sua Carta aos Colossenses, relembra que a humanidade de Jesus foi o gesto divino para nos redimir de tudo aquilo que nos desumaniza. “Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação (Colossenses 1.22). A obra da redenção implica a restauração do que há de mais humano em nós.

Paulo tinha todos os motivos para compreender de forma prática a humanidade de Jesus. Ele estava preso em Roma por causa de sua fé e serviço a Cristo. Ele conheceu de perto as formas da maldade humana durante sua última viagem de Jerusalém a Roma como um prisioneiro.

Agora ele podia testificar com sua própria vida que não há nada mais importante para a fé do que trabalhar em favor da dignidade da vida em todas as suas formas.

A igreja de Colossos não era fruto direto do trabalho missionário de Paulo e provavelmente não fazia parte do seu círculo direto de cuidado e de relacionamento. No entanto, ele escreve uma carta por causa de Epafras, provavelmente um dos fundadores daquela comunidade de fé (Colossenses 1.7). Ele também havia se tornado um cooperador no cuidado com a igreja e um companheiro de Paulo em sua prisão (Filemom 1.23).

A atuação de Paulo em favor dos colossenses incluía outras igrejas da região como a de Laodiceia (Colossenses 2.1) e Hierápolis (Colossenses 4.13). Por essa razão, a carta servia para ambas as igrejas. Paulo fala ainda de uma carta aos laodicenses, que se perdeu.

Através da Carta aos Colossenses podemos fazer uma leitura de nossas próprias ações como seguidores de Jesus que vivem num mundo marcado por tantas formas que nos desumanizam. O objetivo é fazer com que nos tornemos participantes ativos de uma comunidade de pessoas que assumem o compromisso de se tornaram mais humanos, demasiadamente humanos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Quatro áreas que todas as pessoas deveriam investir mais / Four areas everyone should invest more in / Cuatro áreas en las que todos deberían invertir más

Como investir de maneira correta, sustentável e eficaz naquilo que mais importa para sua vida?

Quando o assunto é sucesso na carreira e na vida, o que vale é o quanto investimos em nós mesmos. Por essa razão, todas as pessoas deveriam investir em quatro áreas indispensáveis para desfrutar o melhor dessa vida.

Desenvolvimento pessoal tem a ver como nos tornamos pessoas melhores independente da quantidade de recursos que dispomos. Pessoas bem-sucedidas não são aquelas que mais têm, mas as que mais se sentem realizadas com a vida que desfrutam ao lado daqueles que amam.

 Isso tem a ver com a maneira como você desenvolve uma compreensão de si, como você encara as circunstâncias a sua volta, como você lida com os recursos de que dispõe e como você exerce influência nas pessoas ao seu redor.

Essas são as quatro áreas principais de investimento da vida: a primeira é o cuidado de si, o modo como você cuida da sua própria vida; a segunda é o conhecimento sobre o mundo, a realidade a sua volta, o contexto em que você está inserido; a terceira é a maneira como você usa os recursos de que dispõe, como você aplica o seu dinheiro; e a quarta é a maneira como as pessoas te veem, a sua reputação.

Estas áreas estão relacionadas ao que chamo de desenvolvimento pessoal estratégico: um conjunto de atitudes e modos de compreender a vida que visa proporcionar situações de bem-estar e de sucesso. É preciso dar atenção a esses aspectos com muito mais cuidado visto que vivemos um tempo em que tais atitudes de modos de compreensão estão atravessadas por influências ideológicas que podem desviar você de seu foco principal.

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quinta-feira, 11 de julho de 2024

Formas de amar: O amor é uma expressão plural / Ways of loving: Love is a plural expression / Formas de amar: El amor es una expresión plural

 

O amor é a marca distintiva da fé cristã. É impossível imaginar um cristão que não seja capaz de amar. O amor é essa força que nos aproxima uns dos outros e faz com que possamos viver em comunidade.

A Bíblia aponta gestos e atitudes que podem ser colocados em prática que fazem com que possamos nos aproximar uns dos outros, criando uma realidade vivencial em que todos e todas possam se sentir acolhidos e amados.

