“Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos
novos céus e nova terra, onde habita a justiça.” 2 Pedro 3.13
A utopia é uma forma de pensar as
mudanças que desejamos a partir da compreensão da nossa realidade. O termo foi
inventado pelo filósofo renascentista Thomas More para se referir a uma cidade
ideal, perfeita, onde as pessoas vivem num ambiente de completa justiça.
Analisada etimologicamente, a
palavra utopia corresponde literalmente a “não-lugar”. Não é um lugar que não
existe, mas o lugar imaginado em que habita o desejo de uma sociedade mais
justa e um mundo melhor. O propósito da utopia é fazer com que, em meio a uma
situação difícil, sejamos capazes de pensar que uma vida melhor é possível.
Marc Augé, sociólogo
contemporâneo, faz uso dessa ideia de não-lugar para se referir aos espaços
urbanos em que nos movimentamos em meio a uma multiplicidade de interações, mas
que na verdade revelam o quanto estamos sós. Nesses não-lugares, somos cercados
por um universo de imagens e de sons que nos dizem como devemos agir de forma
passiva, sem muita reflexão.
Imagine uma pessoa que sai de
manhã de casa, se dirige ao ponto de ônibus, embarca no mesmo, se assenta e
coloca o fone de ouvido ligado ao seu celular que toca a sua música preferida. Em
todo percurso, passou por pessoas que, como você, se movimentam pelo mesmo
espaço sem revelar sua identidade e sem qualquer relação.
Esses não-lugares, que são criados
por uma sociedade globalizada, pós-moderna e consumista, nos induzem à
individualidade e a uma consensualidade em relação a determinados padrões de
comportamento que interferem na maneira como percebemos a realidade. Nesses não-lugares é que circulamos, nos comunicamos com o mundo e consumimos. Eles são, portanto,
sem identidade histórica, resultam da perda de relação afetiva entre as pessoas
e são marcados pela solidão.
A utopia se difere dessa concepção
do não-lugar visto que é um chamado a imaginar uma vida melhor. O utópico é o
lugar imaginado, sonhado e que aponta para uma esperança. Não é fantasioso,
pois nasce da percepção do contexto vivido. É na medida em que nos apercebemos
da realidade que podemos imaginar e construir um espaço em que esteja garantida
a vida plena das pessoas, relações mais justas entre elas e a proteção dos mais
vulneráveis.
Pessoas que esperam novos céus e nova terra vivem
um desejo utópico de superação de toda injustiça, o que só é possível mediante a fé.
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