sábado, 28 de outubro de 2017

O princípio protestante / The Protestant Principle / El principio protestante

Para Paul Tillich, a realidade que configura o movimento protestante está ligada a um dado poder, a um dinamismo que perpassa esse acontecimento histórico, ao qual denominou de “princípio protestante”. Diz ele, em A Era Protestante: “O princípio protestante é o juiz de qualquer realidade religiosa e cultural, incluindo a religião e a cultura que se chamem ‘protestantes’” (TILLICH, 1992, p. 183). E mais: “É o julgamento profético contra o orgulho religioso, a arrogância eclesiástica, e a autossuficiência secularizada com suas consequências destruidoras” (TILLICH, 1992, p. 183).
“O princípio protestante pode ser proclamado por movimentos pertencentes tanto ao domínio religioso como ao secular, mas sem qualquer filiação eclesiástica ou institucional, bem como por grupos ou indivíduos que, por meio de símbolos cristãos ou protestantes, ou sem eles, expressam a verdadeira situação humana em face do absoluto e do incondicional. Se nessas situações proclamam-se e vive-se melhor e com mais autoridade o princípio protestante do que nas igrejas oficiais, então é aí e não nas igrejas que o protestantismo se torna vivo no mundo atual” (TILLICH, 1992, p. 221).
A realidade que envolve a pluralidade da igreja protestante se apresenta de forma paradoxal na medida em que contrasta com o discurso de afirmação da unidade da fé cristã e se lança como um desafio para repensar os rumos do movimento nos dias atuais. Para Tillich, “[no poder da cruz, a] igreja protestante haverá de se manter na medida em que tiver consciência do significado de sua existência” (TILLICH, 1992, p. 216).
A própria dinâmica da proposta inicial do protestantismo, de uma igreja em reforma, já é em si um projeto arriscado. “A igreja protestante corre permanentemente o risco de se esquecer do seu sentido. Sua grande tragédia tem sido a insistência em possuir a ‘pura doutrina’, como se possuísse a verdade invulneravelmente” (TILLICH, 1992, p. 216). Contudo, essa é a sua principal característica: comportar em si a pluralidade que envolve a experiência de Deus no mundo.
“A Reforma deve continuar”, disse certa vez Friedrich Schleiermacher ao se rebelar contra a mentalidade dominante do protestantismo de sua época (apud James Luther Adams In: TILLICH, 1992, p. 285). Os primeiros cinco séculos de protestantismo – que Paul Tillich chamou de “era protestante” – foi marcado por transformações e contradições. Começou com a Reforma dialogando com o Humanismo, evoluiu através do diálogo com o pensamento liberal e o Iluminismo, acompanhou o período da revolução industrial e a consolidação do capitalismo, atravessou o século XX em meio a lutas e incertezas e chegou ao século XXI com o desafio de repensar sua continuidade.

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