“Não será assim entre vocês. [...]” Mateus 20.26
Onde está aquele Jesus que questiona as estruturas dominantes
que causam desigualdade e injustiça? A relação da cristandade com o poder tem
produzido seus encantos e não falta quem deseje a implantação de um sistema
político dominado pela fé cristã.
São dois grandes equívocos da relação entre fé cristã e
política: um, o de confundir poder com sistemas de poder; outro, de confundir a
mensagem de justiça que brota do evangelho com a implantação de uma estrutura
política. O resultado desses equívocos é um só: desconhecer as causas reais que
provocam toda forma de injustiça e desigualdade social no mundo.
Jesus teve a oportunidade de tratar disso quando a mãe de
dois dos seus discípulos o procurou para fazer um pedido inusitado. Ela queria
garantir uma vida estável e confortável para seus filhos no reino de justiça
que Jesus veio implantar. Porém, a lógica do evangelho é outra: menos é mais e
poder significa influência.
Jesus reconheceu que era legítimo o direito dos discípulos
serem tratados como o seu mestre. Então, que seja assim. Se alguém quiser ser o
maior, que seja o menor; se alguém quer ser o primeiro, que seja o último, se
alguém quer ser servido, que seja o servo de todos; se alguém quer ganhar a
vida, que a perca por amor a Jesus; se alguém quer ser perdoado, que aprenda a
perdoar; e se alguém tiver vergonha disso, será envergonhado.
A maior lição de relações de poder dentro do cristianismo foi
dada a partir de uma toalha e uma bacia. Isso é completamente diferente do que
a cristandade construiu desde a aproximação do poder romano com os cristãos lá
pelos idos do século IV.
O reino de Deus não precisa de uma estrutura de poder para
produzir seus efeitos. Ele já é a manifestação do poder de Deus entre os
homens, que precisa ser sinalizado historicamente através dos atos de justiça e
compaixão dos que tomam parte dele. Ao contrário, as estruturas humanas de
poder estão contaminadas por fatores que não se coadunam com a boa notícia do
Reino. Os sistemas de poder são exercidos por um jogo de dominação, por uma
estratégia de persuasão e por técnicas de controle.
O evangelho é a graça de Deus que chega aos homens em amor,
que acolhe o mais indigno, fortalece o mais vulnerável e exalta o que fora
humilhado. Não tem como misturar as coisas, nem como regatear a alegria da
graça com qualquer proposta política de mudança da conjuntura atual. A boa nova
do Reino é o único modo de mudar a realidade, porque transforma a vida de quem a
acolhe por dentro.
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