
A crucificação de Jesus foi cercada de vários aspectos que
poderiam servir para abreviar a sua morte. Ele já tinha sido açoitado e
torturado pelos soldados, estava faminto e tinha sede, recusou beber a mistura
de vinho com fel que lhe serviria de entorpecente, os cravos em suas mãos e pés
tinham por objetivo provocar uma hemorragia, recebeu vinagre para beber e ainda
tinha sido ferido em seu ventre. A crucificação foi por volta das 9 horas da
manhã no monte chamado Gólgota, que quer dizer “caveira”. Hoje o chamamos de
monte do Calvário. Jesus expirou por volta das três horas da tarde. Antes de
expirar, Jesus clamou em aramaico como um sinal de seu grande sofrimento. Ele
não estava afirmando que Deus o havia abandonado. A expressão enkatelipes
deve ser mais bem traduzida como “deixar em apuros”. Mateus registra que a
morte de Jesus foi acompanhada de alguns fenômenos sobrenaturais: começou com o
período de trevas desde o meio dia até as três da tarde, a cortina que dividia
o lugar santo do lugar santíssimo no templo se rasgou de alto a baixo, houve um
terremoto, os sepulcros se abriram, alguns mortos ressuscitaram. Esses fatos
levaram o centurião e os soldados que acompanhavam a crucificação a
reconhecerem que Jesus era realmente o Filho de Deus.
Jesus veio ao mundo em cumprimento de uma promessa divina
para a redenção dos homens. Muitos profetas anunciaram a sua vinda afirmando
ser ele um rei. E o próprio Evangelho de Mateus usa a designação de rei oito
vezes para referir-se a Jesus Cristo como tal. Ele foi reconhecido como rei
pelos magos que vieram do oriente, na época do seu nascimento (conforme Mateus
2.2). Ele foi aclamado rei pela multidão, quando entrou em Jerusalém pela
última vez (Mateus 21.5). Ele mesmo se apresentou como sendo rei (Mateus 25.24
e 40). E foi julgado por ser apontado como rei dos judeus, o que significaria
uma alta traição para o governo romano que dominava aquela região (Mateus
27.11). A inscrição na cruz era uma informação a respeito do crime pelo qual Jesus
estava sendo punido, por ter falado a verdade de que ele era o Messias. Embora
aquela expressão proclamasse uma verdade, Jesus é muito mais que um rei. Ele é
o Senhor de todos os povos e tem sobre si todo o poder.
Se notarmos bem o que aconteceu ali durante a crucificação,
Jesus foi maltratado por três grupos diferentes de pessoas: os que iam passando
(Mateus 27.39), os religiosos importantes (Mateus 27.41) e os salteadores que
foram crucificados com ele (Mateus 27. 44). Poderíamos dizer que Jesus sofreu o
escárnio devido à ignorância das pessoas (pelos passantes), por pura
discriminação religiosa (pelos sacerdotes, escribas e anciãos) e por puro
ressentimento (pelos salteadores crucificados). Aquele que foi desprezado entre
os seus, era verdadeiramente o “Filho amado” do Pai que “veio para os que eram
seus e os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem em seu nome” (João
1.11-12).
O clamor de Jesus na cruz foi uma expressão de extremo
sofrimento físico, moral e espiritual. Ali, Jesus se fez pecado por nós,
carregando sobre si os pecados de toda a humanidade, com o propósito de salvar
a todo o que nele crê. Como ser humano, Jesus sentiu-se isolado e abandonado,
durante aquelas quase seis horas de sofrimento, das quais três horas
corresponderam a um período de trevas. Era necessário que Jesus chegasse ao
auge do sofrimento para que, assim, ele pudesse ser perfeitamente Salvador e
substituto de todos nós, pecadores. Só assim podemos afirmar que ele morreu em
nosso lugar, pagando o preço pela nossa própria salvação.
A morte de Jesus foi o sinal mais evidente do amor de Deus
por todos os homens. Jesus foi crucificado para o perdão de nossos pecados. Não
haveria outro motivo pelo qual Deus viesse consentir com tamanho sofrimento de
seu Filho, quando de sua vida entre os homens. A morte na cruz significou um
grande sofrimento para Jesus. Ele foi obediente em tudo, deixou-nos o seu
exemplo de resignação e amor, em tudo foi submisso ao Pai para cumprir todo o
propósito de Deus. Tudo isso para que pudesse garantir liberdade de acesso a
Deus. O pecado, a maior barreira que separa o homem e Deus, foi vencido ali na
cruz, concedendo pleno perdão a todo aquele que o busca pela fé.
Mateus 27.55-56 chama a atenção do leitor para as mulheres
que serviam a Jesus e acompanhavam todo aquele drama até o momento final da
sepultura (v. 61). Nem todos os seguidores de Jesus haviam fugido, as mulheres
haviam permanecido fiéis até o fim. Mateus fala também de um discípulo chamado
José de Arimateia, que era homem rico, membro do Sinédrio (Marcos 15.43) e
amigo de outro judeu ilustre chamado Nicodemos que o ajudou (João 19.18.39),
que providenciou o sepultamento de Jesus em um túmulo novo de sua propriedade.
Uma tradição essência dá conta de que o crucificado pelos mesmos motivos
alegados contra Jesus deveria ser sepultado no mesmo dia de sua morte .
Além disso, logo a tarde seria finda e o sábado teria início, quando ninguém
poderia fazer qualquer trabalho, muito menos tocar em um morto, considerado um
serviço imundo. Os fariseus demonstraram que, no fundo, acreditavam no poder
miraculoso de Jesus ao solicitar a Pilatos uma guarda especial para o sepulcro
e providenciar um selo para pedra que o fechava. A ideia do embuste era só uma
desculpa.
(Extraído do meu livro Mateus, o evangelho do Reino, disponível
em: https://a.co/d/id6yeMi ).