A criação sofre por causa de nossas ações egoístas,
consumistas e despreocupadas com a sustentabilidade. Estamos literalmente
devorando o nosso planeta. Chegamos ao ponto de não retorno, em que a natureza
não consegue mais repor aquilo que dela tiramos para dar conta de nossa
necessidade de consumo.
A teologia como forma de saber orientada para a reflexão e
para a construção de esperanças não pode ficar de fora do diálogo necessário
para se encontrar saídas para o cuidado da vida no planeta. Esse é o tempo em
que se faz necessário emergir uma teologia da criação que ouse apontar para
toda a humanidade os caminhos para uma ação consciente como cooperadores de
Deus no cuidado com a natureza.
Elementos para uma teologia da criação para esse tempo:
a) Uma teologia da criação que dê ênfase à natureza como
dádiva divina, e não como recurso a ser explorado.
b) Uma teologia da criação que nos leve a sofrer, a prantear
e a lutar por causa de nossas próprias ações que destroem a natureza.
c) Uma teologia da criação que nos aponte a esperança de um
futuro melhor.
d) Uma teologia da criação que nos motive a celebrar ao Deus
criador com nossas ações como primícias da esperança.
e) Uma teologia que nos mobilize a trabalhar juntos e unidos
à Criação pela construção de um novo tempo e de uma nova mentalidade.
f) Uma teologia da criação que entenda a origem da natureza
em diálogo com a ciência como um mistério a ser desvendado.
g) Uma teologia da criação que aponte novos horizontes para
a vida no planeta na perspectiva da consumação do Reino de Deus.
Os subsídios para a reflexão teológica a respeito do cuidado
humano com a criação emergem das Escrituras. Em Romanos 8.19-25, Paulo
apresenta um brevíssimo tratado de teologia da criação em que estão apontados
os caminhos para uma reflexão mais profunda e transformadora.
Paulo apresentou nessa passagem da carta ao Romanos um
retrato da natureza como alguém que geme com dores de parto. Diante desse
estado de “ardente expectativa”, Paulo declara que a esperança de libertação
para toda a criação é a atitude daqueles e daquelas que acolhem o convite
amoroso de Deus para se tornarem seus filhos.
A redenção de toda a criação só pode vir da mudança de
atitude de pessoas que restauram em sua própria vida a condição primeira de
cuidadores da criação. Fomos criados para viver em harmonia com a natureza.
Homens e natureza formam a totalidade da criação, que existem para se cuidarem mutuamente.
É uma pretensão acharmos que podemos salvar o planeta, mas é sinal de esperança
crermos que podemos experimentar em nós uma conversão ecológica a fim de
restaurarmos nossa relação cósmica como pertencentes à grande família da
criação.
Espera-se que filhos de Deus sejam capazes de mudar. Mudar a
sua mentalidade de consumo, a maneira como descartam seus resíduos, a forma com
que colocam em prática a estratégia de reusar, reciclar e reutilizar, o jeito
de compartilhar seus bens e recursos, de ser solidários, de superar o
individualismo e o egoísmo.
Esse é o papel dessa geração de filhos de Deus, a nossa
geração. Temos um legado para deixar para as gerações futuras a respeito do que
fizemos com a natureza, com o mundo que deixamos para nossos netos. É um
compromisso que envolve responsabilidade ética mas também o exercício da fé no
Deus que criou todas as coisas.
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