domingo, 27 de julho de 2014

Deus está no controle / God is in control / Dios tiene el control

Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados.” Mateus 10.30
Há muitas pessoas que creem que Deus comanda o universo como se tivesse um joystick em suas mãos, apertando botões que determinam quando um nasce e outro morre, quando o mundo passa por calmaria ou quando enfrenta calamidade.
Há muitas dificuldades em tal concepção. A maior delas é a questão do mal: por que esse Deus que tem o controle de tudo não age em favor dos homens, sendo tão amoroso como diz ser? Ninguém tem essa resposta, nem a Bíblia aponta uma explicação racional para isso.
Deus é soberano, não resta a menor dúvida. Ele é o criador e sustentador de todas as coisas. O problema está na maneira como interpretamos a nossa relação com ele. Podemos entender a nossa relação com Deus a partir de um ponto de vista determinista ou de uma compreensão da liberdade.
Os deterministas afirmam que Deus controla tudo: quem nasce, quem adoece, quem morre, quem governa, quem mata. Isso inclui também o tempo, as catástrofes, a riqueza e a pobreza. Um Deus assim está mais para um tirano cruel do que para um ser amoroso.
Já a compreensão da liberdade entende que Deus é soberano o suficiente para amar. No seu poder criador, estabeleceu leis e princípios universais para a vida em dimensões cósmicas, que não é marcada por destinos, mas por uma complexa conjunção de liberdades. Alguém que ama é capaz de sofrer, chorar, se arrepender, ceder, tudo para ver o outro livre. Isso não impede que tenha uma vontade. A liberdade do outro é um valor mais caro. E nisso investe todo seu poder.

O que faz, então, acreditar que Deus está no controle? Isso não seria o mesmo que dizer que Deus é impotente e fraco diante de nossas circunstâncias? Ao contrário, compreender a ação de Deus a partir da liberdade nos conduz a descobrir que ele não é responsável por nossas dores, mas que está comprometido com tudo aquilo que envolve a nossa existência, em meio à nossa história. Nesse contexto, isso nos dá força para seguir adiante em meio às dificuldades. Ele nos fortalece e nos encoraja porque sabe quem somos e nos conhece profundamente. E por estar no controle, ele nos acompanha e nos guia para sabermos como lidar tanto com a tragédia quanto com a vitória

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Não me envergonho do evangelho / I am not ashamed of the gospel of Christ / No me averguenzo del evangelio

Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê [...].” Romanos 1.16
O evangelho é a boa notícia de que Deus se importa com nossas dores. É ouvir a voz de Jesus que nos chama para segui-lo e a viver no mundo a nova vida que nos propõe.
Acolher o evangelho, porém, tem implicações na vida do crente, remete a uma tomada de posição. Seguir a Jesus é um fato histórico que só dá para ser realizado na mesma dimensão da revelação de Deus na figura histórica de Jesus de Nazaré, o verbo encarnado.
O poder do evangelho só faz sentido no contexto do Reino de Deus. Não corresponde a uma acumulação de forças nem manifestação de autoridade, mas uma relação que se expressa sob a forma de missão. É poder de Deus que me interpela a que faça um deslocamento para o lugar do outro.
Para que o poder do evangelho seja exercido, é preciso conjugar proclamação e compaixão que brotam do amor comprometido. A proclamação é testemunho da fé e a compaixão é a capacidade de sentir a dor do outro.
Aquilo que não gera compaixão pelas pessoas que são vítimas de um mundo desigual, acaba mutilando, inibindo e envergonhando o evangelho em nós. A vergonha do evangelho é o que impede o testemunho e conduz a uma vida omissa em relação às possibilidades de transformação que ele proporciona.
Pessoas que não têm vergonha do evangelho são aquelas que são úteis nas mãos de Deus e se oferecem como agentes de transformação para um mundo carente de vida.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Orientações para ação pastoral durante a campanha eleitoral / Pastoral direction for elections / Orientación pastoral para las elecciones

