segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Como vencer a solidão através da comunhão/ How to overcome loneliness through communion / Cómo superar la soledad a través de la comunión

Um dos fatos que tem chamado a atenção de pesquisadores é o aumento vertiginoso do uso dos sites de relacionamento social, as redes sociais como orkut, facebook e twitter. Para muitos, isso é resultado de uma busca natural por relacionamentos. O ser humano é, por natureza, um animal social, como reconheceu Aristóteles. O problema é que o relacionamento virtual pode até solucionar a necessidade de se fazer conexões com outras pessoas, mas não supre a necessidade de relacionamentos profundos e sinceros. O resultado é que vivemos num mundo em que há bilhões de pessoas que sofrem de solidão. Cada vez mais, as pessoas precisam permanecer plugadas para diminuírem os efeitos nocivos da solidão em que estão imersas.
A solidão é um estado emocional provocado pelo sentimento de ausência e abandono, relacionado a uma diversidade de fatores que envolvem valores, experiências e sentimentos que a pessoa carrega consigo, que acaba por orientar a sua percepção acerca do seu mundo exterior. É diferente do que se pode chamar de “solitude”, a experiência de silêncio e reclusão, muitas vezes encontrada na vida religiosa ou nas atividades criativas. Muitas das grandes realizações humanas – na poesia, nas artes, nas ciências – aconteceram em meio a momentos de quietude e isolamento.
A solidão é a principal causa de infelicidade para cerca de 20% das pessoas em geral. Uma em cada cinco pessoas sofre de solidão. Isso pode ser a causa de muitos problemas de saúde, como hipertensão, problemas cardiológicos, obesidade e baixa imunidade. A solidão pode provocar também um vazio existencial, em que a vida não faz mais sentido. O fato é que passamos 80% de nossa vida em companhia de pessoas. Fazer parte de um grupo social, ter amigos, viver em comunidade é uma necessidade humana, de tal modo que a solidão se constitui em um alerta para que evitemos o isolamento. Mesmo assim, muitos estão solitários em suas próprias casas ou até cercados por uma multidão de pessoas no trabalho, na escola, nas ruas, e até na igreja. O que provoca a solidão são mecanismos de defesa relacionados a uma atitude narcisista, à projeção que nos leva a remeter aquilo que não desejamos para o outro e até mesmo à crença de que precisamos de alguém para nos completar. Ou seja, tem mais a ver com a nossa personalidade do que com a forma como somos tratados.
O melhor remédio contra a solidão é a comunhão. A origem da palavra vem do latim communio, aqueles que têm o mesmo munus, a mesma tarefa, a mesma responsabilidade, o mesmo empenho de cuidar uns dos outros. Os primeiros seguidores de Jesus levaram a comunhão tão a sério que todos tinham tudo em comum. O Novo Testamento, ao descrever a comunhão dos primeiros cristãos, usa a palavra grega koinonia, que se refere a um relacionamento mútuo, que pode ser entendido como companheirismo.
Dietrich Bonhoeffer lembra, no seu livro Vida em comunhão, alguns aspectos que envolvem a relação entre comunhão e solidão. Para ele, é na solidão que se descobre o valor da comunhão. E alerta: “Àquele que não consegue ficar sozinho, que tome cuidado com a comunidade... Àquele que não está na comunidade, que tome cuidado ao ficar sozinho... Cada situação apresenta ciladas e riscos profundos. Aquele que deseja comunhão sem solitude mergulha num vazio de palavras e sentimentos e aquele que procura a solitude sem a comunhão perece no abismo da vaidade, do narcisismo e do desespero.”
Para Bonheffer, “é preciso destronar os ídolos da comunidade que criamos a partir de nossa memória ou teoria”. Toda pessoa traz consigo uma ideia bem definida de como deve ser a comunhão e se empenha por colocá-la em prática. Porém, para que a comunhão autêntica seja realizada, é preciso deixar de lado todo tipo de ideia pré-concebida e toda a fantasia para dar lugar ao princípio cristão da comunhão. Ele diz ainda em uma das cartas da prisão, ao experimentar o abandono e o desprezo dos campos de concentração: “Corre-se o perigo de esquecer que a comunhão dos irmãos crentes é um presente gracioso de Deus, presente esse que nos pode ser tirado a qualquer hora.”
Num tempo em que as pessoas se tornaram indiferentes à mensagem cristã, a comunhão possui uma riqueza de possibilidades que não podem ser desprezadas. Jesus entendeu que o melhor espaço para se viver em comunhão é a comunidade daqueles que vivenciam na prática os seus ensinos. Esse é o conceito bíblico de ser igreja. A vida em comunhão remete à noção de comunidade. A igreja é o lugar em que as pessoas têm o compromisso de se empenhar para viver em comunhão, com todos os riscos que isso implica. Nem sempre é assim. Afinal, não existe a igreja perfeita. Estamos todos em processo de construção. Rick Warren afirmou: “Quanto mais rápido renunciarmos à ilusão de que uma igreja deve ser perfeita para que a amemos, mais rápido deixaremos de fingir e admitiremos que somos todos imperfeitos e precisamos da graça. Esse é o início da verdadeira comunidade! Toda igreja deveria afixar uma placa: ‘Pessoas perfeitas não precisam entrar. Este lugar é somente para os que admitem ser pecadores...’”

