sábado, 26 de março de 2011

A primavera árabe: Reflexão sobre a crise no mundo árabe / the crisis in the Arab world / la crisis en el mundo árabe

As manifestações que eclodem no mundo árabe trazem uma expectativa por um tempo de liberdade a um povo acostumado às expressões tribais e a uma visão de mundo moralista e, até certo ponto, mítica. O fato é que a juventude urbana e de classe média – em sua maioria – se levanta para clamar, num contexto oriental e islâmico, por direitos e liberdade protagonizados pela racionalidade ocidental.
Desde os primeiros levantes que começaram em janeiro de 2011 na Tunísia e que se espalharam pelo Egito e o Bahrein, as manifestações pedem por liberdade de expressão, direitos civis e mudanças políticas como o fim das longas ditaduras. Kaddafi foi o que mais resolveu pagar o preço de tentar conter o inexorável movimento das mudanças. Líder da Líbia por mais de 40 anos, sua atitude demonstra o que ele sempre quis fazer: guerrilha, e agora contra seu próprio povo. Quem leu o incoerente “livro verde” dele sabe disso. Eu tinha 19 anos quando o li e avisei aos amigos naquela época que se tratava de um ditador oportunista.
Ao acompanhar as manifestações que se estendem hoje pela Síria, Iêmem, Argélia, Marrocos, Jordânia, Omã e Irã (o Iraque também, mas o quadro deixado pela guerra com os norte-americanos confunde os melhores analistas), é possível verificar que há uma forte busca por um novo paradigma político para a região.
Tenho orado sistematicamente por esses povos desde as primeiras notícias. Lembro-me que eles fazem parte da Janela 10/40, uma região delimitada pelas agências missionárias cristãs na década de 1990, onde se encontra o maior índice de perseguição aos cristãos e o menor número de seguidores da fé cristã.
Não quero fazer uma aproximação entre a “primavera árabe” (como tem sido chamada essa crise) e a proposta missionária que mobilizou cristãos de todo o mundo para interceder pelas nações dessa faixa de terra. Quero, sim, entender o movimento histórico dessas mudanças.
Temo que as aspirações, que ganharam proporções extraordinárias através dos sites de relacionamento, apontem para o equívoco em que o ocidente se encontra: o de viver uma liberdade individual, neo-hedonista e fragmentada. Mas me entusiasmo com o despertar de uma geração que ousa sonhar um futuro melhor e lutar por novas utopias.
Não resta a menor dúvida que se trata de uma ocidentalização do mundo árabe. Como será a convivência desse novo paradigma com a sua milenar cultura tribal ninguém sabe. Porém, é impressionante ver a força de quem ousa sonhar e, mesmo que nenhum dos seus sonhos possa ser realizado, se nega a viver o pesadelo de não lutar pelos seus sonhos.

domingo, 13 de março de 2011

Terremoto, tsunami e escatologia / Earthquake, tsunami and eschatology / Terremoto, tsunami y la escatología

O mundo geme. Pede socorro. Europa em crise financeira. Mundo árabe sob tensão. Terremoto e tsunami no Japão. Isso nos remete de volta à relação entre desastres naturais e tragédia humana. Suscita a pergunta sobre Deus. Sinais de que Jesus está voltando? Sim e não. Sim porque a parousia de Jesus pode acontecer a qualquer instante, nós é que temos que estar sempre preparados. O próprio Jesus ensinou: "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações se verão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar [...] Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês." Lucas 21.25 e 28. Não porque Jesus mesmo disso que esses sinais apenas fazem parte do "princípio das dores". E que dor! A dor da natureza que sofre as consequências dos equívocos humanos.
E a igreja? Mais uma vez demonstra que não tem uma teologia para o cuidado com a natureza. Para muitos cristãos, tudo isso é sinal da destruição, da ira de Deus, do castigo pelo pecado. Esse é um alerta para a igreja de hoje, que precisa ser portadora da graça, movida pela compaixão, que admira e cuida do mundo de Deus porque ama o seu criador.
Qual a saída para um mundo em crise? A graça. É o modo sobrenatural e gratuito com que Deus fornece aos homens os meios necessários a sua existência e salvação. Deus nos capacita a viver do modo como ele mesmo nos criou para ser. E isso ele faz motivado unicamente pela sua misericórdia e amor, por sua iniciativa própria, sem que precisemos pedir nada ou oferecer nada em troca. Por isso que muitos dizem que o sentido da graça é “favor imerecido”.
Essa palavra foi escolhida porque é derivada da expressão latina gratia que se refere ao conjunto das qualidades que descrevem a condição de vida das pessoas que a possuem. A graça é um presente de Deus a toda a humanidade. Deus deseja que todas as pessoas desfrutem de sua graça. Uma definição de graça: “A influência divina sobre o coração, e seu reflexo na vida” (Strong). Conforme diz a Bíblia: “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.” Tito 2.11.
Como a graça pode ser compartilhada a esse mundo que geme? Como a graça pode se tornar uma realidade concreta para o mundo? A teologia construiu o conceito de “meios da graça”, que são as formas através das quais a graça de Deus na nossa vida pode ser compartilhada. Os principais meios da graça são: o conhecimento das Escrituras, a proclamação do evangelho, a vida de testemunho, a oração e a comunhão.
Uma teologia que aponta para a graça precisa necessariamente dizer para um mundo que geme que há esperança. O Deus que criou a natureza que tem toda essa fúria é o mesmo Deus que nos ama e nos aceita como somos. Mesmo que esteja evidente que toda essa catástrofe é consequência das atitudes humanas, Deus ainda assim reivindica para si a humanidade toda para lhe dar um futuro e uma esperança

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