Uma das marcas de nosso tempo é a ausência de compromisso. Isso não quer
dizer que as pessoas não têm comprometimento algum. A grande maioria está mais
interessada com aquelas situações que satisfazem um sentimento individualista
repleta de narcisismo. Vivemos em meio ao complexo de Carolina, aquela da
música de Chico Buarque de Hollanda, para quem o tempo passou na janela e só
Carolina não viu.
Pessoas sem compromisso desconhecem seu potencial e as possibilidades de
transformações da realidade a partir de sua própria ação. Desconhecem também o
fato de que não vivemos sozinhos. Precisamos uns dos outros para realizar
nossos sonhos e desejos. A ideia de compromisso lembra um acordo em que o outro
está implicado como parceiro.
O primeiro paço para uma grande mudança é estar comprometido com aquilo
que queremos nos tornar. Isso implica mudar a mentalidade, fazer ajustes, estabelecer
metas e redefinir estratégias, o que pode provocar um deslocamento de nossa
zona de conforto. Essa talvez seja a maior dificuldade de se assumir
compromissos que gerem mudança. Queremos melhorias, mas estamos pouco preocupados
em fazer as mudanças daquilo que nos dá segurança e comodidade.
Jesus foi um grande exemplo de uma pessoa comprometida. A maior razão
para que ele realizasse o seu ministério humano com tantos resultados
extraordinários e para que influenciasse tanto a humanidade não estava em sua
natureza divina ou poder sobrenatural. Jesus estava comprometido com uma
missão, e ela consistia na realização histórica do Reino de Deus.
A maneira como Jesus se comprometeu com sua missão pode ser melhor
compreendida pela menção profética de Isaías: “Eis o meu servo, a quem sustento, o meu
escolhido, em quem tenho prazer. Porei nele o meu Espírito, e ele trará justiça
às nações. Não gritará nem clamará, nem erguerá a voz nas ruas. Não
quebrará o caniço rachado, e não apagará o pavio fumegante. Com fidelidade fará
justiça; não mostrará fraqueza nem se deixará ferir, até que estabeleça
a justiça sobre a terra. Em sua lei as ilhas porão sua esperança.” Isaías 42.1-4.
A maneira como Jesus viveu e serviu é um convite para colocar a vida a
serviço da mesma causa. Jesus serviu de forma integral como consequência de sua
mensagem a respeito do Reino de Deus. Em última análise, isso significa experimentar
a salvação que vem de Deus. A vida de serviço cristão tem seu fundamento e justificativa
na própria vida de serviço de Jesus de Nazaré. Ele mesmo disse que envia seus
discípulos da mesma forma com que foi enviado.
A missão do discípulo, daquele que segue a Cristo, consiste em levar às
últimas consequências o testemunho do evangelho. Pessoas comprometidas com a
causa do evangelho formam a comunidade daqueles que cumprem missão no mundo,
que é o verdadeiro sentido de ser igreja. Resumir a missão a um conjunto de
práticas, ainda que seja a pregação ou a assistência aos necessitados, é
reduzir o sentido da missão. A igreja que serve de forma integral não é um
refúgio, mas um lugar de acolhida que nos capacita para seguir caminho.
Ninguém faz ideia do que gente comprometida é capaz.
Pessoas com compromisso de estarem juntas para cumprir missão é o que dá
sentido e forma à caminhada cristã no mundo. Não há razão de uma igreja existir
apenas como mais uma forma de fazer religião, a não ser que seus participantes
estejam comprometidos em fazer a diferença para o contexto em que estão
inseridos.
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