Bastaram apenas seis minutos para aquilo que
parecia ruim se tornasse pior. O jogo entre Brasil e Alemanha na semifinal da
Copa do Mundo da Fifa 2014 entra para a história como o maior vexame da seleção
com mais números a seu favor. A seleção brasileira tem cinco títulos mundiais, participou
de todas as edições do torneio, hospeda pela segunda vez o evento e possui o
maior número de gols marcados em partidas do mundial. Isso não é pouco.
O que saiu errado? Perder é do jogo, talvez não por
uma diferença tão grande. Qualquer peladeiro sabe que uma derrota por 7 a 1 é
uma vergonha e vira motivo de piada por muito tempo. Mas esse é o universo do
futebol. Um descuido, e o time adversário está lá com preparo e vontade para cumprir
o objetivo do jogo: fazer gols.
Dizer que a derrota do Brasil sobre a excelente
equipe alemã, em casa, é uma derrota da malandragem diante da competência é, no
mínimo, mais uma forma do famoso complexo de “vira-latas” dito por Nelson
Rodrigues que, como cronista de futebol, soube entender a alma do jogo. Tudo
bem, não precisava ser de 7 a 1. A seleção brasileira não é um bando de
moleques despreparados, chamados para fazer parte de uma farra com batucada.
São profissionais contratados por grandes clubes do mundo inteiro. E o técnico
já conduziu o Brasil a um título no passado, o do penta-campeonato, em 2002.
Foram apenas 6 minutos de apagão emocional para que
a “família Scolari” se desorganizasse, perdesse o foco e levasse quatro gols
(dos sete que sofreu), um atrás do outro. O que se viu dali por diante era
previsível. Nos números do jogo, o Brasil foi até melhor, menos num quesito:
fazer gol. Teve mais chances de gol, finalizou mais, teve mais lances dentro da
área adversária, teve mais posse de bola, mas nada disso ganha jogo. Os seis
minutos foram fatais. A casa já estava arrombada e os alemães fizeram a festa.
Há alguém que diga que eles foram até elegantes não fazendo mais gols.
Também não adianta “chorar o leite derramado”. E
não me venham com essa história de misturar política com futebol. Copa do mundo
não interfere nos resultados das eleições. Na Copa de 1950 – a do “maracanaço” –,
o Brasil vivia uma democracia, mas nada impediu que as pressões conservadoras
resultassem no suicídio de Getúlio Vargas em 1954. O Brasil foi campeão em 1958
e 1962, período áureo dos governos de Juscelino e Jango. O golpe militar veio
em 1964. Na copa de 1970, o Brasil vivia em plena ditadura. No título de 1994,
o presidente era Itamar Franco e tínhamos saído recentemente de um “impeachment”.
O título de 2002 foi durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, o
que não impediu que perdesse a eleição para Lula, do PT.
Também não faz sentido a ideia de que o governo de
Lula inventou trazer a Copa do Mundo para o Brasil a fim de garantir a
perpetuidade do seu partido no poder. O desejo de sediar o evento mais uma vez
era um desejo acalantado por todos. O Brasil participou de várias tentativas.
Até mesmo quando ficou definida a realização do torneio em terras brasileiras,
políticos e a maioria da população vibraram com a conquista. A prova disso é
que vários governos estaduais e de cidades, representando vários partidos, se candidataram
para sediar jogos do campeonato. Isso inclui a atuação de governadores que hoje
são candidatos à presidência na oposição, como é o caso de Aécio Neves e
Eduardo Campos. Até Marina Silva quis levar jogos da Copa para o Acre.
Perdemos no futebol por causa dos seis minutos
fatídicos, mas não perdemos a oportunidade de realizar uma grande Copa do
Mundo. Aquilo que todos previam como tragédia não aconteceu. Os estádios
ficaram ótimos, os aeroportos funcionaram satisfatoriamente, a mobilidade
urbana funcionou e todos os turistas foram muito bem acolhidos. Até no futebol
tivemos uma grande Copa, exceto naqueles seis minutos. Os atletas brasileiros foram
grandes desportistas, sabendo ganhar e perder com competitividade e superação.
Perdemos para a melhor seleção da Copa. Essa “tragédia”
do futebol será lembrada para sempre como o “mineiraço”. Assim como o “maracanaço”
marcou a vida do goleiro Barbosa, os onze atletas que estavam em campo, mais o
técnico, serão lembrados pelos seis minutos fatais.
Assim é no jogo e na vida. Você não é julgado pelo conjunto
das coisas boas que fez durante toda a vida, mas por uma falha que cometeu. Nesse
tempo do império do instante vivido e da valorização do gozo ao extremo, seis
minutos têm o peso da eternidade. De um momento para o outro, tudo pode mudar e a vida ganhar outro rumo. Mas o fato é que a vida não é só instante. É também
duração. Conta muito a maneira como você encara suas perdas e segue adiante.
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