domingo, 28 de junho de 2009

O cuidado com o outro / The care with other / El cuidado con otros

O mesmo poder que Jesus operou ao cuidar de vidas e transformá-las está a nossa disposição para que possamos fazer o mesmo com outros. Jesus não só foi um mestre em fazer conexões, mas nos chamou para tomar parte dessa tarefa com ele. E a maior descoberta que podemos fazer é a de que pessoas comuns como nós somos têm um poder extraordinário para transformar a vida dos outros.
Esse poder está no encontro daquilo que a gente tem de melhor na nossa personalidade com aquilo que está nos recantos mais íntimos da vida do outro e ali faz diferença, influenciando vida.
A capacidade para mudar a vida de uma pessoa não está nos conselhos que damos nem nas nossas boas intenções em ajudar, mas está em algo que une duas pessoas na experiência de partilhar vida.
As causas de todas as nossas dificuldades emocionais e de relacionamento está na falta dessa ponte que nos une ao outro. Isso nos impede de receber vida e de transbordar para o outro a vida que há em nós.
Uma pessoa que sabe fazer conexões é alguém que assume para si esse movimento expressivo e significativo na direção do outro. Pessoas conectadas acreditam no que o outro pode vir a ser porque acreditam que há algo de bom e de divino nela que precisa ser restaurado. Pessoas conectadas aceitam o desafio de partilhar com o outro a vida que experimentam.
Normalmente, na relação com o outro, somos tentados a assumir uma atitude moralista que tenta estabelecer controles do que é certo e errado, do que pode e do que não pode. De um lado, assumimos o papel de exortar e cobrar atitudes; de outro, agimos na tentativa de adaptar a uma situação que seja confortável. A consequência disso é tremendamente desastrosa e nociva. Isso desperta sentimentos de culpa, de vergonha, de ameaça, de medo, de manipulação.
A minha preocupação é que possamos assumir um compromisso de nos constituirmos como uma comunidade terapêutica que sabe inovar no cuidado com o outro. Podemos encontrar sugestões para isso na parábola que Jesus contou sobre a ovelha perdida. Ela se encontra registrada em Lucas 15.1-7. O guardador de rebanhos tinha 100 ovelhas, mas uma se perdeu no meio do caminho.
Quando Jesus contou essa parábola, ele estava sendo acusado de se unir a pecadores. A história que ele contou apresenta o que pode acontecer quando estabelecemos conexões que sejam significativas e restauradoras de vida: aquilo que estava perdido – nosso valor mais intrínseco, nossa dignidade como pessoas – pode ser resgatado.
O sentido de estarmos perdidos para Deus é que estamos perdidos de nós mesmos. E o grande sentido do resgate de Deus é que ele vem ao nosso encontro para restaurar aquilo que há de melhor em nós e que ficou escondido em algum lugar secreto, para sermos exatamente aquilo para o qual ele mesmo nos criou. É esse gesto de Deus que está ao nosso alcance. Pessoas que agem assim não só são necessárias. São imprescindíveis

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A maior flor do mundo / The largest flower in the world / la flor más grande del mundo

Baseado em um conto de José Saramago. Está em espanhol, mas é perfeitamente compreensível para falantes do português. Uma lição de humildade e de como podemos construir melhor nossas relações com o mundo em que vivemos.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Conexões / connections / conexiones