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Filosofia e Teologia: aproximações e distanciamentos / Philosophy and Theology / Filosofía y Teología

A Filosofia e a Teologia sempre trilharam caminhos que se entrecruzaram. Essa relação vai além da questão da fé e da razão. O próprio nascimento da Filosofia aconteceu em meio ao questionamento a respeito da relação com a divindade dentro da mitologia grega, que se consistia em uma projeção da condição humana. Para a filosofia clássica, a pergunta sobre Deus apontava para a ideia de um ser único, ato puro, princípio causador de todas as coisas. O diálogo que a teologia cristã empreendeu com a filosofia greco-romana resultou em uma apropriação dos paradigmas da razão ocidental para dar conta da compreensão do Deus da tradição judaico-cristã.
Com a Modernidade, a Filosofia abandonou o campo que lhe era próprio, o da metafísica, para dar lugar à epistemologia. Quer dizer, ela deixou de se preocupar com as questões que envolvem a totalidade para enfatizar a capacidade de conhecimento. Com isso, o que se viu foi uma expansão do conhecimento empírico, a evolução das ciências experimentais, a ênfase naquilo que pode ser explicado, matematizado e experienciado. Isso provocou o aumento da informação e da capacidade de máxima especialização, o que reduziu a compreensão da totalidade. Ficaram de lado a dignidade, os valores humanos e o esvaziamento de sentido, que necessitam de uma nova abordagem. É o que vai despertar o movimento contemporâneo por parte das diversas culturas de afirmação e de resgate da identidade. Nesse ambiente, a Filosofia torna-se necessária porque ela é própria da atitude humana. Todo ser humano é, em princípio, um filósofo uma vez que está sempre em busca da verdade última de todas as coisas.
O homem tem uma abertura para o absoluto e o transcendente. Considerar que apenas o dado empírico, sensível e objetivo é suficiente para dar conta da verdade é uma ingenuidade. A realidade e a verdade transcendem à compreensão objetiva e factível. É isso que confere à pessoa o valor de sua condição espiritual. Isso envolve não só a questão moral, como afirmou Kant em sua metafísica dos costumes, mas também a percepção estética e a descoberta do outro em sua dimensão relacional. A carta encíclica Fides et ratio, assinada por João Paulo II, chega a falar de uma necessária passagem do fenômeno ao fundamento, o que representa o desafio do pensamento humano neste tempo. É essa abertura para o transcendente que possibilita à Teologia o papel de mediação na compreensão da revelação divina. Para a referida encíclica, esse é o caminho para a superação da crise de sentido que afeta o pensamento humano na sociedade atual.
