sábado, 12 de setembro de 2020

Motivações para despertar a nossa paixão pelo cuidado da criação / Motivations to awaken our passion for the care of creation / Motivaciones para despertar nuestra pasión por el cuidado de la creación

A vida cristã nesses tempos de grandes transformações requer dos cristãos uma conversão radical. É preciso desenvolver uma consciência nova, uma mudança de entendimento, uma nova orientação a respeito de nosso modo de viver, de conviver, de crer e de organizar a vida em sociedade. Essa é a perspectiva da metamorphousthe e anakainwsei (palavras gregas empregadas por Paulo em Romanos 12.2 para se referir à transformação e renovação da mente) conforme proposta pelo Evangelho: uma mudança integral a partir do encontro com Jesus.

A vida de Francisco, o santo dos pobres, é um convite a pensar em como viver de forma intensa, nos dias atuais, as consequências do encontro com Jesus. Num tempo em que o testemunho de maus cristãos fala mais alto e sobressai nas mídias como exemplo do que há de pior no mundo, ser alguém que encarna a mensagem de amor, de perdão, de comunhão, de fé, de confiança, de esperança, de alegria e de discernimento que emana do evangelho é algo desafiador e tremendamente necessário.

Francisco de Assis nasceu em 1181 e viveu até o ano de 1226. Atuou como mercador, serviu como um soldado e viveu sua juventude como um burguês até o encontro com Jesus. Sua conversão desencadeou um processo lento de mudanças que o transformaram em alguém que se fez pobre junto aos pobres. Francisco encarnou a mensagem do amor ensinada por Jesus que conduz a ações concretas de cuidado com o próximo, de perdão, de acolhimento e de escuta do outro.

Francisco foi um pacifista, numa época em que a igreja promovia a solução de conflitos com uso de armas e violência. Ele foi também alguém que renunciou a riqueza, num tempo em que a igreja mantinha os privilégios dos mais abastados. Ele creu num Cristo mais humano, pobre e humilde, enquanto a cristandade enfatizava o glorioso, “pantocrator”, triunfalista, assentado num trono distante. Ele também optou por uma vida de comunhão plena com a criação em geral num tempo de total indiferença e falta de respeito com a natureza. Chamava a todos e todas de seus irmãos e irmãs.

Em seu Testamento, Francisco se apresentou como o irmão menor ou o “menor de vossos servos”, numa atitude de respeito e unidade com o corpo de Cristo. No encontro que teve com o comandante do exército islâmico, sultão Malik al Kamil, foi reconhecido como um promotor e mensageiro da paz. O sultão teria dito: “se os cristãos fossem como você, não haveria guerra entre nós”. Já em sua oração, deixou uma proposta de vida de serviço e dedicação ao outro, para a promoção da paz e da comunhão. E no “Cântico das Criaturas”, ele louvou ao Senhor por toda a criação, chamando a cada elemento – como o Sol, a Lua, o vento e até a morte – de irmão e irmã.

O princípio de Francisco para viver intensamente as consequências do seu encontro com Jesus está na proposta de observar o Evangelho como regra de vida (conforme o capítulo I da Regula Bullata). Sua vida inspirou a muitos relatos sobre sua santidade, motivou muitos jovens a abraçarem a obra da sua Ordem dos Frades Menores e promoveu uma renovação da fé cristã no mundo. Por essa razão, foi chamado por Dante Alighieri, na Divina Comédia, como “a luz que inspirou o mundo”.

A conversão radical que se requer dos cristãos passa pelos caminhos da construção de uma espiritualidade que seja mais humana e solidária, que atenda ao chamado divino de encarnar no mundo o amor uns pelos outros, de colocar a vida inteira a serviço do cuidado da criação e a exerce com criatividade nossos dons e talentos de forma relevante para o mundo. Ocupar o nosso tempo e o nosso pensamento nisso é um esforço urgente e necessário.

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