Tolerância tem a ver com a nossa capacidade de aceitar uma atitude diferente daquelas que consideramos como norma. Num tempo de mudança de paradigmas, a pergunta é: deve-se tolerar tudo?
Penso que algumas vezes é necessário tolerar o que não se quer ou com o que não concordamos. Mas nem sempre a intolerância é um erro e até mesmo algumas coisas devem ser repudiadas sim. O intolerável é uma possibilidade e, em certos casos, torna-se uma virtude combatê-lo.
Há ainda aquilo que consideramos simplesmente como tolerável, no sentido de que, apesar de desprezível e detestável, exige uma atitude de convivência pacífica. André Comte-Sponville, em seu Pequeno tratado das grandes virtudes, define que “tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera… Assim, toleramos os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário. Mas isso só é virtuoso se assumirmos, como se diz, se superarmos para tanto nosso próprio interesse, nosso próprio sofrimento, nossa própria impaciência” (1999).
Tolerar, portanto, é assumir responsabilidades. Se você apenas transfere a responsabilidade para o outro, já não se trata mais de tolerância. “Tolerar o sofrimento dos outros, tolerar a injustiça de que não somos vítimas, tolerar o horror que nos poupa não é mais tolerância: é egoísmo, é indiferença (...)”, diz Comte-Sponville.
A tolerância possui seus limites, que não se trata de uma aceitação passiva da verdade ou da realidade. O que determina o limite do tolerável é a ameaça efetiva à liberdade, à paz e à sobrevivência de uma sociedade. A tolerância se limita ao campo das idéias, da opinião. No campo das ações, existe muita coisa intolerável até mesmo para o mais tolerante dos santos. Aquilo que causa sofrimento, injustiça ou opressão ao outro precisa e deve ser combatido, nunca tolerado.
O tema da tolerância ganhou força nos círculos protestantes, nos séculos XVI e XVII. Hoje, a tolerância está relacionada a uma cultura política liberal que trata de uma relação entre diferentes. Mas a questão precisa ir além. Um racista, por exemplo, não deve exercitar a tolerância simplesmente, mas superar o seu racismo.
Não basta lutar pelos direitos das minorias, mas enfatizar os direitos fundamentais da pessoa e a dignidade do ser humano. A tolerância deve se constituir como uma espécie de sabedoria que supera o fanatismo, o dogmatismo, a intolerância, e que se manifesta como um profundo amor pela verdade. Amar a verdade é reconhecê-la tal como ela é: não existe na forma absoluta e final, mas como um saber ou um valor a caminho de se realizar.
É preciso concordar com o argumento conclusivo de Comte-Sponville: “Como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria, dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são nem uma coisa nem outra. Pequena virtude, mas necessária. Pequena sabedoria, mas acessível.”
Penso que algumas vezes é necessário tolerar o que não se quer ou com o que não concordamos. Mas nem sempre a intolerância é um erro e até mesmo algumas coisas devem ser repudiadas sim. O intolerável é uma possibilidade e, em certos casos, torna-se uma virtude combatê-lo.
Há ainda aquilo que consideramos simplesmente como tolerável, no sentido de que, apesar de desprezível e detestável, exige uma atitude de convivência pacífica. André Comte-Sponville, em seu Pequeno tratado das grandes virtudes, define que “tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera… Assim, toleramos os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário. Mas isso só é virtuoso se assumirmos, como se diz, se superarmos para tanto nosso próprio interesse, nosso próprio sofrimento, nossa própria impaciência” (1999).
Tolerar, portanto, é assumir responsabilidades. Se você apenas transfere a responsabilidade para o outro, já não se trata mais de tolerância. “Tolerar o sofrimento dos outros, tolerar a injustiça de que não somos vítimas, tolerar o horror que nos poupa não é mais tolerância: é egoísmo, é indiferença (...)”, diz Comte-Sponville.
A tolerância possui seus limites, que não se trata de uma aceitação passiva da verdade ou da realidade. O que determina o limite do tolerável é a ameaça efetiva à liberdade, à paz e à sobrevivência de uma sociedade. A tolerância se limita ao campo das idéias, da opinião. No campo das ações, existe muita coisa intolerável até mesmo para o mais tolerante dos santos. Aquilo que causa sofrimento, injustiça ou opressão ao outro precisa e deve ser combatido, nunca tolerado.
O tema da tolerância ganhou força nos círculos protestantes, nos séculos XVI e XVII. Hoje, a tolerância está relacionada a uma cultura política liberal que trata de uma relação entre diferentes. Mas a questão precisa ir além. Um racista, por exemplo, não deve exercitar a tolerância simplesmente, mas superar o seu racismo.
Não basta lutar pelos direitos das minorias, mas enfatizar os direitos fundamentais da pessoa e a dignidade do ser humano. A tolerância deve se constituir como uma espécie de sabedoria que supera o fanatismo, o dogmatismo, a intolerância, e que se manifesta como um profundo amor pela verdade. Amar a verdade é reconhecê-la tal como ela é: não existe na forma absoluta e final, mas como um saber ou um valor a caminho de se realizar.
É preciso concordar com o argumento conclusivo de Comte-Sponville: “Como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria, dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são nem uma coisa nem outra. Pequena virtude, mas necessária. Pequena sabedoria, mas acessível.”