Em 1961, em pleno domingo, Berlim foi invadida por mais de 40.000 homens – construtores, policiais e soldados – que ergueram uma cerca de arame farpado ao longo da cidade em apenas 1 hora. De repente, as pessoas estavam separadas de seus parentes, irmãos, pais, filhos e amigos. O objetivo era impedir que cidadãos da Alemanha Oriental passassem para a Alemanha Ocidental. Durante o tempo em que o muro existiu perto de 200 pessoas morreram, 2000 foram feridas e 3200 detidas tentando ultrapassar o muro. Somente em 9 de novembro de 1989, o muro de Berlin foi derrubado.
De forma curiosa, por volta dessa mesma época, Brasil e Paraguai, dois países que no século XIX já tinham travado um conflito sangrento que se estendeu por quase 5 anos, assinavam o acordo de construção da Ponte da Amizade no mesmo lugar onde se travou a maior das batalhas, a batalha de Riachuelo, que os uniria. Uma ponte com a extensão de 552,40 metros, com vão livre de 305 metros e altura de 78 metros. A Ponte da Amizade foi concluída em 1962.
Isto é apenas um retrato de como age a humanidade. Assim, cheia de muros e de pontes. Muros que separam pessoas por questões de raça, religião ou costumes diferentes. E pontes que não conhecem desafios naturais, rios, mares ou até mesmo distâncias, para tentar unir mais as pessoas. No que diz respeito à atitude humana, podemos dizer que só existem dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que constroem muros e aquelas que constroem pontes. Alguns de nós passamos a vida construindo muros. Outros constroem pontes.
Jesus Cristo optou por construir pontes. Ele veio ao mundo, nasceu de forma humilde, cresceu, andou pelas vilas e cidades de seu país ensinando, curando e restaurando vidas com esse objetivo: derrubar muros e construir pontes.
A Bíblia diz que ele mesmo veio para destruir o muro de separação e de inimizade entre os homens: “[...] destruiu a barreira, o muro de inimizade”.
Com certeza, muitos muros caíram ante a presença de Jesus: muros de discórdia, muros de intolerância, muros de preconceitos, muros de indiferença, muros da falta de perdão. Muros, que são verdadeiras muralhas intransponíveis.
Contudo, Ele foi um construtor de pontes por excelência. Entre o duras exigências de uma sociedade injusta e a multidão que andava perdida nas cidades, ele foi a ponte da misericórdia por onde passam todos cansados e sobrecarregados a procura de um descanso para as suas almas aflitas – “vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados...” Entre os acusadores moralistas e a mulher pecadora arrependida, ele foi a ponte do perdão – “nem eu te condeno, vai e não peques mais”. Entre o coração aflito de um pai esmagado pela perda de sua filhinha, e a incredulidade da massa circundante ele foi a ponte da esperança – “somente crê”.
Cristo, foi o grande construtor de pontes porque permitiu que pessoas comuns como nós encontrassem um valor mais verdadeiro em nossa própria vida que resultasse em um sentido maior da vida. A maior expressão dessa capacidade de Jesus em construir pontes é a restauração de nossa conexão com Deus. Em Jesus Cristo, podemos descobrir que há vida e que essa vida tem maior sentido porque está conectada em Deus.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Igreja emergente: como ser uma igreja contemporânea? / Emerging Church: how to be a contemporary church? / Iglesia emergente: ¿cómo ser una iglesia co

A questão que tem tomado conta das lideranças cristãs atualmente é: como ser igreja nos dias de hoje? Como falar de Cristo a um mundo que se tornou menos religioso? Além disso, vivemos em um tempo marcado por um descrédito nas instituições e uma valorização da diversidade e de alternativas. Alguns o chamam de pós-modernidade. O fato é que a condição contemporânea da cultura tem sido um tema que vem sendo tratado há algum tempo, notadamente a partir da obra de Richard Niebuhr, Cristo e cultura, um dos livros de maior influência sobre o assunto.
Para pensar nisso, é preciso levar em conta a mensagem que a igreja precisa apresentar, principalmente quantos aos métodos, em uma época em constante evolução. Isso pode trazer à luz ideias que nos confrontam acerca da relação que pode ser estabelecida entre evangelho e cultura, igreja e mundo, mesmo nesse tempo, sem perder a essência. O que precisa estar em evidência é: como ser uma igreja relevante?
Numa reflexão como essa, a preocupação central deve ser a respeito da necessidade que a igreja tem de vivenciar a mensagem cristã como o conjunto de seguidores de Cristo que é, num contexto sociocultural que passa por mudanças. A base para isso é a concepção de que é possível afirmar as distinções entre igreja e mundo sem estabelecer uma separação entre os dois, uma vez que ela existe para o mundo, não para promover uma cultura distinta de seu contexto. É dessa maneira que a igreja pode tornar-se mais relevante para esse tempo. Ter relevância não é ter a concordância de todos a sua volta, mas fazer com que nossas expressões de fé sejam como um maná fresco e doador de vida para hoje.
Ao contrário da compreensão engendrada pelo cristianismo na Modernidade, baseado na confiança do poder do conhecimento para transformar o indivíduo, é necessário redescobrir a possibilidade da revelação de um Deus que se relaciona conosco através de uma mensagem que deve ser compartilhada com pessoas que sofrem. A descoberta de um Deus que fala hoje só é possível pela inserção das pessoas que confiam e acreditam nessa possibilidade em sua própria cultura. Foi isso que Jesus fez. Ele foi uma pessoa do seu tempo. E Deus nos chama para viver essa tenção de viver a fé em nosso tempo.
Surge, com isso, uma tendência e uma necessidade de se dar mais ênfase às palavras e à vida de Jesus conforme se encontra nos evangelhos, mas na perspectiva de que Jesus foi uma pessoa inserida na cultura e que valem para hoje. É preciso descobrir que Deus age mesmo em meio a situações que não são tidas como espirituais. A espiritualidade não está dissociada da arte, da cultura, da música, do teatro, da economia, da política. Ela é a maneira como vivemos no mundo, da qual participamos ativamente. Isso não tem nada a ver com as formas como nos constituímos como igreja, mas com a maneira como nos tornamos participantes do reino de Deus, o que se manifesta através dos relacionamos que construímos, e não nas práticas religiosas e manutenção das tradições. A vida comunitária nasce espontaneamente a partir de valores e ações que são compartilhados, na medida em que as pessoas são encorajadas a conviverem e a cooperarem entre si.
Esse é um grande desafio. Boudrillard denominou essa época de “a sociedade do espetáculo”. Na medida em que somos seduzidos pela aparência, somos chamados a um compromisso de sermos agentes para derrubar as barreiras que têm separado as pessoas de um Deus que as ama, pessoas sensíveis à espiritualidade, mas indiferentes à religião sistematizada.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Bioética e espiritualidade / bioethics and spirituality / la bioética y la espiritualidad

