Quando foi eleito em 2016, Trump
representou um retrocesso no processo democrático de tal modo que afetou o
mundo inteiro. Os reflexos da política reacionária de Trump estão nos protestos
antirracistas, como Vidas Negras Importam (Lack Lives Matters). A vitória de
Biden é uma conquista histórica por várias razões: primeiramente, põe fim às ameaças
que Trump simboliza; em segundo lugar, Biden teve o maior número de votos em
toda história e, em terceiro, pela primeira vez uma mulher negra, Kamala Harris,
se elegeu como vice-presidente dos Estados Unidos.
A grande luta travada nas
eleições norte-americanas foi entre a democracia e as forças conservadoras. O
conservadorismo se aliou ao que há de pior na política, inclusive utilizando-se
de um falso discurso religioso que arregimentou grandes setores evangélicos. A
extrema-direita assumiu para si a pauta conservadora, com argumentos
fundamentalistas e simpáticas a ideias fascistas, mas cobrou um alto preço: o
de tutelar a democracia.
O mundo vem assistindo ao avanço
das forças reacionárias e do fascismo, que se apropria, sobretudo, de
discursos religiosos. Entretanto, uma nova tendência emerge, que é a do
desenvolvimento de uma atitude de bom senso e de diálogo, sensível à ameaça aos
Direitos Humanos, à crise do capitalismo e aos problemas ambientais. Esses
reflexos encontram-se presentes também na América Latina, com a eleição de
representantes de esquerda na Argentina e na Bolívia, como também a vitória no
plebiscito contra a constituição ditatorial do Chile.
A democracia norte-americana tem
servido como modelo para o exercício das democracias modernas desde o século
XIX. Embora possua um sistema eleitoral antigo, que faz uso de procedimentos
arcaicos em um mundo tecnologicamente avançado, o cidadão norte-americano se
orgulha disso e se envolve com muito interesse em todo o processo, com a
participação de muitos voluntários. Sem dúvida, já existem sistemas eleitorais
mais avançados, com uso de tecnologia de ponta e segura. O próprio modelo eleitoral
brasileiro é um deles. Porém, o modo de tratar o sistema democrático nos Estados
Unidos é peculiar ao seu processo histórico.
A eleição de Joe Biden traz
novos ares para a democracia no mundo. Em termos de política interna
norte-americana, é um sinal de vitalidade e de retomada da força das
instituições democráticas daquele país, que estiveram ameaçadas durante o mandato
de Trump. Mas também é um sinal de que a democracia norte-americana precisa
renovar seus atores. Biden foi eleito com 77 anos de idade. Bill Clinton se
elegeu com 46 anos e Barack Obama com 48, ambos também do Partido Democrata.
O resultado dessas eleições
terá, sem dúvida alguma, reflexos na política brasileira. A atitude de
alinhamento com Trump, adotada por Bolsonaro, chega ao seu final. Sobretudo nas
áreas de política externa e de cuidado com o meio ambiente, o governo brasileiro
terá que rever suas estratégias e trabalhar com uma perspectiva de diálogo mais
afinada com as tendências que o mundo aponta. O mundo tende pelo caminho da multilateralidade,
da cooperação entre as economias e da garantia de direitos identitários.
Que os ventos que sopram na
democracia dos Estados Unidos soprem também por aqui.
(Foto: CNN Brasil).
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