O resultado das
eleições 2014 requer uma leitura mais madura de nossa realidade como nação. A
vitória do governo atual, com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, não é
resultado de uma boa atuação, mas de um movimento silencioso que vem
acontecendo no país há algum tempo, que é a manifestação de insatisfação e o
desejo de mudança que acontece a partir das periferias.
Esse é um sinal
de que o cenário político ganhou novos contornos e quem não souber compreender
isso adequadamente poderá ser levado por interpretações equivocadas. Isso se
deu a partir do esquema de manipulação levado a efeito através da grande
imprensa e das redes sociais. O quadro apresentado era de uma situação pré-golpe
tal como nos acontecimentos anteriores ao golpe de 1964. Lembrava os discursos
do direitista e golpista Carlos Lacerda que dizia de Getúlio Vargas: "Não
pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar
posse. Se tomar posse, não pode governar."
O que as urnas
desta vez apontaram é que as forças conservadoras de direita, que sempre
estiveram à frente da República e que hoje se encontram na oposição, precisam
rever seu projeto de Brasil e as estratégias políticas para as próximas
eleições. Mas apontam também para o fato de que o governo atual precisa ser mais ágil nas políticas sociais e combater com
mais vigor a corrupção de seu próprio partido.
O voto no governo atual foi, ao mesmo tempo, um voto crítico, que tanto
aprova seu programa social quanto rejeita sua prática partidária, mas também um
veto à oposição, em que tanto se rejeita sua tática golpista e desleal quanto
pede que seja mais coerente.
O resultado das urnas é uma prova de que a democracia brasileira vai se
fortalecendo lentamente, encontrado finalmente seu caminho. Mas ainda há uma
necessidade urgente de reforma política, em que se pensa a possibilidade de uso
do voto distrital, em que se conquiste definitivamente o fim das coligações e
se repense o financiamento de campanha, principalmente com o fim do
financiamento de empresas.
A vitória do governo não se deu só no norte e nordeste, mas em todo o
Brasil onde a desigualdade e a injustiça campeiam. Foi um grito dos
excluídos e daqueles que lutam em sua causa. Enquanto houver pobreza e desigualdade
neste país não dá para se pensar em outra mudança possível. O governo atual já
conseguiu tirar o Brasil do mapa da fome, mas precisa tirar também do mapa das
desigualdades, da má distribuição de renda, nos baixos indicadores de educação
e saúde.
A força da grande imprensa conservadora mostrou-se mais uma vez intensa,
mas não foi suficiente para conter o poder das mídias alternativas. A
população tem uma atitude mais crítica e um acesso maior às informações que não
permite mais que denúncias de última hora interfiram tanto no resultado das
eleições.
De fato, o Brasil de hoje é melhor do que o de há 12 anos, mas muito
distante do ideal. Há ainda uma enorme dívida social histórica para com os menos
favorecidos, com aqueles que precisam de oportunidades para construírem um
futuro melhor. O grande desafio agora do governo é combater a corrupção, fazer
o país crescer mais, controlar a inflação a níveis inferiores ao atual e aproximar
as pessoas a um projeto de nação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário