A Copa do Mundo de Futebol é o segundo evento esportivo mais
assistido no mundo, ficando atrás apenas dos Jogos Olímpicos. Mais de 3 bilhões
de pessoas acompanharão os jogos pelas televisões no mundo todo e cerca de
quatro milhões de espectadores comparecerão às partidas nos estádios. Isso faz
dela o maior torneio de uma só modalidade.
A iniciativa de organizar um torneio internacional de futebol
remonta o ano de 1905, mas o primeiro campeonato só aconteceu mesmo no ano de
1930, no Uruguai. De lá para cá, foram 20 ocasiões em que seleções nacionais
disputaram entre si o título mundial. O torneio se dá em duas etapas: uma em
que são escolhidas as melhores seleções em cada continente, chamada de eliminatória;
outra que acontece envolvendo as 32 melhores equipes vencedoras, num país-sede
escolhido pela Federação Internacional de Futebol – a FIFA, a organizadora do
evento. A FIFA é uma organização que congrega hoje 209 países, mais até que a
própria ONU, que reúne 193 estados-membros.
Embora a prática do esporte não esteja vinculada a fatores
políticos, não resta a menor dúvida de que a Copa do Mundo interfere na
perspectiva sociopolítica e econômica dos países participantes. A própria
intenção de realizar um torneio que prima pela defesa da paz, pelo combate ao
racismo, pelo congraçamento entre os povos e pela igualdade das nações é, por
si só, uma evidência de sua influência política.
A copa já foi usada para difundir ideologias, como em 1934, quando
a Itália fascista aproveitou a conquista e o fato de ser país-sede para
declarar sua supremacia. A copa de 1954, na Suíça, foi marcada pela vitória da
Alemanha Ocidental, depois de anos impedida de tomar parte por causa do
envolvimento com o nazismo, e isso contribuiu para a elevação da autoestima do
povo alemão. A copa de 1986, no México, ficou conhecida como a Copa da Paz por
causa da campanha conjunta entre Fifa e ONU pela promoção da paz no mundo.
Apesar disso, a copa tem sido também ocasião para manifestações
violentas, seja por parte de torcidas organizadas agressivas – como a argentina
Barra Brava e os ingleses hooligans –,
seja pelo oportunismo de movimentos extremistas.
O Brasil conquistou o direito de sediar a Copa pela segunda vez em
2014 (a primeira foi em 1950). Some-se a isso o fato de que a seleção
brasileira é a única no mundo a participar de todos os torneios, a que detém o
maior número de títulos – cinco campeonatos – e a posse definitiva da primeira
taça, a Jules Rimet. Isso, porém, não acontece de forma tranquila para diversos
segmentos da sociedade que questionam os altos investimentos feitos para sediar
o evento.
A reflexão necessária, no entanto, se volta muito mais ao aspecto
humanizador que um torneio esportivo dessa dimensão envolve. O filósofo alemão do
século XVIII Friedrich Schiller argumenta sobre a capacidade que o jogo tem de
aproximar a preocupação com o conhecimento e a estética. Ele compreendia que o
jogo concentra em si aspectos que envolvem a noção de equilíbrio ligado à
integridade da pessoa humana e até mesmo ao exercício da liberdade. Ele afirmou
que o homem se torna plenamente humano quando joga.
Johan Huizinga, no século XX, considerou que o jogo se difere da
vida cotidiana na medida em que se constitui como uma atividade livre e
consciente, exercida em meio à tensão e a alegria. O jogo faz parte da cultura
e se manifesta na dinâmica das relações sociais.
Uma competição como a Copa do Mundo é ocasião para exercitar e
desenvolver a nossa humanização. A nossa cultura lúdica pode ser enriquecida de
modo que contribua para uma vida mais solidária e participativa, desperta o
senso de comunidade e aproxima as pessoas. A competição se dá em meio a
observação de regras, do desempenho de habilidades e de intencionalidades que
estão inter-relacionadas com as práticas e as interações cotidianas.
Assim é o jogo da vida. Participar dele é a grande jogada. E a
Copa do Mundo pode ser uma boa ocasião para pensar nisso e fazer as escolhas
acertadas.
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