Durante a campanha eleitoral, pastores e líderes religiosos exercem uma função importante na formação de consciências críticas das pessoas com as quais se relacionam. Como pastor, compreendo que alguns compromissos precisam ser assumidos diante do processo eleitoral, uma vez que somos formadores de opinião e temos uma opção política e ideológica diante da vida da sociedade. Independente de qual seja a posição de cada um, apresento aqui os princípios que devem orientar a ação pastoral em meu ministério:
1. O que não fazer:
1.1. Não assumir em público atitudes contrárias ou favoráveis a qualquer candidato ou partido político. Embora tenha uma preferência, a defesa ou condenação de pessoas ou grupos constrange a relação com os demais e inibe a liberdade de escolha da comunidade.
1.2. Não promover, em hipótese alguma, o chamado “voto de cajado”, aquele em que líderes eclesiásticos e religiosos negociam favores ou propostas com o objetivo de comprometer o voto dos seguidores de seu grupo religioso.
1.3. Não usar argumentos religiosos, espiritualizantes ou mesmo bíblicos para promover ou denegrir candidaturas ou programas políticos. Tanto a demonização quanto a sacralização de candidatos, ideologias, programas ou partidos se constituem como fatores inibidores do debate maduro dos reais problemas da sociedade.
1.4. Não criar barreiras, inimizades ou contendas com pessoas, grupos e segmentos da sociedade que tenham opiniões opostas. As eleições não correspondem a uma batalha entre inimigos. Oposição e governo são dois lados igualmente importantes para a democracia.
1.5. Não se omitir em relação às situações que envolvem injustiça, opressão, exploração, cerceamento da liberdade de expressão e desigualdades sociais.
2. O que fazer:
2.1. Defender a participação livre e consciente de cada cidadão no processo democrático através do voto.
2.2. Contribuir de forma responsável para que se tenha um compromisso claro a respeito da participação de cada pessoa na dinâmica da vida social e da ação política.
2.3. Assumir uma função profética em favor da justiça, em defesa dos oprimidos e na condenação de toda forma de privação de liberdade de expressão e de exploração do outro.
2.4. Ser um intercessor em favor da paz, orando pelas autoridades e suplicando por um governo justo e uma sociedade alcançada pela graça.
2.5. Servir como guia e exemplo de compromisso com o bem-estar social, procurando contribuir de forma concreta para que as mudanças necessárias na vida em sociedade se realizem de forma ampla, com oportunidade igual para todos, livre de qualquer tipo de preconceito e discriminação.

Se você gostaria que isso chegasse aos demais líderes religiosos, por favor compartilhe com mais alguém esse texto.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O poder da oração / The power of prayer / El poder de la oración

“[...] A oração de um justo é poderosa e eficaz.” Tiago 5.16
O poder da oração não está naquele que ora, mas naquele que a ouve. E aquele a quem dirigimos as nossas súplicas não se rege pelas nossas exigências ou necessidades, mas age conforme a sua vontade.
O que pode fazer, então, a oração de uma pessoa sincera, piedosa e correta? A Bíblia diz que pode muito. Ela é “poderosa e eficaz”. Entretanto, orar não significa que você tem o controle de Deus em suas mãos. Ao contrário, orar significa colocar Deus no controle da vida.
Para o ser humano dominado por uma consciência autônoma e com a pretensão de conhecer, orar é mais um exercício de humilhação. É a declaração humilde de que não podemos. Por isso, entregamos as nossas necessidades para quem de fato pode.
Aquele que tudo pode também sabe o que é melhor para nós. Ele é o Deus que fala e que age. Quando fala, tem promessas eternas a serem cumpridas. Quando age, revela amor e compaixão. Duas realidades do modo de Deus se relacionar conosco: suas promessas e seu amor, que nunca mudam. Deus nunca se arrepende de suas promessas e nunca deixa de nos amar.
O poder da oração está no fato de que somos confrontados pelas promessas divinas e pelo amor sem medida, principalmente quando nos sentimos abatidos e nos achegamos a Ele em humilde oração. As promessas e o amor divinos encorajam o oprimido, fortalecem o enfraquecido, dão segurança ao angustiado e acendem a esperança ao aflito.

O poder da oração não está em mover o braço de Deus, mas em nos fazer sensíveis e submissos a Ele.