Jesus deixou seu mandamento de amor que é válido para todos os seres humanos, não só para os seguidores de Jesus. O cristão tem o dever de amar, porém essa é uma atitude que faz falta para toda a humanidade. Uma das críticas mais fortes contra a igreja nos dias atuais é que ela fala tanto do amor, mas pouco pratica.

Para que possamos colocar o amor em prática, precisamos ir além das palavras, transformando o amor em uma atitude. Que atitudes podem evidenciar o amor? O Novo Testamento possui quatro palavras que descrevem práticas que demonstram que de fato a gente ama. São atitudes que só podem ser realizadas se houver amor.

As palavras são: comunhão, uns aos outros, compaixão e fraternidade. São quatro atividades que cristãos devem desenvolver como formas de expressar o amor. São práticas que produzem laços fortes de unidade e de aproximação uns dos outros.

Essas expressões trazem consigo a ideia de que existem várias formas de amar, de que toda forma de demonstrar amor é válida. Existem outras práticas que também demonstram o amor de forma prática, como a solidariedade, a generosidade, o cuidado com a criação, a disposição de servir, a defesa da justiça, a promoção da paz e até a democracia.

O amor é uma atitude plural, que comporta diferentes maneiras de ser demonstrado de forma prática. Ele não pode ser formatado em um conjunto de regras e de obrigações. Por isso que a melhor forma de demonstrar amor é através dos gestos e atitudes. Pessoas que amam de fato são conhecidas por seu compromisso de caminhar em direção ao outro.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Um amor sem medida / A love without measure / Un amor sin medida

Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (João 13.1).

Jesus é apresentado nos evangelhos como a maior expressão do amor divino por toda humanidade. Somente alguém com tanto amor gastaria seu tempo para salvar gente como a gente. O Evangelho de João, principalmente, está cheio de referências desse cuidado amoroso de Deus através de Jesus Cristo.

Nos capítulo 13 a 17 de João encontramos o relato de uma ação de Jesus através da qual ele procura demonstrar como é esse amor sem igual, incompreensível ao nosso modo de entender. João registra a última reunião de Jesus com seus discípulos antes de ser crucificado. Era a época da Páscoa. Jesus participou de um banquete (capítulo 13), fez seu discurso de despedida (capítulos 15 e 16) e intercedeu em oração por eles (capítulo 17) antes de ser preso, condenado e crucificado.

No capítulo 13, podemos tomar parte da intimidade do colégio apostólico, ter uma ideia do modo como Jesus demonstrava afeto e atenção aos seus discípulos, como agia com humildade e ternura, como exercia sua liderança e como convivia em comunhão.

A primeira expressão que chama a atenção é o fato de que Jesus amou aqueles que o seguiam até o fim. Trata-se de uma forma de dizer que Jesus amou seus discípulos de maneira completa, até as últimas consequências e em todo tempo. Assim é o amor do Senhor por todos nós. Sem medidas. E é tudo o que nós precisamos para viver no mundo.

Nessa passagem, que começa com o relato do gesto de Jesus em lavar os pés dos seus discípulos, podemos perceber que Jesus propõe uma mudança radical de atitude. Trata-se de um ponto de virada no ministério apostólico. Os discípulos de Jesus deveriam compreender que dali para frente teriam que dar conta de si mesmos, de seguirem adiante colocando em prática tudo o que haviam aprendido.

Era o momento de assumir o sentido de missão para a vida de cada um deles, por isso precisavam compreender o sentido do amor, tanto pelo fato de teriam sido amados de forma incondicional quanto pelo compromisso de amar sem medida. Viver a fé em Jesus é viver em amor. Seguir Jesus é colocar o amor em prática. Ser cristão é, acima de tudo, amar.

O capítulo 13 de João, portanto, é crucial para essa descoberta de o quanto somos amados e de quais implicações esse amor tem para a nossa vida. Jesus nos amou até o fim para que pudéssemos aprender o sentido de amar. Somente dessa forma conseguiremos colocar em prática o mandamento do amor.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Faça a vida valer a pena: Invista mais em você / Make life worth living: Invest more in yourself / Haga que la vida valga la pena: invierta más en usted mismo

Vale a pena viver. E a maior prova disso é que lutamos para chegar até aqui. Não importa como, mas eu e você nos esforçamos muito para viver do jeito que vivemos. E, se você lê este livro, fomos bem-sucedidos nesse empreendimento. “Valeu a pena?”, pergunta o poeta. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, responde o poeta.

