domingo, 22 de março de 2020

Coronavírus: Aprendizagens em tempo de calamidade / Coronavirus: Learning in times of calamity / Coronavirus: El aprendizaje en tiempo de calamidad


Que lições podemos aprender dessa pandemia que assola o mundo? Estamos em um tempo de calamidade. Talvez você esteja entre aqueles que não concordam com isso e até ache que há um certo exagero e uma histeria com isso. Mas não duvide que estamos apenas na fase inicial da contaminação e que a tendência – levando em consideração com o que aconteceu na China e com o que acontece na Itália – é que teremos tempos muito difíceis pela frente. Vai ser um tempo que vai exigir muito de todos nós, da economia e das políticas públicas. Os que são mais ricos terão que entender que será necessário abrir mão de seus ganhos em favor de quem não tem nada. Essa fase vai ser de muitos sacrifícios, e talvez de algumas perdas, e temos que nos prepararmos para o que está por vir a fim de ajudarmos uns aos outros.
Toda fase de crise tem uma lição a ser aprendida. Qual a lição que podemos tirar desse tempo de pandemia do coronavírus? Precisamos reportar a um momento da história do cristianismo para podermos encontrar caminhos de aprendizagem para hoje. O apostolo Pedro, ao orientar os primeiros cristãos diante das perseguições da época, disse: “para que, no tempo que lhe resta, não viva mais para satisfazer os maus desejos humanos, mas sim para fazer a vontade de Deus” (1 Pedro 4.2). Essa palavra serve para nós também. Estamos vivendo um tempo de perplexidade diante das possibilidades que estão por vir.
As pessoas mais conceituadas que têm emitido opiniões sobre os últimos acontecimentos e sobre o que podemos fazer diante do que está acometendo a humanidade em geral, todos usam uma palavra em comum: solidariedade. A única coisa que podemos fazer é sermos solidários. Essa palavra tem chamado a atenção das pessoas no mundo todo. A humanidade está perplexa. Chegamos a um ponto de descobrirmos que éramos orientados por uma grande ilusão. Tínhamos a ilusão de que possuíamos o controle de tudo, que a ciência poderia dar todas as respostas, de que tínhamos um sistema econômico que podia comprar soluções para todos os problemas, que detínhamos o poder nas mãos e que havíamos chegado ao auge de nossa capacidade de criação e de produção. Na Itália, as famílias não conseguem sequer sepultar os seus mortos nem se despedir deles.
Será que esse vírus não veio para dizer para a humanidade toda que somos limitados, que precisamos abrir mão de nossos preconceitos, que é hora de reconhecermos que somos membros de uma mesma família humana e vivemos numa mesma casa comum, que precisamos da graça de Deus em nossa vida? Há relatos de que as pessoas estão redescobrindo belezas naturais e valores sociais e culturais que haviam sido esquecidos. Tudo isso tem ajudado a vermos que a humanidade adotou um modo de vida completamente distante do propósito de Deus para a vida, diferente do que seria ideal para as pessoas, que vivemos até aqui um grande engano. No meio dessa dor, de luta e de busca de respostas contra o avanço do vírus, a gente começa a ter esses vislumbres de que estávamos errados até aqui, que alguma coisa escapou do controle e que está na hora de restaurar isso.
Em vez de ficarmos enclausurados esperando alguma resposta milagrosa chegar ou que algum remédio mágico possa ser encontrado, vamos aproveitar para aprender algumas lições a partir dessas situações dolorosas que estamos vivendo. No dia 22 de março, o filósofo italiano Domenico de Masi escreveu no jornal A Folha de São Paulo sobre sua perplexidade ao ver a gloriosa cidade de Roma, onde vive, vazia e sem ninguém nas ruas. Ele afirmou: “Talvez tenhamos aprendido que o caso agora é de vida ou de morte e que ninguém pode enfrentar sozinho um vírus tão ardiloso e potente”.
Isso lembra um conselho de Paulo a Tito: “[A graça] nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente” (Tito 2.12). Nesse tempo, precisamos descobrir o quanto estamos precisando da graça de Deus em nossa vida, o quanto carecemos do amor, da misericórdia e da compaixão de Deus. Essa graça maravilhosa, que faz falta na vida, foi deixada para trás. A humanidade a abandou em troca de conhecimento, de poder e de capacidade econômica. Mas é ela que vai nos ajudar a viver nesse tempo de maneira sensata, justa e piedosa, que pode nos levar a rejeitar paixões ilusórias, que vai nos libertar do engano que o conhecimento, o poder e a economia nos proporcionaram até aqui. Essa graça vai nos conduzir adiante para uma nova vida daqui para frente.
Se é isso que pode acontecer, precisamos pensar em alguns sentidos da graça, de como ela se realiza na vida. Há quatro sentidos da graça na vida que precisam ser resgatados. O primeiro deles é o da comunhão. Graça tem a ver com a oportunidade de estarmos juntos e de descobrirmos que o outro é o melhor retrato que temos de Deus para nós. Fazemos parte de uma aldeia global em que todos que estão produzindo alguma coisa em termos de conhecimento e de cultura importam. Precisamos descobrir que precisamos de todos e todas, de todos os saberes e de todas as formas de vida. O segundo sentido é o da solidariedade. Não se iluda, não há ainda (até este presente momento) um remédio na farmacologia para essa pandemia. A doença provocada pelo coronavírus só tem um remédio, que é a solidariedade. O terceiro sentido é o da esperança. As pessoas estão entrando em pânico, mas é preciso desenvolver a crença de que todos sairemos dessa, de que Deus está cuidando de nós e que precisamos fazer a nossa parte também. Isso nos leva a pensar que toda vida importa, que o nosso compromisso é de lutar até a última pessoa a ser salva. Precisamos estar juntos ao combinar nossas ações com o cuidado divino até superarmos tudo isso. O quarto sentido é o da humanidade. A graça nos ajuda a sermos humanos melhores, ela restaura o humano que há em nós, ela desperta em nós o desejo por atos que promovam a dignidade da pessoa humana. As políticas públicas, as práticas econômicas, as decisões corporativas devem estar voltadas para a garantia de direitos que valorizam a dignidade humana.
Esse tempo de calamidade, de pandemia, de peste é uma oportunidade para termos mais comunhão, sermos mais solidários, a termos mais esperança e a sermos mais humanos. A graça nos ajuda a construirmos essa condição. É preciso relembrar a experiência de Jó. Em meio aos momentos de aflição que enfrentou, ele não abriu mão de crer que á uma chance de restauração. Ele dizia: Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25). Os prognósticos apontam para o fato de que o quadro geral vai piorar. Mas tenha certeza que a vitória vai chegar e que poderemos enfrentar esse tempo juntos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails