
Não resta a menor dúvida de que a Teologia é uma ciência e, como tal, segue padrões epistemológicos próprios. Desde Karl Popper, de fato, é possível verificar que a ciência segue uma lógica que não dá conta do conhecimento da totalidade, o que demanda um processo que envolve falseamento e refutação constante. A Teologia tem também um paradigma segundo o qual o saber teológico se desenvolve. Visto de um modo geral, esse paradigma segue o mesmo princípio sobre o qual está construído todo o pensamento ocidental, baseado no dualismo psicofísico, primeiramente platônico – caracterizado pelo pensamento agostiniano – e posteriormente da Modernidade – envolvendo a crise que acompanhou o surgimento da teologia liberal.
Nesse sentido, á possível traçar um paralelo entre as mudanças de paradigma propostas por Thomas Kuhn e a Teologia. Em primeiro lugar porque há na Teologia uma fundamentação teórica subjacente, histórica e consolidada, com seus mestres clássicos e os manuais, que fornecem o arcabouço de conhecimento e apontam as questões ainda em aberto. Isso implica tanto a necessidade de ruptura com o já existente quanto uma resistência ao novo e à possibilidade de supressão desse modelo hermenêutico.
Tomando por base as considerações de Hans Küng, em Teologia a caminho, é possível traçar um paralelo entre mudança de paradigma na ciência e na Teologia. O que se vê, no entanto, é a tomada de consciência de que há uma crise e que isso se constitui o ponto de partida para a mudança. Afinal, é evidente que a Teologia tem encontrado dificuldades de responder aos questionamentos contemporâneos. Um novo modelo se faz necessário, uma nova forma de entender as relações humanas que envolvem a fé suas expressões num contexto totalmente novo e pós-moderno.
As mudanças que se fazem necessárias na Teologia não acontecerão sem resistência, haja vista, por exemplo, a reação à afirmação de uma neo-ortodoxia frente à teologia liberal (influenciada pela mentalidade iluminista), no começo do século XX, ou mesmo o surgimento da Teologia da Libertação na América Latina, quando da aproximação do final desse mesmo século. É, inclusive, difícil prever em que dimensões um novo paradigma poderá ser aceito. É certo, porém, que, uma vez aceito, um novo modelo hermenêutico servirá como base para a fundação de uma nova tradição.
A diferença essencial entre ciência e Teologia é que esta tem na mensagem cristã seu objeto fundamental, cujo testemunho são as Escrituras Sagradas e sua transmissão pela igreja ao longo dos séculos. Esse testemunho é também a base para a fé cristã que é firmada na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, apresentado no Novo Testamento como princípio de fé para todo o tempo. Isso significa que o grande desafio para a Teologia é realizar uma mudança de paradigma que não seja contra o Evangelho, de encontrar o caminho para uma mudança que não seja só ruptura, mas também continuidade e permanência da mensagem cristã. As afirmações teológicas que foram verificadas na história não aconteceram sem o risco de rejeições e condenações, de heresia e de oposição. Essa possibilidade precisa ser sempre levada em consideração. Contudo, o caminho há que ser perseguido.
Gostei irenio!
ResponderExcluirReflexões patrocinadas pelo mestre Garcia... rs
Abraço!
Rodrigo
"A diferença essencial entre ciência e Teologia é que esta tem na mensagem cristã seu objeto fundamental, cujo testemunho são as Escrituras Sagradas e sua transmissão pela igreja ao longo dos séculos"
ResponderExcluirBoa noite!
Realmente o que deve diferenciar a Teologia das demais ciências é o seu objeto de estudo. E, neste sentido, não pode a Teologia deixar de usar as ferramentas das demais ciências.
No entanto, será mesmo no campo do exercício da fpe que a Teologia e qualquer outra ciência vai se frustrar. Por exemplo, jamais a Teologia vai poder provar a existência do Deus Eterno, o qual é crido sem razões lógicas, mas sim por razões íntimas de cada crente.
Abraços.