É um engano pensar que o enfraquecimento da razão pode resultar em um fortalecimento da fé, ou vice-versa. O enfraquecimento da razão resulta, isso sim, numa fé supersticiosa que se alimenta do mágico. O enfraquecimento da fé, por sua vez, resulta na fragmentação e na perda de sentido, pelo fato de a razão não ser capaz de abarcar a totalidade e o sentido último das coisas. Um humanismo que se fecha em si mesmo, apenas relacionado ao presentificado, não consegue entender que o ser humano tem uma abertura para o transcendente, para a busca da verdade, para a felicidade e para a liberdade. Para isso, ele está aberto para o todo. Uma filosofia que contempla essa possibilidade resgata o campo da metafísica, que acaba por se tornar um campo comum à Teologia.
A Teologia é resultado de uma compreensão da revelação divina nas circunstâncias concretas em que ela foi recebida. A própria noção de palavra de Deus deve ser entendida não como palavra humana, mas como a fala divina é recebida, entendida e expressa na fala humana, com as circunstâncias socioculturais e históricas que permeiam a linguagem. Uma experiência de Deus – ou mesmo uma expressão religiosa – sem logos, sem razão, é apegada ao contemplativo e ao mágico, voltada para as soluções imediatas.
A Filosofia chega à noção do absoluto e da totalidade a partir da razão e do conceito de uno. A Teologia, por sua vez, desenvolve a noção de transcendente a partir do homem e do mundo. Um apelo que pode ser feito pela Teologia é para que a Filosofia resgate a preocupação com aquilo que foi a sua vocação primeira, abandonada para dar lugar a um reducionismo e a uma afirmação da autonomia da razão, com a ilusão de que é possível se ter todas as respostas.
O fazer teológico não pode abrir mão da reflexão filosófica, vista aí a própria análise do texto bíblico e a compreensão da questão da fé em relação à compreensão de Deus. O risco é de se apegar a uma concepção de natureza fundamentalista e de se estabelecer impedimentos para a compreensão da própria condição humana em suas expressões culturais. A necessidade da abordagem filosófica tem razões antropológicas, uma vez que Teologia e Filosofia têm em comum o interesse pela realidade do ser humano e do mundo, bem como a abertura e o deseja pela totalidade e pela verdade. A Teologia só pode falar desses temas levando em consideração a experiência humana que implica a atitude filosófica como uma faculdade do pensamento. Uma tradição teológica que rejeita a importância da Filosofia e sua natureza crítica terá grandes dificuldades de interpretar a natureza da revelação de Deus a ponto de proporcionar uma interação com a compreensão da realidade humana e sua abertura para o conhecimento do transcendente.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Diálogo inter-religioso e futuro do cristianismo / Inter-religious Dialogue and the future of Christianity / El diálogo interreligioso

