quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Mundo em guerra: o conflito entre Ucrânia e Rússia põe o mundo em alerta / World at war: the conflict between Ukraine and Russia puts the world on alert / Mundo en guerra: el conflicto entre Ucrania y Rusia pone en alerta al mundo

A notícia que chega ao Brasil e ao mundo na manhã do dia 24 de fevereiro é que o governo russo deu ordens para que suas tropas avancem sobre as áreas controladas por separatistas na Ucrânia. É o início da guerra entre os dois países. O conflito entre a Ucrânia e a Rússia vai além de uma disputa de fronteiras. Envolve as principais forças militares globais, controladas de um lado pelo ocidente e, de outro, pela própria Rússia e os membros da antiga União Soviética.

Não é a primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que uma potência invade o território de um país. Da mesma forma, não é a primeira vez, desde o período da Guerra Fria, que um conflito dessa magnitude coloca em xeque interesses e forças ocidentais e as potências orientais como as da Rússia e a China. O que há de novo nesse conflito é o uso da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, a antiga coalizão de defesa de um conglomerado de países ocidentais, para que o Ocidente amplie sua esfera de ação, avançando para mais próximo das atuais fronteiras russas, estabelecendo bases no leste europeu.

Há algumas feridas históricas que ainda não foram superadas. Uma delas é que a tensão entre capitalismo e comunismo continua regendo as relações internacionais, embora a chamada “cortina de ferro” tenha caído em 1991. Outra é que os Estados Unidos da América deixaram de ser a principal força bélica no mundo, perdendo para as potências da Rússia (que já foi comunista) e da China (que ainda mantém um comunismo “de mercado”). E o próprio fato de a OTAN estar envolvida nesse conflito dá indicativos de que, com o fim do Pacto de Varsóvia, o mundo ficou mais vulnerável às pressões do Ocidente e dos poderes dominados por interesses capitalistas.

A humanidade chegou ao século XXI mais suscetível aos conflitos internacionais. Alguns teóricos da chamada “Guerra Justa” até procuram justificar a necessidade de conflitos armados em face da pluralidade de estados e nações. Entretanto, a guerra nunca se justificou em tempo algum, a não ser pelos interesses de poder por parte de governos que querem ampliar sua esfera de ação. Não há justificativa moral para a guerra, nem mesmo para as guerras religiosas. Ela é resultado do exercício do poder.

Santo Agostinho foi um dos primeiros a constatar esse aspecto da guerra. Para ele, todas tinham como causa primeira a ação de uma pessoa que exerce o poder e, como consequência, o desejo de causar dano ao outro a fim de alcançar os objetivos de poder. Não importa se as razões são boas ou más. Elas sempre promovem violência, crueldade e vingança. As marcas que a guerra deixa são as da brutalidade humana, da selvageria e do orgulho de exercer domínio sobre o outro.

Nos tempos atuais, as guerras se justificam pela necessidade de se ampliar mercados e estabelecer relações que viabilizem o modo de produção e de consumo a partir da mentalidade do capitalismo. Não se trata de um personalismo ou de poder totalitário de um líder, mas de garantias para que bens e produtos circulem conforme interesses das potências. No caso do conflito entre Ucrânia e Rússia, está em questão a produção e o consumo do gás natural. Atualmente, EUA e Rússia são os principais produtores desse commodity e a Europa seu principal mercado.

A guerra entre Ucrânia e Rússia não faz sentido para o mundo. Mas não se pode esquecer o complexo contexto histórico nas relações entre esses países. O conflito rompe acordos e tratados internacionais e pode ser identificada, pelas normas internacionais formalizadas pela ONU, como uma agressão por parte da Rússia a uma nação independente, uma violação ao princípio da autodeterminação dos povos. Entretanto, a interferência dos interesses ocidentais não pode ser esquecida, sob o risco de uma compreensão deturpada desse conflito.

Um século depois de vencer uma pandemia e 80 anos após encerrar a Segunda Guerra Mundial, a humanidade demonstra que não se aprendeu nada em termos de relações humanitárias. Para quem achava que sairíamos melhores da pandemia, o cenário de mais uma guerra global expõe a fragilidade das relações internacionais. O tabuleiro político e econômico do mundo continua colocando em risco a vida de pessoas em condições de vulnerabilidade e fazendo mais vítimas.

Há quem defenda que a guerra é uma necessidade. Clausewitz e Marx viram nela uma expressão sanguinária da racionalidade humana. Embora a guerra nunca aconteça como um fenômeno isolado do cenário político e econômico do mundo – ela é resultado de uma pluralidade de fatores –, é sempre consequência da insanidade humana. Exatamente porque requer derramamento de sangue.


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