A vida
necessita de cuidado. Isso quer dizer que toda forma de vida importa. O cuidado
implica em cuidar e ser cuidado, em pensar e agir para que todos tenham acesso
a condições favoráveis de vida. A maneira com que cuidamos uns dos outros nos
remete a romper os limites da indiferença e a buscarmos desenvolver uma nova
espiritualidade.
A origem da
palavra “cuidado” tem a ver com cura. Na tradição latina, a cura tinha a ver
com relações que envolviam amor e amizade, demonstrações de preocupação com a
pessoa ou com o objeto que é amado. Implica uma atitude de atenção para com o
outro, mas também de inquietação com as circunstâncias que envolvem o outro.
Cuidar, então, pode ser visto muito mais que uma atitude, mas um modo de ser,
de se expressar e de construir relações que envolvem afetividade e
discernimento.
Uma
espiritualidade do cuidado implica em perceber a existência como um dom. Isso
nos motiva a desenvolver gratuidade que se manifesta em expressões de louvor.
Nossa existência não se basta em si mesma. Ele é resultado do cuidado amoroso
divino que partilha sua própria vida na vida de tantos outros.
Uma
espiritualidade do cuidado requer de nós uma atenção maior com a vida em todas
as suas formas. O ser humano é o único que tem habilidade para cuidar e
preservar de forma intencional o ambiente em que se dá a vida. Fomos colocados
no mundo como jardineiros, e não como exploradores.
A
espiritualidade do cuidado conduz ao enfrentamento da maldade. O mal no mundo
está disfarçado nas relações do homem com a natureza e com seu próximo, em que
um se coloca como mais forte diante do outro mais fraco. As relações de poder
não podem ser ocasião para a prática da maldade, mas para difundir o bem.
A
espiritualidade do cuidado se realiza historicamente imersa no contexto da
cultura. A força do trabalho criativo é o modo como o ser humano é capaz de
interferir na natureza. A humanidade recebeu a natureza criada como um dom e
Deus a convoca para unir-se a Ele no cuidado da natureza através do trabalho. O
Criador sabe o valor do trabalho, o reconhece como cansativo e sabe que a força
humana do trabalho é limitada. Por isso Ele também nos chama a tomarmos parte
do seu descanso a fim de renovarmos nossas forças a partir dele.
A
espiritualidade do cuidado desenvolve a compreensão de que a realidade do mundo
e das coisas é plural, que Deus ama a diversidade e que a graça divina é
multiforme. Conhecer a pluralidade e a diversidade da criação e da vida em sua
totalidade é impossível. Por essa razão, é preciso desenvolver uma abertura
para o novo, para o diferente e até para o imponderável. Não fomos chamados
para a uniformidade, mas para vivermos em unidade em meio à pluralidade.
A
espiritualidade do cuidado toma como pressuposto a imitação de Cristo. É
preciso ver em Jesus de Nazaré a revelação do Deus que esvazia-se de si mesmo
para se fazer humano. A fé em Jesus é um exercício de esvaziamento de si, e não
de um “enchimento” ou de acumulação, mas um abandono daquilo que nos desumaniza
para que possamos nos tornar tão humanos como Jesus foi.
A
espiritualidade do cuidado nos remete a uma ética que envolve cuidar do outro
numa relação de mutualidade, permitindo que ele cresça e seja o que é. A ética
do cuidado é o que nos leva a desenvolver a paciência, a tolerância, a
solidariedade, a generosidade, a humildade e a confiança em relação ao outro. E
isso se dá tanto em relação a uma pessoa quanto a uma comunidade, tanto em
relação a uma coisa quanto a uma ideia e também tanto em relação à natureza
quanto ao sagrado e ao transcendente.
Leia também: Princípios para uma teologia do cuidado >>.
Leia também: Lucas, o evangelho do cuidado >>.
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