O diálogo inter-religioso é um tema que invade a Teologia e demanda a emergência de uma reflexão crítica sobre os caminhos que ela seguirá nos próximos anos. A teologia que nos foi transmitida como legado nos exige a uma mudança de atitude tendo em vista a abertura para esse diálogo. Ela oferece uma imagem distorcida de Deus, como que pertencente a uma determinada cultura e como sendo domínio de um determinado povo, tendo em vista o atendimento a determinados interesses e necessidades de grupos, mesmo que sob a forma de uma aparente piedade religiosa.
Além da questão da compreensão de Deus, a tradição cristã acabou por formular uma teologia da salvação, por exemplo, voltada tão somente para a vida futura, sendo a igreja detentora da obra da redenção. A missão cristã acabou resultando em uma mensagem que promove uma noção de Deus equivocada, bem como na proclamação de uma relação entre Deus e a humanidade distante da ideia do Deus amoroso e justo que afirmamos.
A reformulação da abordagem teológica tendo em vista o diálogo inter-religioso passa pela necessidade de se assumir que a mente humana não pode compreender Deus em sua totalidade, a não ser a partir das relações concretas observadas na vida daqueles que professam a fé nesse Deus. O que se é urgente repensar tem a ver com a necessidade de resgatar o núcleo central da mensagem de Jesus que é fundamentada totalmente em Deus, com ênfase no amor na relação com Deus como “Abba” e na dinâmica do Reino de Deus. Isso levaria a Teologia a reafirmar a necessidade de tratar a conversão como autêntica mudança de vida e não como adesão, tendo em vista o resgate da dignidade humana e a busca de realização como pessoa.
Está claro que o objetivo é defender uma mudança no modo de se fazer Teologia. Entretanto, alguns aspectos precisam ser discutidos, tais como: de que maneira é possível compreender as demais religiões como portadoras de meios de salvação? Como aceitar outros meios de salvação que não passam pela mediação de Jesus Cristo? É possível continuar afirmando a ideia de igreja como uma comunidade que caracteriza e dá forma ao “povo especial de Deus, zeloso de boas obras” (Tt 2.14) diante da noção de um Deus que não tem preferências? Quando se defende uma salvação que se dá nas formas concretas de vida, tendo em vista a realização humana, a justiça e a felicidade, como desenvolver a partir daí uma escatologia que dê conta dessas inquietações?
O que se vê é que estamos diante de novas implicações para o fazer teológico. Isso também tem a ver com o modo pelo qual a missão cristã deve ser realizada a partir de uma atitude aberta e de diálogo com as outras religiões e os movimentos humanos. E isso definirá os rumos do cristianismo e da Teologia cristã. O cristão do futuro deverá ser alguém que dialoga mais do que nunca em toda a história.
Entretanto, isso não significa abrir mão do arcabouço de saberes construídos ao longo da história nem daquilo que caracteriza a identidade cristã como essência. Acredito que o caminho está na renovação de uma espiritualidade no sentido de levar mais a sério a mensagem de amor de Jesus, tendo em vista as necessidades vividas pelas pessoas em suas próprias circunstâncias. Isso implica considerar também o cristão como pessoa inserida no mesmo contexto das demais, o que exige uma ação e um discurso de respeito, tolerância, de solidariedade e de busca do bem comum, ainda que isso resulte em confrontação com o sistema vigente e a rejeição radical de valores que até aqui têm sido considerados como superiores.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

11 de setembro: dez anos depois do ataque às torres gêmeas / September, 11th: ten years after / 11 de septiembre: diez años después

