Em seu O mal estar da pós-modernidade, Bauman identifica que a pós-modernidade é marcada por um surto de aconselhamento em função da insegurança existencial centrada na identidade individual. É a era dos especialistas em identificar problemas, daqueles que propõem soluções para a restauração da personalidade, dos que apresentam guias infalíveis para relacionamentos saudáveis, dos autores de livros de auto-ajuda.
Os homens e mulheres pós-modernos realmente precisam do alquimista que possa, ou sustente que possa, transformar a incerteza de base em preciosa auto-segurança, e a autoridade da aprovação (em nome do conhecimento superior ou do acesso à sabedoria fechado aos outros) é a pedra filosofal que os alquimistas se gabam de possuir (BAUMAN, 1998, p. 227).
Essa incerteza não gera a procura pela religião, mas a procura de especialistas de identidade. Os homens não precisa mais de pregadores que lhes apontem suas fraquezas e insuficiências humanas. “Eles precisam da reafirmação de que podem fazê-lo – e de um resumo a respeito de como fazê-lo” (BAUMAN, 1998, p. 222). Em lugar de promover a experiência vivida pelos “aristocratas” da tradição religiosa, a pós-modernidade coloca ao alcance de cada indivíduo uma perspectiva de auto-aprendizado dessa experiência religiosa. Em lugar de celebrar a fraqueza humana, a concepção pós-moderna pressupõe a capacidade infinita de realização humana. A versão religiosa da pós-modernidade visa à reconciliação do fiel a uma vida de prosperidade e de sucesso organizada em torno do dever de um consumo devotado e contínuo, ao contrário da experiência anterior, notadamente pietista, que visava à reconciliação do fiel com uma vida de privações e de ideal ascético.
Os exemplos e profetas da versão pós-moderna da experiência máxima são recrutados da aristocracia do consumismo – aqueles que conseguiram transformar a vida numa obra de arte da acumulação e intensificação das sensações, graças a consumir mais do que os que procuram comumente a experiência máxima, consumir produtos mais refinados e consumi-los de um modo mais requintado (BAUMAN, 1998, p. 224).
Das contradições da vida pós-moderna, surge uma forma de religiosidade que se caracteriza como uma oferta de racionalidade alternativa aos problemas gerados pela insegurança das escolhas. O fundamentalismo consiste na promessa de uma autoridade, de um olhar orientador, que dá consistência às decisões da vida que devem ser tomadas. Num mundo de fragmentações e diversidade, o fundamentalista tem coragem de dizer a maneira como se deve decidir de maneira que essa decisão encontre uma justificação segura. O fundamentalismo religioso faz parte de um conjunto de soluções totalitárias oferecidas como alternativa à desilusão da liberdade individual excessiva da pós-modernidade. “O fundamentalismo é um remédio radical contra esse veneno da sociedade de consumo conduzida pelo mercado e pós-moderna – a liberdade contaminada pelo risco (um remédio que cura a infecção amputando o órgão infeccionado – abolindo a liberdade como tal, na medida em que não há nenhuma liberdade livre de riscos)” (BAUMAN, 1998, p. 228).
(Extraído de minha dissertação de mestrado em filosofia)
Os homens e mulheres pós-modernos realmente precisam do alquimista que possa, ou sustente que possa, transformar a incerteza de base em preciosa auto-segurança, e a autoridade da aprovação (em nome do conhecimento superior ou do acesso à sabedoria fechado aos outros) é a pedra filosofal que os alquimistas se gabam de possuir (BAUMAN, 1998, p. 227).
Essa incerteza não gera a procura pela religião, mas a procura de especialistas de identidade. Os homens não precisa mais de pregadores que lhes apontem suas fraquezas e insuficiências humanas. “Eles precisam da reafirmação de que podem fazê-lo – e de um resumo a respeito de como fazê-lo” (BAUMAN, 1998, p. 222). Em lugar de promover a experiência vivida pelos “aristocratas” da tradição religiosa, a pós-modernidade coloca ao alcance de cada indivíduo uma perspectiva de auto-aprendizado dessa experiência religiosa. Em lugar de celebrar a fraqueza humana, a concepção pós-moderna pressupõe a capacidade infinita de realização humana. A versão religiosa da pós-modernidade visa à reconciliação do fiel a uma vida de prosperidade e de sucesso organizada em torno do dever de um consumo devotado e contínuo, ao contrário da experiência anterior, notadamente pietista, que visava à reconciliação do fiel com uma vida de privações e de ideal ascético.
Os exemplos e profetas da versão pós-moderna da experiência máxima são recrutados da aristocracia do consumismo – aqueles que conseguiram transformar a vida numa obra de arte da acumulação e intensificação das sensações, graças a consumir mais do que os que procuram comumente a experiência máxima, consumir produtos mais refinados e consumi-los de um modo mais requintado (BAUMAN, 1998, p. 224).
Das contradições da vida pós-moderna, surge uma forma de religiosidade que se caracteriza como uma oferta de racionalidade alternativa aos problemas gerados pela insegurança das escolhas. O fundamentalismo consiste na promessa de uma autoridade, de um olhar orientador, que dá consistência às decisões da vida que devem ser tomadas. Num mundo de fragmentações e diversidade, o fundamentalista tem coragem de dizer a maneira como se deve decidir de maneira que essa decisão encontre uma justificação segura. O fundamentalismo religioso faz parte de um conjunto de soluções totalitárias oferecidas como alternativa à desilusão da liberdade individual excessiva da pós-modernidade. “O fundamentalismo é um remédio radical contra esse veneno da sociedade de consumo conduzida pelo mercado e pós-moderna – a liberdade contaminada pelo risco (um remédio que cura a infecção amputando o órgão infeccionado – abolindo a liberdade como tal, na medida em que não há nenhuma liberdade livre de riscos)” (BAUMAN, 1998, p. 228).
(Extraído de minha dissertação de mestrado em filosofia)
Caro professor, o sr tocou em um ponto que há muito tenho batido. O contexto religioso atual é totalmente propício para a propagação vitoriosa das "liturgias de bens e serviços" que o neo-pentecostalismo sabe tão bem expandir.
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