
O interesse era de tornar a compreensão dos textos escriturísticos mais próximos das camadas populares, desenvolvendo-se um método que acessível às pessoas mais simples. Carlos Mesters foi um dos autores que se tornou conhecido por desenvolver uma metodologia adequada a essa iniciativa. Mesters, nascido na Holanda, veio para o Brasil aos 17 anos (em 1949) junto com os carmelitas e desenvolveu seus estudos filosóficos e teológicos. Em 1978, fundou em Angra dos Reis o Centro de Estudos Bíblicos – CEBI, entidade que vem promovendo encontros, cursos, publicações e divulgação de subsídios destinados à pastoral bíblica, buscando ao mesmo tempo o aprofundamento do método exegético a partir dos pobres.
Com uma extensa obra, Mesters se destaca pela preocupação com um projeto de leitura global da Bíblia, como é o caso de Leitura Orante da Bíblia, publicado a partir de 1990, depois chamado de Tua Palavra é a Vida. Um itinerário pode ser traçado para o seu método: a) a elaboração de um diagnóstico sobre a falta de adequação entre a proposta dos representantes e agentes da igreja e a mentalidade religiosa popular; b) a escuta e observação atenta das pessoas das camadas populares com suas características e contribuições, com a constatação de uma fé, ainda que não alinhada com a ortodoxia, revelava uma ação do Espírito Santo; c) o desenvolvimento de uma atitude pessoal de aprendiz, fazendo-se “aluno da realidade” e “discípulo dos pobres”, do mesmo modo como antes aprendera a se fazer aluno dos bancos acadêmicos e discípulo da Bíblia e da igreja; d) a simplicidade na relação entre a Bíblia e a própria vida; e) ênfase no fato de que a leitura popular da Bíblia é essencialmente comunitária; f) emprego de um instrumental científico básico, que é o método histórico-crítico, que permite o acesso ao sentido literal e original do texto bíblico; g) a mudança na mentalidade dos pobres a partir da descoberta de que a Bíblia lhes é acessível e de que eles podem ser protagonistas na vivência do Evangelho; h) a fidelidade consciente ao magistério da igreja; i) e o alcance do objetivo principal da leitura, que é interpretar a vida com a ajuda da Bíblia.
O método é baseado em um triângulo, no qual o autor faz notar que há um pré-texto (realidade) e um contexto (comunidade de fé) que determinam o “lugar” de onde se lê e interpreta o texto. Desse lugar é que surge o “novo olhar” com que o povo lê a Bíblia hoje na América Latina. O novo sujeito hermenêutico são as pequenas comunidades de fé, que leem a Bíblia buscando uma resposta para sua vida e para o sofrimento cotidiano. Elas constituem o que ele chama de “contexto” em que a Bíblia é lida de tal maneira que faz soar a mensagem do Espírito para a igreja de hoje. O cristão atua como sujeito que lê as Escrituras, qualquer que seja o seu lugar social, cuja tendência é projetar sobre o texto não só a luz da fé, mas também aquela que vem da realidade na qual está inserido. É ele intérprete como sujeito histórico, com uma leitura condicionada por uma compreensão prévia, que surge do seu contexto vital, de pobreza e luta, conflito e esperança que o caracteriza. Faz com que se reconheçam em certos episódios e personagens bíblicos, tornando desta maneira o texto do passado algo vivo e interpelador ou estimulante no presente.
O método empregado por Mesters se assemelha à proposta “Ver – Julgar – Agir”, da Ação Católica, e retoma ao mesmo tempo os passos da Lectio Divina. Sua forma simples de aplicação nos círculos bíblicos, no entanto, vem despertando novas perspectivas, sobretudo com o avanço tecnológico e a globalização. Aspectos como os de gênero e que os que contemplam pessoas que sofrem discriminação são levados também em consideração nas propostas de leitura popular da Bíblia. Além disso, o crescente problema da violência nos contextos urbanos exige novas iniciativas de ler a Bíblia a partir do contexto vital.
Até mesmo a definição do que vem a ser pobre deve incluir não só os desprovidos de bens e serviços, mas também todos os pecadores e destituídos de esperança. O que se pode chamar de novo pobre é vítima de um sistema muitas vezes injusto e violento, dando margem a preconceitos e moralismos.
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