Uma vida que vale a pena é aquela em que a gente consegue se tornar o que é. É a vida em que uma pessoa se torna capaz de viver de forma concreta a realidade de ser quem é, de assumir-se e de reconhecer-se. A vida que vale a pena não é medida pelo que se tem, mas pelo que se é. Para ser o que somos custou muito esforço, muita dor, muito sonho, muita esperança, muita desilusão, muito erro, muita queda, muita paciência, muita perseverança e muito aprendizado.

O que quero propor a você neste livro é uma reorientação da vida daqui pra frente. Reorientar a vida implica rever valores, hábitos e costumes, exige novos sentidos, requer novas atitudes. Não que você tenha feito errado antes, mas significa que você pode dar uma chance a si mesmo de tentar de outro modo.

Muitos têm tentado dizer o que é uma vida que vale a pena ser vivida, mas poucos têm procurado oferecer diretrizes seguras para uma vida realmente relevante e significativa. Entretanto, só vamos saber se todo o esforço aplicado foi eficaz no final da jornada.

(Trecho extraído da apresentação do e-book Faça a vida valer a pena: invista mais em você. Disponível no site da Amazon: https://www.amazon.com.br/dp/B014GSKFCO).

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Inundações no Rio Grande do Sul acendem o sinal vermelho da crise ambiental / Floods in southern Brazil turn on the red flag of the environmental crisis / Inundaciones en el sur de Brasil encienden la bandera roja de la crisis ambiental

 

As chuvas que caíram sobre o Estado do Rio Grande do Sul, na região Sul do Brasil, na última semana provocaram uma catástrofe ambiental sem precedentes. Dos 497 municípios, 336 se encontram em estado de calamidade. O Estado inteiro registrou inundações, sendo que em grande parte foram confirmadas inundações severas.

A explicação científica desse fenômeno climático remete à crise ambiental que afeta a vida no planeta com impactos expressivos sobre o clima e, consequentemente, ao meio ambiente. já há algumas décadas, estudiosos vêm alertando sobre os riscos e as consequências da exploração da natureza, medindo aquilo que poderia ser considerado como ponto de não retorno. Ou seja, o limite em que a vida no planeta encontra-se em situação de colapso.

O sinal vermelho acendeu para toda a humanidade. É preciso parar para socorrer as vítimas e reparar os danos. A mentalidade consumista, acumuladora e gananciosa não comporta mais diante do que se viu – e ainda se vê. O Rio Grande do Sul é um Estado forte, de economia pujante, responsável por grande parte da produção nacional de grãos, carnes e vinhos, possui uma indústria sólida e uma atividade cultural dinâmica. Sua história é marcada por lutas para a afirmação de um povo que se orgulha de suas origens.

Essa tragédia tem culpados, e é preciso aponta-los: são todos aqueles que negaram os muitos alertas da ciência e que não tomaram as providências devidas tendo em suas mãos o poder de fazê-lo. Antes de dar nomes ao bois, é preciso socorrer as vítimas e atuar de forma justa para aliviar o sofrimento das famílias e ajuda-los a reconstruir o que perderam.

Além de acender o sinal vermelho para a crise ambiental, essa tragédia é também a prova inequívoca de que é preciso praticar a Justiça Climática e Ambiental. O objetivo deve ser não só amparar os que foram atingidos pelos temporais, mas também reverter o cenário de crise que ameaça a vida. Trata-se de se levantar um conjunto de ações que envolvam tanto os governos como também o setor produtivo e a sociedade civil em geral para parar de vez os desmatamentos e as agressões aos biomas que ainda restam.

Quando falamos em Justiça climática, nos referimos ao o modo como os movimentos sociais têm abordado os problemas decorrentes das mudanças climáticas vividas nos últimos tempos. Eles vão além do aquecimento global. A alteração do clima na natureza não afeta só o meio ambiente, mas todas as relações sociais, econômicas e políticas da humanidade.