Há dez anos atrás, o mundo foi surpreendido com o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, atribuído à rede terrorista Al-qaeda, de ideologia fundamentalista muçulmana. Estava chegando ao Seminário do Sul na manhã daquele dia, quando assisti estarrecido na TV da cantina ao incêndio que acontecia na primeira torre. O primeiro avião acabara de colidir com ela. Fiquei ali petrificado vendo aquelas imagens que chocaram o mundo. Logo outro avião atingiu a segunda torre e o que se viu foi uma cena de pânico e horror que tomava conta dos cidadãos que viviam ali. Não demorou muito, a torres começaram a ruir, uma após a outra, deixando um vazio no cenário daquela cidade e do mundo. O resultado foi de muitas vidas sacrificadas, atos de heroísmo e humanidade dos bombeiros e um rastro de guerras contra o terror.
Uma pergunta ficou no ar, que até então não foi respondida: o que levou pessoas a cometerem tal ato? Eles invadiram o território de um país, sequestraram quatro aeronaves de grande porte, pilotaram as mesmas com habilidade de quem foi treinado minuciosamente para direcioná-las a seus alvos. Seria uma reação contra o poder imperialista norte-americano simplesmente? Teria por detrás uma questão religiosa para afirmação de obediência à divindade? Seria resultado de um comportamento psicopata dos líderes da rede terrorista?
O fato é que o 11 de setembro marcou a história do começo do século XXI. Um novo contorno das relações de poder começou a ser instaurado, em que ficou claro que: o imperialismo norte-americano não poderia mais ser o mesmo; as relações econômicas começariam a dar lugar a novas nações emergentes que se despontam no cenário mundial; o paradigma do petróleo precisava ser substituído por uma outra matriz energética, gerando a busca de novas tecnologias; a segurança mundial em risco clamava por novas forças que a tornem viável; o ocidente precisava abrir o diálogo com as formas de pensar vindas do oriente.
Na semana daquele ataque, publiquei no boletim da igreja uma reflexão sobre o tema. Acredito que ainda valem aquelas considerações. Passados dez anos, o Iraque e o Afeganistão continuam sob domínio dos Estados Unidos e forças da Europa; Saddam Husseim, tido como protetor dos terroristas e uma ameaça ao mundo por ter armas de extermínio em massa, foi preso, julgado e morto; Bin Laden foi capturado e morto, mas nada disso fez o mundo mais seguro ou melhor de se viver. Veja o texto que escrevi na época, com o título “Que mundo é esse”:
“Este é o primeiro ano do século XXI, o século posterior ao período considerado mais violento da história da humanidade. Catástrofes como a que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington desencadearam conflitos maiores no século XX. Em 1914, um atentado na região de Sarajevo desencadeou a Primeira Grande Guerra Mundial, resultado da ação de um terrorista sérvio que acentuava a rivalidade entre as nações mais poderosas do mundo. Em 1941, o ataque japonês a Pearl Harbor, marcado pela participação de pilotos suicidas, define a participação da grande potência norte-americana na Segunda Guerra Mundial.
Mais uma vez, um composto de terrorismo e ataques suicidas coloca em cheque a fragilidade do sistema de defesa da maior potência do mundo. Os alvos foram as suas fontes principais de poder: a sede de seu poder militar (o Pentágono) e a sede de seu poder econômico (representado pelas torres gêmeas do World Trade Center, símbolo do capitalismo moderno). Um terceiro alvo poderia ter sido atingido, certamente alguma outra instituição maior representativa da força daquela nação agredida.
A razão de ataques como esses está no ódio existente nos corações. Ódio que gera intolerância e rivalidade. Ódio que nasce da opressão e resulta na violência. O terrorismo é a forma mais hedionda de expressar um sentimento de mágoa e rancor diante do fracasso e da opressão. Os povos e grupos muçulmanos que ainda não encontraram êxito em suas milícias continuam gerando filhos do ódio. Afinal, são dez séculos de ressentimentos desde os tempos das cruzadas. E hoje não podemos negar que a polaridade das questões bélicas está na rivalidade entre Ocidente (predominantemente cristão) e Oriente (predominantemente muçulmano).
Atacar os símbolos americanos de poder, derrubar as estátuas milenares de Buda ou mesmo a perseguição, morte e aprisionamento de cristãos nos países do Oriente Médio são partes de um mesmo universo, de uma mesma guerra santa, cujo objetivo é lavar a honra de povos feridos e ultrajados de diversas formas ao longo do tempo.
Que mundo é esse em que nós vivemos? Um mundo sem Jesus e, por conseguinte, sem paz e sem esperança. É hora de cristãos se unirem em todo o mundo em favor de uma solução divina. A solução humana? Ah, essa, com certeza será buscada a qualquer custo. A mesma potência que não deixou em branco Pearl Harbor, detonando duas bombas atômicas sobre cidades japonesas quatro anos depois, não descansará enquanto não responder seus agressores à altura.
A nós, que assistimos a tudo perplexos, só nos resta clamarmos pela misericórdia divina, para que a compaixão e a capacidade de perdoar exceda esse sentimento de terror que há em tantos corações.”

domingo, 4 de setembro de 2011

Deus, muito além do delírio / God, far beyond the delirium / Dios, más allá del delirio