sábado, 12 de julho de 2014

Vida transformada / Transformed life / Vida transformada

Na noite em que entreguei a minha vida a Jesus e tomei a decisão de segui-lo, o pregador falou que o modo como eu vivia não correspondia ao ideal de Deus para mim. Embora Deus me amasse profundamente, Ele não tinha nenhum prazer em que eu continuasse do mesmo jeito. À época, eu era um adolescente de quase 17 anos. Naquela noite, tive uma experiência de encontro sem igual que desencadeou em mim o desejo de passar por um processo de mudança que tem durado toda a minha vida.
Quando a gente fala de uma vida transformada, não se está falando de uma vida pronta, acabada, mas algo que acontece de forma gradativa. Este é o sentido da mudança que ocorre a partir do encontro transformador com a pessoa de Jesus, que faz gerar uma nova vida que precisa se desenvolver e ter continuidade. É o que na fé cristã se chama de conversão, cuja ideia implica duas situações: um encontro vivo e transformador e uma vida que se segue. Por essa razão, a vida cristã não consiste em um conjunto de práticas religiosas, mas de um caminho a seguir.
A palavra usada em grego pelo Novo Testamento para descrever esse processo é metanoia, que, ao pé da letra, quer dizer “mudança de mente” ou, simplesmente, mudar de ideia. Ninguém muda da noite para o dia. Isso decorre de uma experiência contínua e intencional a partir de um momento de decisão pessoal.
Nesse aspecto, todos podemos mudar. Só quem não muda são as múmias que permanecem fossilizadas em seus sarcófagos por milênios. Em todos os aspectos, nós podemos experimentar mudanças, e mudanças para melhor. Até mesmo as áreas relacionadas ao gênio, ao caráter e às nossas vontades podem ser mudadas. Duas grandes realidades que envolvem a mudança: o fato de que nós não nascemos desse jeito e o fato de que estamos sempre inconformados com a nossa condição. Queremos sempre mais e queremos sempre melhorar.
A maior transformação que podemos experimentar é nos tornarmos aquilo para o qual fomos criados. E nós fomos criados para vivermos de acordo com os propósitos de Deus. O desafio é grande, mas compensador. Não importa qual tenha sido nossa experiência de vida até aqui, ela pode ser transformada. No relato dos heróis da fé do livro de Hebreus (no capítulo 11), encontramos uma lista de homens e mulheres com várias formações e histórias de vida, pessoas que passaram por várias situações, incluindo perdas e rejeições. Entre muitas coisas que são ditas ali sobre esses heróis da fé está a afirmação de que eles “[...] da fraqueza tiraram força [...]”, Hebreus 11.34.
Pessoas que têm a sua vida transformada são tremendamente necessárias. Você pode passar por várias transformações durante a sua vida: pela idade, pela formação, pelos relacionamentos, pelas conquistas e até pela perda e a dor. Mas nada se compara com a transformação que você pode experimentar pela fé em Jesus Cristo. E isso será tão intenso na medida em que você intencionalmente aplique seus esforços em dar passos decisivos na direção daquilo que Deus gostaria que você se tornasse.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Brasil e Alemanha: reflexões sobre a derrota por 7 a 1 / Brazil and Germany: lessons from defeat / Brasil y Alemania: lecciones de la derrota