Para tratar da Justiça climática, é preciso levar em conta princípios de Justiça Social, ética e responsabilidade histórica pelas causas e feitos das mudanças climáticas. O apelo da Justiça climática é para que haja igualdade de direito para com os grupos que são desproporcionalmente afetados, geralmente que se encontram entre as camadas mais pobres da sociedade e pessoas vulneráveis, como mulheres, negros, idosos e crianças.

As mudanças climáticas são, de fato, uma realidade global, mas suas consequências afetam as populações de forma desigual. As pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas são aquelas que menos participam das causas do aquecimento global.

E quando falamos de Justiça ambiental, no referimos à desigualdade da distribuição dos riscos ambientais. A ideia é reunir esforços coletivos para que nenhum grupo social tenha que sofrer consequências da degradação ambiental mais do que o outro.

Ao longo do tempo, as grandes potências mundiais destinaram suas indústrias mais poluentes para países em desenvolvimento enquanto a administração se localizava nas sedes das grandes cidades dos países mais desenvolvidos. O que a Justiça ambiental deseja é que haja tratamento justo para que todos e todas tenham acesso a uma vida mais saudável.

Quando escrevo esse texto, novas chuvas são previstas para esta semana, mas ainda tem gente ilhada, muitas ainda sobre os telhados de suas casas, esperando serem resgatadas. A cidade de Porto Alegre, capital do Estado, continua inundada, numa cena jamais imaginada. Para nós que estamos longe, só resta apelar pelo socorro divino.

Foto: Renan Matos/Reuters, publicado pelo Uol.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Etarismo e Decolonialidade: o que a Igreja tem a ver com isso / Ageism and Decoloniality: what does the Church have to do with it / Edadismo y decolonialidad: qué tiene que ver la Iglesia con esto

 

A OMS define etarismo, também conhecido pelo termo idadismo, como o conjunto de práticas orientadas por estereótipos, preconceitos e discriminação direcionados a pessoas por questões de idade. A idade é uma das primeiras coisas que percebemos no outro, quando o identificamos como pessoa. Você certamente já ouviu essa frase: “você não tem mais idade para isso”.

No início de março de 2023, viralizou nas redes sociais no Brasil um vídeo em que jovens universitárias criticavam a presença de uma aluna de 40 anos de idade em sua turma. “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”, disse uma delas. Recentemente soube de uma professora universitária que foi demitida aos 50 anos, mas que não consegue mais se inserir no mercado de trabalho por que está velha demais para conseguir um emprego mas nova demais para se aposentar (CAMPEZZI, 2023).

Esse tipo de preconceito está presente nos meios sociais mais do que podemos imaginar. E a igreja não fica de fora desse tipo de prática. Ele pode atingir diferentes faixas etárias, mas as maiores consequências recaem sobre as pessoas mais idosas. Ele surge quando as relações entre as diferentes faixas etárias tipificam umas as outras para causar divisão, promover exclusão, provocar tratamento desigual e injustiças. “O [etarismo] se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionados às pessoas com base na idade delas” (OMS, 2021, p. 3).

Esse tipo de preconceito se apresenta como um desencadeador de riscos para a saúde física e mental, para o bem-estar e para o envelhecimento saudável. O etarismo pode ser interpessoal, quando é praticado entre dois indivíduos, como o juízo de que pessoas mais idosas não podem fazer curso superior, por exemplo, ou quando tem que ceder lugar para um idoso ou idosa no transporte público. O etarismo pode ser também autodirigido, quando vagas de emprego são negadas a pessoas com base na idade ou quando alguém sofre preconceito por iniciar um movimento por direitos relativos à sua faixa etária. O etarismo pode ser ainda institucional, quando se refere às leis, regras, normas sociais, políticas e práticas de instituições que restringem as oportunidades e prejudicam pessoas devido à idade.

