domingo, 25 de agosto de 2019

O Espírito da Evangelização/ The Spirit of Evangelization / El espíritu de la evangelización


A evangelização é uma característica básica e essencial da ação pastoral cristã. O verbo “evangelizar” designa o ato de anunciar a boa notícia a respeito da mensagem e vida de Jesus. Aquele que prega o evangelho é chamado de “evangelista”. A própria palavra evangelho vem de uma expressão grega que quer dizer “boa notícia”. Ela foi usada pelo primeiro evangelista, Marcos, para designar o conjunto de relatos a respeito de Jesus Cristo.
O sentido bíblico da evangelização é anunciar a boa notícia de que Deus ama a toda criação com a voz e com a vida. Essa relação entre palavra e ação é que consiste na essência da evangelização. Teólogos ligados à área de missão concordam em afirmar que a evangelização se dá através do diálogo e da comunicação, visto que ambas as atividades estão interligadas. Uma está presente na outra. Não há comunicação possível onde não há diálogo, assim como não há diálogo quando não há algo relevante para se comunicar.
A mensagem de salvação trazida pelo evangelho é sempre nova para um mundo que se perdeu de si mesmo. Ao longo da história humana, as várias tentativas de encontrar solução para os dilemas vividos pela humanidade resultaram em fracassos. Podemos dizer que nenhuma corrente de pensamento, teoria ou mesmo religião encontrou uma resposta para o conflito humano. A boa notícia é que o cristianismo remete à relação com uma pessoa, que assumiu plenamente o humano em sua vida e ensino, e que essa relação produz salvação, libertação e vida. A boa notícia é um convite amoroso para seguir Jesus Cristo como caminho, verdade e vida.
Evangelizar é uma ação para a qual o Espírito Santo capacita a todo que é alcançado pela graça. Todo cristão é, por natureza, um evangelista. Não é uma chamada especial, como uma vocação, mas um jeito de viver o evangelho de tal modo que a própria maneira como realizamos o diálogo com o mundo e nos aproximamos das pessoas para servi-los já é anúncio do evangelho.
Jesus delegou a obra da evangelização aos seus discípulos como uma tarefa urgente. Em Mateus 24.14, Jesus diz que a pregação do evangelho a todas as pessoas é um prenúncio do fim: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim”. E em João 9.14, ele diz para aproveitarmos a ocasião para trabalhar pelo evangelho: “Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar”. Durante seu ministério, Jesus capacitou, comissionou e enviou seus discípulos para pregar o evangelho.
O apóstolo Paulo, por sua vez, apresenta a tarefa da evangelização sob três aspectos: (1) evangelizar é um propósito: “Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24); (2) evangelizar é uma obrigação “Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1 Coríntios 9.16); (3) e também é uma necessidade: “Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me” (Filipenses 1.18). Para essa tarefa, todo tempo é oportuno: “Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo [...]” (2 Timóteo 4.2).
Trilhar o caminho da fé é, acima de tudo, ser um anúncio vivo do que Jesus Cristo realiza. Quando os discípulos de Francisco de Assis perguntavam-lhe sobre como seria a obra da evangelização, ele dizia: “pregue o evangelho, se necessário use palavras”. Nada fala tão alto a respeito da mensagem de Jesus do que a própria conduta daquele que afirma que crê e o segue. Crer em Jesus é abrir-se para um Outro, que nos interpela e nos remete de volta para o outro a quem devemos amar e servir.
As condições de vida no mundo nunca foram favoráveis à evangelização. A história da igreja é marcada pela perseguição quer seja de ordem policial, política ou ideológica. O cristianismo subsistiu diante dos cenários históricos dos mais hostis em todo o mundo. Por essa razão, sempre será um grave equívoco defender determinada bandeiras políticas, morais ou ideológicas. O cristão deve sempre ser portador da boa nova de salvação, um anunciador da justiça, da paz e da alegria que encontramos em Jesus Cristo.
É preciso ressaltar ainda que evangelizar não é alcançar adeptos, falar de uma doutrina, implantar uma ordem moral ou defender a religião. Evangelizar é dizer ao mundo com a voz e com a vida que há esperança para a humanidade perdida. É resultado de uma experiência de amor à vida, da alegria de fazer parte da família de Deus, de desenvolver uma espiritualidade engajada com as dores do mundo e uma disposição de assumir o lugar de intercessor daqueles que sofrem.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Amazônia em chamas: um desastre em nossa casa comum / Amazon Burns: A Disaster in Our Common Home / Arde la Amazonia: un desastre en nuestro hogar común:


