quinta-feira, 8 de maio de 2025

Papa Leão XIV: promessa de diálogo e continuidade de uma Igreja de Portas Abertas / Pope Leo XIV: promise of dialogue and continuity of a Church with Open Doors / Papa León XIV: promesa de diálogo y continuidad de una Iglesia de puertas abiertas

 

Na tarde deste dia 9 de maio de 2025, o Conclave elegeu, em seu segundo dia, o norte-americano Robert Francis Prevost como o 267° Papa da Igreja Católica Apostólica Romana. Uma surpresa para os melhores vaticanistas, que apostavam em nomes mais conservadores. O Cardeal Prevost não constava da lista dos principais prováveis sucessores de Francisco. Eleito Papa, adotou o nome de Leão XIV e tornou-se o primeiro papa americano e o primeiro agostiniano.

Embora pouco conhecido nos meios eclesiástico, Prevost tem um passado marcado por uma atuação pastoral significativa. Serviu como religioso na América Latina, especialmente no Peru. Considerado jovem para o pontificado (tem 69 anos), é também visto como um conciliador moderado e apoiador dos princípios reformistas de Francisco. É um Papa americano, mas com coração latino. Nascido em Chicago, tornou-se cidadão peruano.

Ouvi com atenção seu primeiro discurso na sacada da basílica de São Pedro. Alguns pontos me chamaram muito a atenção pelo fato de serem indicadores de como deverá ser seu pontificado. O primeiro deles foi o desejo pela paz, num tempo em que o mundo enfrenta dois conflitos graves (a guerra da Ucrânia e a destruição do povo palestino na guerra de Israel contra o Hamas), além da ameaça de uma nova guerra de proporções mundiais. Ele frisou que deseja uma paz “desarmada e desarmante”, na contramão da corrida armamentista das nações do mundo.

O novo Papa também apontou seu desejo de dar continuidade à construção do caminho da sinodalidade e de uma igreja de portas abertas, dois legados de Francisco. O seu discurso lembrou bastante as orientações que emanaram da Conferência Episcopal de Aparecida, em 2007, com a ênfase à ação missionária, comprometida com as condições concretas de vida das comunidades locais. Demonstrou claramente que deseja uma igreja que seja capaz de diálogo, que construa pontes, e não muros, que esteja sempre próxima aos que sofrem.

Leão XIV também fez questão de afirmar sua condição de um agostiniano, como “filho de Santo Agostinho”. O lema dessa ordem religiosa, criada no século XIII, se baseia na declaração: “No Único, somos um só”, expressão do ideal de ser uma igreja com um só coração e uma só alma, como a Bíblia registra sobre a vida dos primeiros cristãos: “Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração [...]” (Atos 4.32). É bom ressaltar que as regras de vida monástica escritas por Santo Agostinho enfatizavam a pobreza, a comunhão, a oração e o silêncio.

O nome Leão não é uma escolha de pouca importância. Lembra o pontificado de Leão XIII, no final do século XIX, quando foi estabelecida a Doutrina Social da Igreja, com ênfase no bem comum, na solidariedade, na Justiça e na dignidade da pessoa humana. Ao expor a proposta de uma sociedade mais justa, a encíclica Rerum Novarum  rejeitou as doutrinas marxistas e condenou o capitalismo explorador. Mas o nome lembra também o primeiro Leão, o Magno, no século V, que ampliou o poder do Bispo de Roma e atuou para a afirmação da Cristologia ocidental com base na teologia de Santo Agostinho.

Diante do cenário geopolítico mundial, não há como falar da eleição de um papa americano sem mencionar a figura do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Leão XIV deixou implícito em sua fala que não apoia a atual política norte-americana em relação aos imigrantes, à construção de muros nas fronteiras e à imposição de barreiras tarifárias que afetam a economia mundial. O novo Papa demonstrou que está muito mais próximo da realidade latino-americana do que do imperialismo estadunidense.

É um sinal claro de que a Igreja de Roma se voltou para a América Latina e que consolida a influência do Sul Global. Parte do seu discurso foi em espanhol, inclusive. A teologia latino-americana já vem ganhando força com o pontificado de Francisco, apontando para o cuidado da criação e para a abertura aos mais vulneráveis. Que novos ventos soprem e continuem a soprar para que tenhamos um cristianismo de mente e coração mais abertos para as aflições humanas.

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