Que lições podemos aprender
dessa pandemia que assola o mundo? Estamos em um tempo de calamidade. Talvez
você esteja entre aqueles que não concordam com isso e até ache que há um certo
exagero e uma histeria com isso. Mas não duvide que estamos apenas na fase
inicial da contaminação e que a tendência – levando em consideração com o que
aconteceu na China e com o que acontece na Itália – é que teremos tempos muito
difíceis pela frente. Vai ser um tempo que vai exigir muito de todos nós, da
economia e das políticas públicas. Os que são mais ricos terão que entender que
será necessário abrir mão de seus ganhos em favor de quem não tem nada. Essa
fase vai ser de muitos sacrifícios, e talvez de algumas perdas, e temos que nos
prepararmos para o que está por vir a fim de ajudarmos uns aos outros.
Toda fase de crise tem uma lição
a ser aprendida. Qual a lição que podemos tirar desse tempo de pandemia do
coronavírus? Precisamos reportar a um momento da história do cristianismo para
podermos encontrar caminhos de aprendizagem para hoje. O apostolo Pedro, ao orientar
os primeiros cristãos diante das perseguições da época, disse: “para que, no tempo que lhe resta, não viva
mais para satisfazer os maus desejos humanos, mas sim para fazer a vontade de
Deus” (1 Pedro 4.2). Essa palavra serve para nós também. Estamos vivendo um
tempo de perplexidade diante das possibilidades que estão por vir.
As pessoas mais conceituadas que
têm emitido opiniões sobre os últimos acontecimentos e sobre o que podemos
fazer diante do que está acometendo a humanidade em geral, todos usam uma
palavra em comum: solidariedade. A única coisa que podemos fazer é sermos
solidários. Essa palavra tem chamado a atenção das pessoas no mundo todo. A
humanidade está perplexa. Chegamos
a um ponto de descobrirmos que éramos orientados por uma grande ilusão.
Tínhamos a ilusão de que possuíamos o controle de tudo, que a ciência poderia
dar todas as respostas, de que tínhamos um sistema econômico que podia comprar
soluções para todos os problemas, que detínhamos o poder nas mãos e que
havíamos chegado ao auge de nossa capacidade de criação e de produção. Na
Itália, as famílias não conseguem sequer sepultar os seus mortos nem se
despedir deles.
Será que esse vírus não veio
para dizer para a humanidade toda que somos limitados, que precisamos abrir mão
de nossos preconceitos, que é hora de reconhecermos que somos membros de uma
mesma família humana e vivemos numa mesma casa comum, que precisamos da graça
de Deus em nossa vida? Há relatos de que as pessoas estão redescobrindo belezas
naturais e valores sociais e culturais que haviam sido esquecidos. Tudo isso tem
ajudado a vermos que a humanidade adotou um modo de vida completamente distante
do propósito de Deus para a vida, diferente do que seria ideal para as pessoas,
que vivemos até aqui um grande engano. No meio dessa dor, de luta e de busca de
respostas contra o avanço do vírus, a gente começa a ter esses vislumbres de
que estávamos errados até aqui, que alguma coisa escapou do controle e que está na
hora de restaurar isso.
Em vez de ficarmos enclausurados
esperando alguma resposta milagrosa chegar ou que algum remédio mágico possa
ser encontrado, vamos aproveitar para aprender algumas lições a partir dessas
situações dolorosas que estamos vivendo. No dia 22 de março, o filósofo italiano
Domenico de Masi escreveu no jornal A
Folha de São Paulo sobre sua perplexidade ao ver a gloriosa cidade de Roma,
onde vive, vazia e sem ninguém nas ruas. Ele afirmou: “Talvez tenhamos
aprendido que o caso agora é de vida ou de morte e que ninguém pode enfrentar
sozinho um vírus tão ardiloso e potente”.
Isso lembra um conselho de Paulo
a Tito: “[A graça] nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões
mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente” (Tito 2.12). Nesse tempo, precisamos descobrir
o quanto estamos precisando da graça de Deus em nossa vida, o quanto carecemos
do amor, da misericórdia e da compaixão de Deus. Essa graça maravilhosa, que
faz falta na vida, foi deixada para trás. A humanidade a abandou em troca de
conhecimento, de poder e de capacidade econômica. Mas é ela que vai nos ajudar
a viver nesse tempo de maneira sensata, justa e piedosa, que pode nos levar a
rejeitar paixões ilusórias, que vai nos libertar do engano que o conhecimento, o
poder e a economia nos proporcionaram até aqui. Essa graça vai nos conduzir
adiante para uma nova vida daqui para frente.
Se é isso que pode acontecer,
precisamos pensar em alguns sentidos da graça, de como ela se realiza na vida.
Há quatro sentidos da graça na vida que precisam ser resgatados. O primeiro
deles é o da comunhão. Graça tem a ver com a oportunidade de estarmos juntos e
de descobrirmos que o outro é o melhor retrato que temos de Deus para nós.
Fazemos parte de uma aldeia global em que todos que estão produzindo alguma
coisa em termos de conhecimento e de cultura importam. Precisamos descobrir que
precisamos de todos e todas, de todos os saberes e de todas as formas de vida.
O segundo sentido é o da solidariedade. Não se iluda, não há ainda (até este
presente momento) um remédio na farmacologia para essa pandemia. A doença
provocada pelo coronavírus só tem um remédio, que é a solidariedade. O terceiro
sentido é o da esperança. As pessoas estão entrando em pânico, mas é preciso
desenvolver a crença de que todos sairemos dessa, de que Deus está cuidando de
nós e que precisamos fazer a nossa parte também. Isso nos leva a pensar que
toda vida importa, que o nosso compromisso é de lutar até a última pessoa a ser
salva. Precisamos estar juntos ao combinar nossas ações com o cuidado divino
até superarmos tudo isso. O quarto sentido é o da humanidade. A graça nos ajuda
a sermos humanos melhores, ela restaura o humano que há em nós, ela desperta em
nós o desejo por atos que promovam a dignidade da pessoa humana. As políticas
públicas, as práticas econômicas, as decisões corporativas devem estar voltadas
para a garantia de direitos que valorizam a dignidade humana.
Esse tempo de calamidade, de
pandemia, de peste é uma oportunidade para termos mais comunhão, sermos mais
solidários, a termos mais esperança e a sermos mais humanos. A graça nos ajuda
a construirmos essa condição. É preciso relembrar a experiência de Jó. Em meio
aos momentos de aflição que enfrentou, ele não abriu mão de crer que á uma
chance de restauração. Ele dizia: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se
levantará sobre a terra” (Jó
19.25). Os prognósticos apontam para o fato de que o quadro geral vai piorar.
Mas tenha certeza que a vitória vai chegar e que poderemos enfrentar esse tempo
juntos.
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