Em todas as esferas da sociedade, encontramos situações que cerceiam o direito e favorecem o preconceito e discriminação contra os idosos, sobretudo nas organizações que prestam serviços de saúde e assistência aos mais velhos. Um dos problemas mais comuns em todo o mundo é o racionamento à assistência à saúde a pessoas idosas.

O relatório da OMS indica que, a cada duas pessoas, uma pratica algum tipo de violação contra os idosos, em nível mundial. Na Europa, a cada três pessoas, uma afirma ter sido vítima do etarismo. “Para pessoas idosas, o [etarismo] está associado a uma menor expectativa de vida, pior saúde física e mental, recuperação mais lenta de incapacidade e declínio cognitivo. O [etarismo] piora a qualidade de vida das pessoas idosas, aumenta seu isolamento social e sua solidão (ambos os fatores estão associados a graves problemas de saúde), restringe sua capacidade de expressar sua sexualidade e pode aumentar o risco de violência e abuso contra as pessoas idosas” (OMS, 2021, p. 4).

A origem do etarismo está intimamente relacionada ao modo como a modernidade ocidental desenvolveu as suas próprias concepções civilizatórias, voltada para o modo capitalista de produção da riqueza. Um dos conceitos afetados pela racionalidade moderna está vinculado à ideia de novo, compreendido como atual ou moderno, em contraposição ao antigo, velho ou ultrapassado.

Trata-se de uma concepção linear das relações de conhecimento, que implica uma valorização do progresso e do desenvolvimento, com o rechaço dos conceitos fundadores e da própria arqueologia dos saberes. A linearidade do conhecimento e da ciência estabelece uma certa relação de poder que influencia a compreensão das relações humanas, atribuindo ao idoso as ideias de ultrapassados e antiquados.

Essa concepção moderna e ocidental orientou as estratégias de colonização, tratando as Américas, por exemplo, como Novo Mundo. O problema é que nesse “novo mundo” já existia um conjunto de práticas e saberes com base na valorização da ancestralidade.

Um exemplo disso vem dos indígenas Kadiwéu, que habitam em Porto Murtinho, na fronteira entre Brasil e Paraguai. A principal habilidade deles é a arte da pintura corporal e da cerâmica que encantou vários exploradores e pesquisadores, como o italiano Guido Boggiani, no final do século XIX e o antropólogo Claude Lévi-Strauss na década de 1930. O também antropólogo Darcy Ribeiro, que viveu entre os Kadiwéu na década de 1940, classificava a variedade de estilos dos desenhos abstratos e os padrões de pintura de rosto e de corpo dos Kadiwéu como “a mais elaborada manifestação artística dos índios americanos”. Os desenhos são feitos até hoje pelas mulheres, especialmente as mais velhas (DURAN, 2015).

A ancestralidade dos povos originários da América Latina se aproxima muito da perspectiva defendida nas Escrituras sobre o lugar do idoso na cultura hebraica. Essas afirmações podem ser encontradas tanto na Torah quanto na tradição poética dos Salmos e na literatura sapiencial.

A concepção cristã é herdeira dessa tradição hebraico-judaica. Ela está presente em formas de organização eclesial, como o tratamento dado aos presbíteros, que quer dizer anciãos, e também ao conselho ao cuidado com os mais idosos. Conselhos de Paulo a pastores sobre o tratamento com os idosos: Não repreenda asperamente ao homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai [...] as mulheres idosas, como a mães [...] (1 Timóteo 5.1-2). Ensine os homens mais velhos a serem sóbrios, dignos de respeito, sensatos, e sadios na fé, no amor e na perseverança. Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver [...] (Tito 2.2-3).

A igreja é desafiada a agir em favor da construção de um mundo para todas as idades. Veja algumas ações eclesiais que podem contribuir para uma consciência maior a respeito do lugar dos idosos e das idosas;

a) Conscientizar a comunidade a respeito do direito do idoso. O Brasil criou, em 2003, o Estatuto da Pessoa Idosa, que é a Lei n° 10.741.

b) Criar espaços para que idosos desenvolvam atividades comunitárias que visem solução de problemas comuns.

c) Desenvolver ações de acolhimento para idosos e idosas desamparados.

d) Desenvolver uma hermenêutica bíblica que prepare a igreja para uma práxis em que todos e todas desfrutem de uma velhice saudável.

Referências:

CAMPEZZI, Heitor. Vídeo de universitárias de SP debochando de colega por ter '40 anos' viraliza e gera indignação. G1, 11 Mar 2023. Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2023/03/11/video-de-universitarias-de-sp-debochando-de-colega-por-ter-40-anos-viraliza-e-gera-indignacao.ghtml > Acesso em 23 Mar 2023.

DURAN, Maria Raquel da Cruz. Leituras antropológicas sobre a arte kadiwéu. Cadernos de Campo. n 24. p.43-70. São Paulo, 2015.

NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Etarismo: o que é e como isso afeta a vida das pessoas? In: Revista National Geographic Brasil. 15 mar. 2023. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/03/etarismo-o-que-e-e-como-isso-afeta-a-vida-das-pessoas> Acesso em 23 mar 2023.

OMS. Relatório mundial sobre o idadismo: resumo executivo. 2021. Disponível em: <https://www.who.int/pt/publications/i/item/9789240020504> Acesso em 23 mar 2023.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

O desafio do amor: o que impede o amor? / The challenge of love: what stops love? / El desafío del amor: ¿qué detiene el amor?

A Bíblia diz que o amor pode ser interrompido. O autor da carta aos Hebreus diz: Seja constante o amor fraternal” (Hebreus 13.1 NVI). Ele usa a metáfora do fluxo de um rio, em que a água precisa superar obstáculos que impedem sua correnteza contínua. Embora a Bíblia afirme em outra passagem que o amor jamais acaba (cf. 1 Coríntios 13.8), existem barreiras que podem impedir sua realização.

O texto fala do amor como uma atitude que correspondia ao relacionamento entre os cristãos, como uma relação de amizade entre irmãos: a philadelphia. Essa relação fraterna é que conduz ao verdadeiro amor cristão. Não há outra forma de seguir a Cristo que não seja através da prática do amor fraternal.

Esse versículo é registrado em outras traduções da seguinte forma:

- “Continuem a amar uns aos outros como irmãos em Cristo” (NTLH).

- “Permaneça o amor fraternal” (ARC).

- “O amor fraterno permaneça” (Hebreus 13.1 BJ).

O amor fraternal é um dom precioso que não podemos permitir que diminua ou se apague, visto que ele é expressão do amor divino por toda a criação. Quando amos uns aos outros demonstramos que estamos comprometidos com aquilo que move o coração de Deus.

Porém, descobrimos que o amor pode passar por instabilidades, pode crescer ou diminuir, pode surgir e desaparecer, pode inclusive cessar, sobretudo o amor fraternal. Jesus alertou que o amor de muitos esfriaria com a chegada dos tempos do fim (Mateus 24.12).

O apelo do autor para que ele seja constante significa que o amor já existia entre os irmãos. naquela comunidade de fé para onde era destinada a Carta aos Hebreus, e que precisava continuar. Apesar de todas as diferenças, provocações e decepções, o amor fraternal precisa ser praticado de forma constante.

O que pode impedir o amor? O que pode sufocá-lo? Há três fatores que aniquilam o amor: o egoísmo, a indiferença e maldade. Eles agem como verdadeiras barreiras que impedem que o amor aconteça.

O egoísmo aponta para a autossuficiência do eu. É a atitude de arrogância por se achar melhor do que os demais. O egoísta é aquele que tem um apego exagerado pelos seus próprios interesses sem se importar com os outros.

A indiferença se baseia na falta de comprometimento com a dor do outro. A intolerância para com o próximo nos impede de conviver com o diferente.

A maldade nasce de nossas próprias escolhas provocadas pela ganância, pela inveja e pelo preconceito.

O que impede o amor pode ser vencido por aquilo que o nutre e alimenta: o altruísmo, a empatia e a bondade. Esses fatores fortalecem o amor e lança o desafio de amar, como um chamado a sermos solidários e cooperadores uns com os outros. Essas atitudes aperfeiçoam o amor em nós e nos levam a agirmos de forma mais humana com o próximo. 

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