Bastaram apenas seis minutos para aquilo que parecia ruim se tornasse pior. O jogo entre Brasil e Alemanha na semifinal da Copa do Mundo da Fifa 2014 entra para a história como o maior vexame da seleção com mais números a seu favor. A seleção brasileira tem cinco títulos mundiais, participou de todas as edições do torneio, hospeda pela segunda vez o evento e possui o maior número de gols marcados em partidas do mundial. Isso não é pouco.
O que saiu errado? Perder é do jogo, talvez não por uma diferença tão grande. Qualquer peladeiro sabe que uma derrota por 7 a 1 é uma vergonha e vira motivo de piada por muito tempo. Mas esse é o universo do futebol. Um descuido, e o time adversário está lá com preparo e vontade para cumprir o objetivo do jogo: fazer gols.
Dizer que a derrota do Brasil sobre a excelente equipe alemã, em casa, é uma derrota da malandragem diante da competência é, no mínimo, mais uma forma do famoso complexo de “vira-latas” dito por Nelson Rodrigues que, como cronista de futebol, soube entender a alma do jogo. Tudo bem, não precisava ser de 7 a 1. A seleção brasileira não é um bando de moleques despreparados, chamados para fazer parte de uma farra com batucada. São profissionais contratados por grandes clubes do mundo inteiro. E o técnico já conduziu o Brasil a um título no passado, o do penta-campeonato, em 2002.
Foram apenas 6 minutos de apagão emocional para que a “família Scolari” se desorganizasse, perdesse o foco e levasse quatro gols (dos sete que sofreu), um atrás do outro. O que se viu dali por diante era previsível. Nos números do jogo, o Brasil foi até melhor, menos num quesito: fazer gol. Teve mais chances de gol, finalizou mais, teve mais lances dentro da área adversária, teve mais posse de bola, mas nada disso ganha jogo. Os seis minutos foram fatais. A casa já estava arrombada e os alemães fizeram a festa. Há alguém que diga que eles foram até elegantes não fazendo mais gols.
Também não adianta “chorar o leite derramado”. E não me venham com essa história de misturar política com futebol. Copa do mundo não interfere nos resultados das eleições. Na Copa de 1950 – a do “maracanaço” –, o Brasil vivia uma democracia, mas nada impediu que as pressões conservadoras resultassem no suicídio de Getúlio Vargas em 1954. O Brasil foi campeão em 1958 e 1962, período áureo dos governos de Juscelino e Jango. O golpe militar veio em 1964. Na copa de 1970, o Brasil vivia em plena ditadura. No título de 1994, o presidente era Itamar Franco e tínhamos saído recentemente de um “impeachment”. O título de 2002 foi durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, o que não impediu que perdesse a eleição para Lula, do PT.
Também não faz sentido a ideia de que o governo de Lula inventou trazer a Copa do Mundo para o Brasil a fim de garantir a perpetuidade do seu partido no poder. O desejo de sediar o evento mais uma vez era um desejo acalantado por todos. O Brasil participou de várias tentativas. Até mesmo quando ficou definida a realização do torneio em terras brasileiras, políticos e a maioria da população vibraram com a conquista. A prova disso é que vários governos estaduais e de cidades, representando vários partidos, se candidataram para sediar jogos do campeonato. Isso inclui a atuação de governadores que hoje são candidatos à presidência na oposição, como é o caso de Aécio Neves e Eduardo Campos. Até Marina Silva quis levar jogos da Copa para o Acre.
Perdemos no futebol por causa dos seis minutos fatídicos, mas não perdemos a oportunidade de realizar uma grande Copa do Mundo. Aquilo que todos previam como tragédia não aconteceu. Os estádios ficaram ótimos, os aeroportos funcionaram satisfatoriamente, a mobilidade urbana funcionou e todos os turistas foram muito bem acolhidos. Até no futebol tivemos uma grande Copa, exceto naqueles seis minutos. Os atletas brasileiros foram grandes desportistas, sabendo ganhar e perder com competitividade e superação.
Perdemos para a melhor seleção da Copa. Essa “tragédia” do futebol será lembrada para sempre como o “mineiraço”. Assim como o “maracanaço” marcou a vida do goleiro Barbosa, os onze atletas que estavam em campo, mais o técnico, serão lembrados pelos seis minutos fatais.
Assim é no jogo e na vida. Você não é julgado pelo conjunto das coisas boas que fez durante toda a vida, mas por uma falha que cometeu. Nesse tempo do império do instante vivido e da valorização do gozo ao extremo, seis minutos têm o peso da eternidade. De um momento para o outro, tudo pode mudar e a vida ganhar outro rumo. Mas o fato é que a vida não é só instante. É também duração. Conta muito a maneira como você encara suas perdas e segue adiante.

domingo, 6 de julho de 2014

Igreja relevante / Relevant church / La relevancia de la iglesia

No qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Efésios 2.1
A igreja tem perdido, nos últimos tempos, muito de sua relevância. A maior expressão de sua falta de relevância está no desejo de muitos de aplicar em sua ação a lógica de mercado, do consumo, da busca pelo sucesso a partir de estereótipos desenvolvidos através de uma mentalidade individualista e voltada para o prazer.
Para alguns, o exemplo de uma igreja bem-sucedida é aquela que se torna modelo de consumo e que oferece serviços voltados para a satisfação pessoal. Nada mais contrário à mensagem do evangelho. Uma igreja para se tornar relevante precisa estar na direção contrária das tendências desse tempo e orientar sua ação para aquilo que conduz a uma libertação de tudo o que nos separa do propósito de Deus.
A igreja precisa estar na contramão de tudo o que angustia a sociedade, que causa injustiça e que provoca a alienação do homem em relação a Deus. E nada separa mais o homem de Deus do que uma vida voltada para si mesmo.
Isso significa que:
Onde houver solidão, a igreja precisa promover a comunhão.
Onde houver opressão a igreja deve apontar para a libertação.
Onde houver insegurança, a igreja precisa afirmar a fé.
Onde houver ansiedade, a igreja precisa vivenciar a esperança.
Onde houver exploração, a igreja deve lutar pela dignidade.
Onde houver desigualdade, a igreja deve praticar a solidariedade.
Onde houver egoísmo, a igreja deve defender a generosidade.
A igreja se torna relevante não pelo que pensa ou acredita, mas pelo que faz. Só assim poderá haver alguma diferença.

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