quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O grito da Criação: é tempo de escutar a voz da natureza, do planeta, dos pobres e dos excluídos / The cry of Creation: it is time to listen to the voice of nature, the planet, the poor and the excluded / El grito de la Creación: es tiempo de escuchar la voz de la naturaleza, del planeta, de los pobres y excluídos

O salmista declara que há uma voz que vem sendo silenciada que emerge do meio da Criação: Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz” (Salmos 19.3). É uma voz sufocada que vem de todas as criaturas que apontam para o Criador. Essa voz que vem da Criação é a voz do próprio Criador que clama pelo cuidado com os que sofrem com o avanço da degradação da vida no planeta e do aumento da desigualdade social.

É preciso que todas e todos se unam para fazer ressoar essa voz “por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo” (Salmos 19.4). A Criação é a primeira e mais eloquente forma de Deus se revelar. Quando ouvimos essa voz que vem da Criação, compreendemos quem somos, onde estamos e qual é o nosso compromisso como cooperadores de Deus.

É urgente unir as vozes de cristãs e de cristãos de todo o mundo em um clamor pela proteção de nossa casa comum, em defesa dos pobres e dos que são excluídos. A oração em favor de toda a criação Corresponde a um despertar em defesa da vida como proclamadores das Boas Novas para toda a Terra.

De todas as partes, de todos os povos, de todas as nações e em todas as línguas, é possível ouvir o grito de cada pessoa, de cada comunidade, de cada bioma, de cada espécie que tem sido silenciado pela exploração provocada pela ganância e pelo consumo desenfreado. São vidas que estão ameaçadas pela perda das condições mínimas de sobrevivência por causa das mudanças climáticas.

Escutar a voz da Criação exige um tipo de escuta que envolve nossa sensibilidade em ouvir os modos em que Deus fala conosco. Santo Agostinho escreveu que a Criação “é a página divina que você deve escutar; é o livro do universo que você deve observar. As páginas da Escritura só podem ser lidas por aqueles que sabem ler e escrever, enquanto todos, mesmo os analfabetos, podem ler o livro do universo” (apud Tempo da Criação: Guia de celebração 2022, p. 7). Martinho Lutero também pregou que o Evangelho não foi apenas escrito em livros “mas também em árvores e outras criaturas” (idem).

Através desse exercício de escuta, é possível desenvolver uma nova espiritualidade que implica a percepção da verdade, a virtude da bondade e as expressões de beleza presentes na vida do outro, das relações comunitárias e da natureza. Somos também conduzidos a experiência de tomada de consciência de quem Deus é e como ele vem a nós, como Trindade santa, na qual todas as coisas existem e se movem. Como afirmou o teólogo alemão Jürgen Moltmann: “Deus cria, reconcilia e redime sua criação por meio do Filho. Na força de Espírito, Deus está presente na sua criação, na reconciliação e na redenção da criação” (Dios en la creación, p. 29).

A Bíblia nos diz que toda a natureza geme. “Sabemos que toda a natureza criada geme até agora [...]” (Romanos 8.22). É possível ouvir nos dias atuais o clamor que nos interpela a refletir a respeito dos modos como conduzimos nossa própria vida. Algo precisa ser feito para mudar o rumo de nossa história, que aponta para um fim trágico. Cuidamos da natureza e uns dos outros porque amamos ao Deus da Criação.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Eleições 2022 e Democracia: Análise de Conjuntura / Elections 2022 and Democracy in Brazil: Analysis of the Conjuncture / Elecciones 2022 y Democracia en Brasil: Análisis de la Coyuntura

As eleições 2022 são atípicas. Um grave risco de ruptura democrática ronda a sociedade brasileira. No momento em que a campanha chega em sua reta final, há uma tentativa de interferência de forças reacionárias em todo o processo eleitoral. A principal origem de ataques é o próprio governo federal e seus apoiadores.

Diante da gravidade do momento, há quatro perguntas que devem ser feitas a fim de orientar as escolhas e se tomar atitudes para frear o que vem sendo tramado. Sem querer ser alarmista ou provocar pânico, as circunstâncias apontam para a necessidade de fortalecimento de uma frente ampla em defesa da democracia.

A primeira pergunta é: há uma ameaça de golpe nas eleições 2022? A resposta é sim. Esse golpe já vem sendo tramado desde a eleição anterior, quando se abriu o caminho para o avanço da extrema direita através da farsa da operação Lava Jato, do impeachment de Dilma e a prisão do ex-presidente Lula. Esse ataque é orquestrado pelas forças que dão sustentação ao governo atual e vem sendo realizado a partir de uma trajetória discursiva. Primeiramente, começou com a suspeição da confiabilidade nas urnas eletrônicas, que serviu para promover a aproximação de representantes das Forças Armadas do sistema eleitoral. Com a afirmação da segurança sistema eleitoral, passou-se à suspeição do processo de apuração, com tentativas de controlar os resultados através da ação de setores da Policia Federal e das próprias Forças Armadas. O objetivo final é fazer com que as eleições sejam manipuladas por representantes desses setores.

A segunda pergunta é: quais as chances reais de cada candidato? Até o presente momento, três candidatos despontam na corrida eleitoral para Presidência da República: Lula, que representa o segmento de esquerda e que tem a aprovação da maioria com grandes chances de vencer no primeiro turno; Bolsonaro, que recebe o apoio daqueles que nutrem o ódio às esquerdas e a Lula, principalmente de setores que são contra os direitos sociais bem como que defendem ideias fascistas; e Ciro, que é o candidato que desenvolve uma campanha baseada na reprodução do discurso de ódio a Lula, embora afirme ter projeto para o país, mas não passou da casa de um dígito nas pesquisas. Os demais candidatos formam uma minoria que não consegue alcançar resultados significativos nas pesquisas.

A terceira pergunta é: o que mais preocupa a campanha eleitoral no primeiro turno? Há três ameaças reais surgindo e aumentando suas possibilidades a cada dia: a primeira é a ameaça aos movimentos progressistas, tomados por um ódio de classe, e contra movimentos que lutam por direitos de trabalhadores, negros, mulheres, população LGBT, povos originários, pobres e meio ambiente; a segunda é o aumento da desinformação, com grupos disseminadores de fake news agindo livremente através das redes sociais; e a terceira é o aumento da insegurança social, com o crescimento da miséria, do desemprego, do custo de vida e da fome, que pode ser usada como oportunidade para o governo emitir “pacotes de bondade” para se aproximar dos setores mais vulneráveis, embora seja o único responsável pelo quadro atual.

A quarta pergunta é: o que mais preocupa no segundo turno? Havendo a necessidade de um segundo turno, que provavelmente será entre Lula e Bolsonaro, as possibilidades de agravamento das tensões aumentam. Podemos afirmar que há riscos reais de convulsão social e de aumento dos conflitos envolvendo as instituições que têm o dever de proteger a democracia. O aumento do acesso ao porte de arma, o crescimento do poder e interferência das milícias e a impunidade nas denúncias de crime de responsabilidade do governo contribuem para acreditar que algo muito ruim poderá acontecer.

Nessas eleições, os movimentos sociais e as organizações de defesa dos direitos civis têm o dever de impedir que as forças reacionárias que ameaçam a democracia avancem. Defender a democracia hoje no Brasil é defender a candidatura de Lula no primeiro turno, visto que é o único que tem compromisso com a manutenção do Estado Democrático de Direito.

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