Quando se fala de bioética, logo vem à mente questões relacionadas à pesquisa de células tronco, aborto, eutanásia e manipulação genética. Mas a principal questão que a ser levantada deve ser relativa ao sentido da existência humana diante dos avanços tecnológicos. Exatamente pelo fato de que tais avanços dão a falsa ideia de que a humanidade melhorou por causa das recentes descobertas.
Desde a década de 1950, é possível perceber que cada vez mais precisamos de uma ciência que nos proteja da ciência, e a bioética é uma resposta interdisciplinar às grandes mudanças que, de um modo geral, se tem experimentado em relação à vida humana. E, dentro da reflexão bioética, permitir uma abordagem que seja fruto de uma reflexão bíblico-teológica – e por que não dizer espiritual – a respeito do tema. A preocupação deve ser de abordar os fatos que envolvem os novos procedimentos médicos e científicos à luz de compreensões que nascem da fé e que estão ligadas ao significado da vida, principalmente em relação ao sofrimento e à morte.
Uma vez que a bioética se constitui em um discurso sobre direito e dignidade humanos, o assunto precisa ser tratado na perspectiva da proteção da pessoa. Ser pessoa é a base para se ter direitos. A perspectiva adotada deve ser a da valorização da identidade individual, que não é resultado de uma conquista pessoal, mas de um relacionamento mais amplo: o da comunhão com Deus, que é marcado pelo reconhecimento de que, como pessoas, somos constituídos de liberdade e de finitude. Essa condição aponta para uma visão moral que habilita a dizer não para algumas práticas que são motivadas pela liberdade humana.
Nesse sentido, a medicina e as ciências que tratam da vida humana devem ser entendidas como cuidados dispensados a seres humanos que sofrem. Uma ética assim submete os cuidados com a vida a vínculos mais afetivos, que são regidos por uma moral fundada na Bíblia, como expressão de um Deus que fala e conhece as nossas dores.
Um exemplo disso é a substituição da noção de procriação para a de reprodução. A questão é: quando o ser humano passa a existir? A resposta a essa pergunta define o rumo da abordagem sobre reprodução assistida, aborto, pesquisa com células-tronco e manipulação genética. São temas que têm sido tratados com base na ideia de privacidade e pessoalidade que dominam a sociedade contemporânea. Em lugar disso, é preciso dar ênfase à procriação como resultado de vínculos mais expressivos, de amor. Uma vez que não temos o controle da criação da vida, é preciso exercitar o direito de dizer não quando a humanidade está na condição de paciente.
Até mesmo as questões relativas à eutanásia, ao suicídio e ao uso de embriões devem ser entendidas não como tentativas de amenizar o sofrimento, mas na perspectiva de otimizar e maximizar o cuidado com o outro. Quando se trata do cuidado com o ser humano, seja como um embrião seja no fim da vida, não se está simplesmente diante de cobaias. O que deve estar em jogo é a tentativa de salvar a sociedade e a nós mesmos, e não somente a melhoria da vida natural. Por outro lado, não é também correto rejeitar os recursos que a medicina e as ciências oferecem. O que se deseja é que sejamos capazes de reencontrar a alegria de existir mesmo em meio a circunstâncias que são desesperadoras.

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