Quem é Deus para você e quem é você para Deus? Deus é uma palavra carregada de mistério. Não dá para ignorá-la e não dá para tomar posse dela. Não serve como instrumento de barganha, nem como analgésico instantâneo para a dor. Não dá para usá-la como arma contra o outro nem deixar de lhe atribuir um sentido. Entretanto, mais do que uma palavra, referir-se a Deus dá conta de uma presença, como um rumor que perpassa a nossa história e nos remete a uma busca, como expressão de desejo e de transcendência que somos.
Já houve tempo em que crer em Deus era uma exigência. Já se viveu época em que era impossível imaginar a não existência de Deus. A Modernidade, porém, com sua nova mentalidade científica, trouxe a ideia de que a existência de Deus é uma impossibilidade. O ateísmo tornou-se uma ameaça. Hoje, saltou-se do ceticismo para a indiferença, o que é mais preocupante do que simplesmente não crer ou negá-lo. O que se vê, contudo, é um retorno do sagrado e uma nova abertura para o transcendente. Seria isso o surgimento de uma nova pergunta por Deus?
Não é tão relevante se você se importa com isso ou não, ou se você o busca ou não. O fato é que Deus vem ao nosso encontro e indaga a nós como indagou a Adão no Édem: “onde estás?” Você vai descobrir que é possível experimentá-lo antes mesmo de tentar compreendê-lo e que é preciso primeiro invocá-lo para depois se pensar sobre ele. Diante de Deus, não há que se falar sobre ele, racionalizá-lo em uma forma explícita. Há que se cultivar a capacidade de percebê-lo, ouvir sua voz e acolher seu amor. Blaise Pascal reconheceu que “não é possível conhecê-lo a não ser quando ele mesmo se dá a conhecer”.
Quando se fala de Deus, fala-se a partir de uma relação. Não se trata do Deus da filosofia nem o das explicações objetivas , mas o Deus de Abraão, de Isaque e Jacó, o Deus de Jesus Cristo, o Deus dos vivos e não dos mortos. O Deus que é cheio de graça e o Deus que se esvazia. O Deus solitário e o Deus solidário. O Deus que se silencia e o Deus que acolhe. O Deus que é graça e salvação para o homem. Não é o Deus de nossas carências, não é fruto de nossos desejos infantis, não é um remédio contra a dor e a morte, não é um meio de satisfazer minhas necessidades humanas nem é um instrumento que eu possa manipular. É Deus que me vê como homem e que se faz homem para se aproximar de alguém como eu para compartilhar sua divindade comigo.
Na sinagoga de Buenos Aires, no lugar onde são guardados os livros da Toráh, está escrito: “Saiba diante de quem você está”. Para se dar conta disso, a Bíblia serve como um testemunho do Deus que se coloca diante do homem e que o chama para um caminho. Você não encontra na Bíblia explicações sobre quem Deus é ou como é possível desvendar os seus mistérios. Você encontra ali narrativas acerca de homens e mulheres que se põem em caminho com Deus, em meio às suas próprias circunstâncias históricas, escutando sua palavra e aceitando o seu propósito. A relação que Deus estabelece com o homem não é de distância, assim como não é possível conhecê-lo separado da história dessa relação.
Diante de situações limites da vida humana, como a dor e a morte, ou mesmo como o sucesso e a felicidade, ainda aí o homem tem a liberdade de acolher ou rejeitar a presença divina. Nas situações de fronteira da vida, temos a oportunidade concreta de encontro com Deus, de invocá-lo e de adorá-lo tal como ele é. Não há nada tão comovente como uma pessoa quebrantada diante da dor que grita: “Deus meu!” Da mesma forma, não há nada tão cheio de esperança e reconhecimento quando alguém tomado de alegria canta: “Deus meu!” Deus é sempre o Deus da nossa vida, como o mais íntimo de nós mesmos. Como afirmou Teresa de Ávila: “Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta.”

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma vida a serviço da esperança / A life in the service of hope / Una vida al servicio de la esperanza

Em sua terceira visita ao Brasil, o teólogo alemão Jürgen Moltmann falou aos alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-Rio sobre sua trajetória de vida, destacando momentos decisivos de sua atividade como cristão, pastor e teólogo. A palestra aconteceu no auditório do Centro Loyola de Fé e Cultura, que fica na Gávea, Rio de Janeiro, na tarde do dia 31 de agosto de 2011. O áudio não é dos melhores, mas vale a pena ver o vídeo e verificar o testemunho de alguém que aplicou-se a pensar, defender e promover a esperança. A tradução foi feita pelo pastor e doutor Levy Bastos, do Isntituto Benett.

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