
A grande razão para a existência desse tipo de atividade é o fato de que não há formas de organização humana sem conflito. Não podemos ignorar o fato de que as nossas interações formam uma rede, um tecido social que influencia a conduta humana. As pessoas normalmente aprendem através das ações intencionais, das crises e também dos relacionamentos. As ações intencionais nos remetem ao saber fazer, o tipo de conhecimento que está em alta em nossos dias. As crises nos estimulam a uma reflexão sobre o melhor aproveitamento dos recursos e das oportunidades a fim de construir uma condição melhor. Mas é nos relacionamentos que identificamos nossos pontos fracos e fortes e podemos encontrar caminhos para a realização pessoal.
Como uma atividade voltada para o mundo corporativo, a mentoria tem assumido pelo menos duas formas distintas, mas muito próximas entre si. Quando a mentoria é praticada por um nível hierárquico superior, com a finalidade de orientar o subordinado e de fazer com que as intenções da liderança sejam transformadas em ação, tem sido chamada de coaching.
Quando a preocupação está voltada para a vida como um todo, não só para as questões ligadas à carreira e à organização, tem sido chamada de mentoring. Nesse nível de mentoria, o que prevalece é o valor da pessoa como ela é, sem a preocupação com superação ou com tomadas de decisões, mas com o real interesse de aprofundar relacionamentos, realçar valores humanos e aumentar o nível de comprometimento com as pessoas.
A mentoria é uma estratégia muito antiga. Para alguns, ela foi pela primeira vez registrada na literatura na obra de Homero. A Bíblia tem relatos de atividade de mentoria bastante curiosos. Os profetas bíblicos desenvolviam seus discípulos através de um relacionamento muito próximo. Foi o caso do profeta Elias com o seu auxiliar Eliseu, que por sua vez, quando se tornou profeta, teve como auxiliar o jovem Jeazi. Jesus teve doze discípulos que foram treinados para o apostolado, mas ele escolheu três – Pedro, Tiago e João – para serem os mais próximos.
A mentoria é baseada na vivência, no caminhar junto, no compartilhar a vida. Poucos mentores profissionais sabem que seu principal papel não é ter todas as respostas, mas construir juntos o caminho para uma relação amigável, justa, equilibrada. É claro que o maior beneficiado de um ambiente em que as pessoas se respeitam e reconhecem o seu valor é a própria organização. Por isso que mais de um terço das grandes empresas nos Estados Unidos desenvolvem programas de mentoria, segundo as pesquisas por entidades ligadas à área de recursos humanos.
Quando é a hora de se preocupar com isso? (a) Quando a situação de crise externa exige flexibilização das ações; (b) quando a competitividade aumenta; (c) quando os conflitos internos atrapalham os relacionamentos; (d) quando se torna necessária a busca de novas ideias.
Mas você não precisa esperar ficar doente para poder ir ao médico. Você pode adotar um estilo de vida saudável e periodicamente procurar o médico para os exames preventivos e de rotina. Esse é o papel da mentoria na vida da organização: promover um ambiente saudável para os relacionamentos, viabilizar a comunicação interpessoal de forma eficaz, prevenir as possibilidades de conflito e valorizar as pessoas pelo que de fato elas são. Quem precisa disso? Todos. Famílias, empresas, escolas, igrejas, organizações, sindicatos, partidos políticos, órgãos públicos. É preciso redescobrir um modo para humanizar as relações a fim de tornar a vida mais significativa. O grande desafio da mentoria é verdadeiramente transformar indivíduos em pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário