
O fato ganhou força a partir de um conjunto
de reportagens, iniciado pelo jornal A Folha de São Paulo e veiculado pela
revista Veja a
respeito do episódio. A crise
institucional que atingiu o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva no
ano de 2005 ficou conhecida como “mensalão” por causa do nome usado por
Roberto Jefferson para descrever o pagamento de propina a parlamentares para a
compra de votos. Segundo o cientista político Augusto
Nunes (2005), o acontecimento foi marcado por uma sucessão de denúncias e se tornou
um exemplo do moralismo com que a classe média passou a questionar o ideal de
honra do Partido dos Trabalhadores e que provocou mudanças no modo de entender
a corrupção no Brasil.
A revista Veja caracterizou-se como o veículo de
informação que mais deu ênfase ao escândalo com uma sucessão de reportagens
principais durante quase oito meses daquele ano. A primeira reportagem ocorreu
em 18 de maio de 2005, denunciando um esquema de corrupção nos Correios,
envolvendo a atuação de seu diretor Maurício Marinho em um momento de recepção
de dinheiro da corrupção, flagrado através de um vídeo gravado.
Sistematicamente,
o periódico semanal alimentou a crise com uma sequência de
acontecimentos até resultar em seu esvaziamento, marcado pela reportagem da
cassação do então Deputado Federal e ex-ministro José
Dirceu, publicada na edição de 7 de dezembro de 2005. Durante todo o tempo, a ideia de “mensalão” foi realçada
por uma sucessão de significados, construídos ao longo do percurso, muitas
vezes simbolizados por dinheiro em malas, peças íntimas masculinas e outros
objetos, a fim de dar materialidade aos sentidos.
O mensalão existiu? Sim. Não só existiu em relação ao
epísódio, mas também em toda a história da República brasileira. E continua
existindo tanto em nível federal, quanto estadual e municipal. O que diferencia
o episódio de 7 anos atrás é o fato de que acontecia dentro de um governo que
havia chegado ao poder com um discurso ético. Além disso, estava em jogo a
figura política do operário que havia galgado o cargo mais alto da política
brasileira, que sempre foi dominado por uma elite.
A pergunta que se faz é: o STF está em condições de fazer
um julgamento jurídico isento de influências políticas do mensalão? A mídia influenciada
por essa elite que sempre esteve ligada ao poder quer que seja um julgamento político, mas a
sociedade exige que seja amplo e justo. A crise do mensalão não
só foi a pior crise da República, mas também um indicativo de que conchavos não
são mais eficientes para soluções de problemas relacionados ao exercício do poder.
A corrupção no Brasil - e no mundo - não é nova. Propina, recurso não contabilizado e caixa
dois de campanha são outros nomes para mensalão. Essa prática ainda está longe
de acabar na política brasileira. O que se imagina é que existe um recurso não
contabilizado que sustenta as campanhas eleitorais no Brasil desde o início da
República que só tem acesso a ele quem está no poder.
Entretanto, o Brasil não foi mais o mesmo depois das
primeiras imagens de corrupção dentro dos Correios. A banalização da propina
nunca mais foi a mesma, uma vez que foi exposta de forma a criar uma aversão à
prática. Sem perceber, o ato de embolsar uma pequena quantia fazia história e
mudava o rumo na forma de tratar a coisa pública.
Após o mensalão, a ética deixou de ser bandeira de uma
legenda para ser uma exigência, assim como a forma de fazer política deixou o
eixo moral e se deslocou para temas mais concretos como programas e conquistas
governamentais. Segundo os autores do Memorial do Escâncalo, Gerson Camarotti e
Bernmardo de La Peña, “toda vez que um país enfrenta momentos como os vividos
na crise de 2005 [...] a sociedade como um todo amadurece.”
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