domingo, 3 de abril de 2016

Jesus em Metáforas / Metaphors of Jesus / Jesús em Metáforas

Quando Jesus disse: ‘Sou eu’, eles recuaram e caíram por terra. (João 18.6) 
Quando Jesus quis que seus discípulos o conhecessem, ele fez uso de metáforas: ele comparou a si mesmo com coisas de nosso cotidiano que nos ajudam a entender sua vida, mensagem e missão.
Metáforas são figuras de linguagem em que se tem uma relação de semelhança entre a palavra ou a qualidade de uma objeto e o sentido que se quer atribuir a algo. É daí que os poetas podem dizer, por exemplo, que o “amor é fogo que arde sem se ver”, como disse Camões.
A metáfora é mais que um recurso poético, ela está presente em nosso dia a dia e nos ajuda a nos relacionarmos com tudo o que acontece à nossa volta. George Lakoff e Mark Johnson afirmam que o nosso sistema de compreensão da realidade é metafórico por natureza, que orientam a nossa percepção do mundo e influenciam a maneira como nos construímos nossas relações sociais.
Um exemplo disso é quando, num esforço em aprender algo, dizemos que aquilo não “entra” em nossa cabeça, como se ela fosse um recipiente, uma caixa ou um depósito onde se colocam conhecimentos que nos são apresentados como coisas a serem guardadas. Outro exemplo é quando participamos de um debate ou de discussões sobre determinado assunto e, ao final, nos sentimos “vencedores” ou “derrotados”, como se estivéssemos em uma batalha.
Para Nietzsche, a importância da metáfora está no desejo humano de encontrar a verdade numa relação entre palavras e coisas. Ele diz que “acreditamos saber algo das coisas em si mesmas, quando falamos de árvores, de cores, de neve e de flores e, entretanto, não possuímos nada mais que metáforas das coisas, que de nenhum modo correspondem às entidades originais”. A gente pensa que tem o domínio da palavra, que dominar o sentido da palavra é o mesmo que conhecer, que conhece as coisas em si mesmas, mas isso não passa de uma relação marcada por metáforas e metonímias, o que forma uma grande ilusão.
Isso nos remete à compreensão de que a maneira humana de se relacionar se dá de forma discursiva, mediada pela linguagem, que se faz sempre nova e dinâmica. A relação entre as coisas e seus significados não é estável e segura. Antes, nos desafia a buscar sempre o novo e a nos abrirmos para resignificarmos a vida diante das circunstâncias que enfrentamos. A metáfora é o modo pelo qual podemos exercer nossa capacidade criativa e, a partir disso, encontrarmos novas motivações para a vida.
Jesus entendeu de forma muito clara essa faculdade humana. Ele fez uso de metáforas porque sabia que elas remetiam a uma realidade diante da qual precisávamos tomar decisões. As principais metáforas que Jesus usou estão ligadas ao emprego da expressão “Eu sou”. Foram sete, ao todo. Ele disse que era: o pão da vida; a luz do mundo; a porta; o bom pastor; a ressurreição e a vida; o caminho, a verdade e a vida; e a videira verdadeira. Todos os discursos em que ele as empregou encontram-se no evangelho de João.
Além dessas ocasiões, Jesus também usou essa expressão para referir-se a si mesmo como alguém que tem uma missão especial, como no debate sobre a questão da fé: Eu lhes disse que vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados (João 8.24). Compreender quem ele é e que sua vida corresponde a sua mensagem é a essência da fé: “Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que Eu Sou, e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o Pai me ensinou” (João 8.28). Sua natureza está ligada à sua própria existência: Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou! (João 8.58). Sua vida e mensagem visavam encorajar a todos a uma experiência de fé: Estou lhes dizendo antes que aconteça, a fim de que, quando acontecer, vocês creiam que Eu Sou” (João 13.19). Até mesmo quando Jesus foi preso, ele usou essa expressão para identificar a si mesmo como aquele a quem os guardas procuravam (João 18.5-6).
O sentido do “eu sou” de Jesus é o mesmo que pode ser encontrado nas expressões do Antigo Testamento. Em Isaías 43.10, encontramos: “‘Vocês são minhas testemunhas’, declara o Senhor, ‘e meu servo, a quem escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou Deus. Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de mim’”. É a partir dessa palavra profética que a Teologia aproxima o “eu sou” de Jesus com a expressão que se encontra em Êxodo 3.14: “Disse Deus a Moisés: ‘Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês’”.
Desvendar os significados que Jesus apontou ao empregar tais metáforas é abrir-se para uma experiência de fé que nos chama a uma mudança de vida, a um compromisso de seguir adiante fazendo da vida de Jesus um modelo e dos ensinos de Jesus as diretrizes para uma vida melhor. Este é o caminho da nossa salvação.

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