O mundo encontra-se perplexo diante do aumento dos incêndios na Amazônia. Só no Brasil, o aumento foi de 82% em relação ao mesmo período do ano anterior, que é conhecido como um tempo em que as queimadas são comuns. O que surpreende desta vez é que o aumento dos incêndios é resultado de uma política equivocada de controle do desmatamento, com incentivo à exploração e a falta de respeito aos povos amazônicos. Enquanto a Amazônia arde, o mundo grita por socorro. O Grupo Fé e Política: Reflexões emitiu Nota em Defesa da Amazônia, somando-se às muitas vozes que se pronunciam nesse sentido. Eis a nota:
Nota em Defesa da Amazônia
"As nações se iraram; e chegou a tua ira. Chegou o tempo de julgares [...] e de destruir os que destroem a terra" (Apocalipse 11.18)
Manifestamos nosso profundo pesar e preocupação com os recentes acontecimentos relativos às dezenas de focos de incêndio que destroem parte da floresta amazônica, sobretudo em território brasileiro. Essa tragédia que afeta a maior biodiversidade do planeta prejudica comunidades locais, povos indígenas, espécies de plantas e animais, cultura e economia local, mas acima de tudo representa um grave risco para o equilíbrio ambiental global e coloca em risco toda forma de vida.
Compreendemos que a responsabilidade é de todos, quer sejam autoridades locais, regionais, nacionais e mundiais, lideranças religiosas, judiciais, educacionais, civis e militares, quer sejam cidadãos comuns. Entretanto, não podemos deixar de registrar que o quadro geral se agrava em função das atuais políticas brasileiras de cuidado com o meio ambiente e das atitudes do governo que enfraquecem as organizações ambientalistas diante do poder do capital. Diante de um governo que não assume suas responsabilidades e transfere competências, os danos são irreversíveis de uma política de extermínio da vida em todos os aspectos.
“Por causa disso a terra pranteia, e todos os seus habitantes desfalecem; os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar estão morrendo” (Oseias 4.3).
A questão não se trata mais de um problema social ou político, mas de definição do futuro e destino da vida humana. Estamos diante de um fenômeno que traz à luz o valor da vida, em que nos inserimos numa mesma realidade para a qual necessitamos de todos os recursos que a natureza dispõe para existirmos. É urgente que as autoridades, tanto dos países que formam a Amazônia Legal quanto da ONU e da comunidade internacional, se mobilizem para a preservação da Amazônia e assumam posições efetivas pelo fim do desmatamento, pelo respeito aos povos locais e pela proteção da biodiversidade.
Por essa razão, unimos nossas vozes às vozes de todos que, independente de suas convicções, se filiam a um ideal de lutar pela existência e assumem o compromisso de ser a comunidade daqueles que amam a natureza porque amam a Deus que a criou. A Amazônia é um patrimônio humano que precisa ser cuidado em toda a sua extensão cultural, civilizatória e biológica. Declaramos a nossa fé, como diz as Escrituras, “de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Romanos 8.21).
Agosto de 2019.
Grupo Fé e Política: Reflexões
Foto: El País, edição digital de 22/8/2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/21/album/1566384483_259997.html?id_externo_rsoc=TW_CC

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