domingo, 30 de janeiro de 2022

Felicidade em meio às adversidades / Happiness in adversity / Felicidad en medio de la adversidad

Jesus chamou pessoas excluídas, desprezadas e despossuídas para sem seus discípulos. Ele conhecia bem suas aflições e quais eram as suas causas. Por isso, procurou orientá-las a dar valor às circunstâncias vividas como oportunidades de experimentar uma nova forma de viver. No início do Sermão do Monte, Jesus ressaltou o fato de que seus discípulos eram bem-aventurados por tomarem parte daquele momento, apesar de todas as lutas pelas quais passavam. Afinal, eles estavam diante do novo, de uma nova proposta de experimentarem a concretização das promessas divinas em suas vidas.

As bem-aventuranças podem ser compreendidas como o retrato de quem os discípulos eram e em que eles iriam se tornar por terem aceitado o desafio de seguir Jesus. A expressão era bem conhecida da tradição judaica. Os salmos já declaravam que era bem-aventurado aquele “[...] que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores” (Salmos 1.1); “[...] aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados” (Salmos 32.1); “[...] os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam” (Salmos 119.2). “[...] o homem que nele se refugia” (Salmos 34.8); “[...] quem teme ao Senhor, quem anda em seus caminhos” (Salmos 128.1).

A tradição judaica estava repleta de referências que ressaltam a felicidade de tomar a atitude de orientar a vida pela direção divina. Diz o sábio: “Como é feliz o homem que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento” (Provérbios 3.13). E ainda recomenda: “Quem examina cada questão com cuidado, prospera, e feliz é aquele que confia no Senhor” (Provérbios 16.20).

Jesus se utiliza de um estilo literário já conhecido pela literatura sapiencial judaica para ressaltar que as pessoas que vivem de um modo extraordinário mesmo em meio as suas circunstâncias de luta são felizes por serem especiais para Deus. Trata-se do estilo baseado no uso da parênese, construído través de paralelismo característico da poesia hebraica-judaica. A parênese era um estilo literário que consistia numa exortação acompanhada de um conselho para a vida.

Na relação das bem-aventuranças, Jesus se refere àqueles que são considerados felizes por causa da sua condição e os que são felizes por aquilo que fazem. Quem são os bem-aventurados para Jesus? São os pobres, os que sofrem, os humildes e os que são injustiçados. Não são situações que possam fazer alguém feliz, mas porque estão contemplados na promessa de realização do Reino de Deus. Os excluídos do reino deste mundo são acolhidos no Reino de Deus.

E o que fazem os bem-aventurados? Eles são misericordiosos, puros de coração, promovem a paz, perseguidos por praticarem a justiça e injuriados por causa de sua fé. Não é fácil praticar tais atos. A felicidade tem um preço, e ele é recompensado pelo Senhor do Reino.

As bem-aventuranças estão registradas em duas passagens dos evangelhos, uma em Mateus 5.3-12 e outra mais resumida em Lucas 6.20-23. Mateus é acusado de espiritualizar as condições concretas vividas pelas pessoas, enquanto Lucas se refere aos problemas de forma mais humanizada.

Em ambas as listas das bem-aventuranças, há uma correspondência entre cada condição humana de fragilidade e uma promessa divina. Isso nos leva descobrir que há felicidade para quem enfrenta a desigualdade social para quem sente angústia, para quem vive humilhado, para quem passa fome, para quem se compadece dos que sofrem, para quem age com bondade, para quem promove a paz, para quem sofre injustiça e para quem enfrenta preconceito e discriminação.

Jesus contraria a compreensão do seu tempo e de sua cultura para afirmar que pessoas excluídas e desprezadas também podem ser felizes. A felicidade não está relacionada a um mérito ou a uma conquista, mas a uma dádiva concedida pelo amor divino. Todos e todas podem experimentar a felicidade mesmo em meio a adversidades.

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