“Este é o meu consolo no meu sofrimento: A tua promessa dá-me
vida.” Salmos 119.50
A
Bíblia é a palavra de Deus, aprendemos desde cedo em nosso catecismo. Ela não
contém nem se parece, ela é. Isso faz toda a diferença. Isso nos lembra que
Deus falou aos homens em um momento da história, e que estes homens que ouviram
Deus registraram sua palavra em uma forma escrita.
O
problema é que a ideia de palavra comporta duas possibilidades: uma, o ato da
fala, com seu sistema de signos; a outra, seus significados. A primeira,
objetiva, formal e que pode ser decodificada. A segunda, difusa, subjetiva e
relacionada ao contexto. Ferdinand de Saussure as designou como língua e fala (langue e parole, em francês).
O Antigo
Testamento emprega duas palavras em hebraico para se referir à palavra de Deus:
uma é dabar, a palavra dita por Deus,
a outra é imra, que se refere às
promessas divinas. Ambas são usadas no mesmo sentido: a palavra que produz vida
e serve como guia para o viver melhor.
O
Novo Testamento também emprega duas palavras gregas para se referir à palavra
de Deus: uma é logos, a outra é rhema. A primeira é a palavra dita,
codificada, que faz parte do ato da fala. É a forma substantiva do verbo dizer.
Os gregos entendiam que podíamos conhecer as coisas por aquilo que somos
capazes de dizer sobre ela. A segunda é o que está implícito da palavra dita, o
sentido que a palavra assume na consciência de quem a recebe.
Ao
traduzir as palavras hebraicas para o grego, a Septuaginta (versão grega do
Antigo Testamento elaborada no século II a.C.) empregou as palavras gregas
indiscriminadamente para ambos os casos. Da mesma forma, os escritores do Novo
Testamento empregaram tais palavras sem qualquer critério lógico entre elas. Tal
como acontece em português, com o falou e disse.
Isso quer dizer
que, para você ter acesso aos sentidos da palavra de Deus, precisa estar
familiarizado com os modos de Deus falar. Para isso, há uma palavra escrita,
codificada, expressa na língua comum a nós humanos. Ela remete a um implícito,
que é o propósito de Deus a todos os homens em todos os tempos, que provoca um
efeito na consciência de quem a conhece.
É
somente neste sentido que a palavra de Deus é palavra de vida: que gera vida e aponta
direção para a vida. A Bíblia é este livro de vida para quem examina. Não
precisa de muito. Basta uma pequena porção, como uma semente, para produzir os
frutos para os quais ela se destina.
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