quarta-feira, 28 de maio de 2014

A grande jogada: Reflexões sobre a Copa da FIFA 2014 / Reflections on the 2014 FIFA World Cup / Reflexiones sobre la Copa Mundial de la FIFA 2014

A Copa do Mundo de Futebol é o segundo evento esportivo mais assistido no mundo, ficando atrás apenas dos Jogos Olímpicos. Mais de 3 bilhões de pessoas acompanharão os jogos pelas televisões no mundo todo e cerca de quatro milhões de espectadores comparecerão às partidas nos estádios. Isso faz dela o maior torneio de uma só modalidade.
A iniciativa de organizar um torneio internacional de futebol remonta o ano de 1905, mas o primeiro campeonato só aconteceu mesmo no ano de 1930, no Uruguai. De lá para cá, foram 20 ocasiões em que seleções nacionais disputaram entre si o título mundial. O torneio se dá em duas etapas: uma em que são escolhidas as melhores seleções em cada continente, chamada de eliminatória; outra que acontece envolvendo as 32 melhores equipes vencedoras, num país-sede escolhido pela Federação Internacional de Futebol – a FIFA, a organizadora do evento. A FIFA é uma organização que congrega hoje 209 países, mais até que a própria ONU, que reúne 193 estados-membros.
Embora a prática do esporte não esteja vinculada a fatores políticos, não resta a menor dúvida de que a Copa do Mundo interfere na perspectiva sociopolítica e econômica dos países participantes. A própria intenção de realizar um torneio que prima pela defesa da paz, pelo combate ao racismo, pelo congraçamento entre os povos e pela igualdade das nações é, por si só, uma evidência de sua influência política.
A copa já foi usada para difundir ideologias, como em 1934, quando a Itália fascista aproveitou a conquista e o fato de ser país-sede para declarar sua supremacia. A copa de 1954, na Suíça, foi marcada pela vitória da Alemanha Ocidental, depois de anos impedida de tomar parte por causa do envolvimento com o nazismo, e isso contribuiu para a elevação da autoestima do povo alemão. A copa de 1986, no México, ficou conhecida como a Copa da Paz por causa da campanha conjunta entre Fifa e ONU pela promoção da paz no mundo.
Apesar disso, a copa tem sido também ocasião para manifestações violentas, seja por parte de torcidas organizadas agressivas – como a argentina Barra Brava e os ingleses hooligans –, seja pelo oportunismo de movimentos extremistas.
O Brasil conquistou o direito de sediar a Copa pela segunda vez em 2014 (a primeira foi em 1950). Some-se a isso o fato de que a seleção brasileira é a única no mundo a participar de todos os torneios, a que detém o maior número de títulos – cinco campeonatos – e a posse definitiva da primeira taça, a Jules Rimet. Isso, porém, não acontece de forma tranquila para diversos segmentos da sociedade que questionam os altos investimentos feitos para sediar o evento.
A reflexão necessária, no entanto, se volta muito mais ao aspecto humanizador que um torneio esportivo dessa dimensão envolve. O filósofo alemão do século XVIII Friedrich Schiller argumenta sobre a capacidade que o jogo tem de aproximar a preocupação com o conhecimento e a estética. Ele compreendia que o jogo concentra em si aspectos que envolvem a noção de equilíbrio ligado à integridade da pessoa humana e até mesmo ao exercício da liberdade. Ele afirmou que o homem se torna plenamente humano quando joga.
Johan Huizinga, no século XX, considerou que o jogo se difere da vida cotidiana na medida em que se constitui como uma atividade livre e consciente, exercida em meio à tensão e a alegria. O jogo faz parte da cultura e se manifesta na dinâmica das relações sociais.
Uma competição como a Copa do Mundo é ocasião para exercitar e desenvolver a nossa humanização. A nossa cultura lúdica pode ser enriquecida de modo que contribua para uma vida mais solidária e participativa, desperta o senso de comunidade e aproxima as pessoas. A competição se dá em meio a observação de regras, do desempenho de habilidades e de intencionalidades que estão inter-relacionadas com as práticas e as interações cotidianas.

Assim é o jogo da vida. Participar dele é a grande jogada. E a Copa do Mundo pode ser uma boa ocasião para pensar nisso e fazer as escolhas acertadas.

sábado, 24 de maio de 2014

Tempos trabalhosos / Perilous times / Tiempos peligrosos

Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis.2 Timóteo 3.1
Um século antes de Cristo, o senador romano Cícero declarou: “O tempora, o mores”, que em latim quer dizer “que tempos, que costumes”. Era uma constatação dos conflitos e ameaças que a sociedade romana passava. Havia um jogo de interesses políticos da oposição que ameaçavam a república. A vida social era marcada por violência, corrupção, desigualdade e injustiça social.
Essa expressão foi usada posteriormente com certa constância por escritores latinos para demonstrar uma perplexidade diante da decadência moral que assolava a vida social. Até mesmo o teólogo Jerônimo, no século IV da era cristã, a utilizou para demonstrar sua indignação diante das ameaças aos bens e à vida comum.
A Bíblia também parece dar a idéia de que o futuro nos reserva tempos difíceis e trabalhosos. Porém, não há qualquer exigência para que venhamos aceitar esse aspecto da realidade como normal. Ao contrário, a Bíblia é um convite à insurreição contra toda forma de expressão que ponha em risco a esperança e a liberdade.
A mensagem do evangelho não aponta para uma solução para tempos difíceis num futuro distante, mas nos chama para uma transformação para que vivamos esses tempos trabalhosos com esperança de que um tempo melhor é possível. É isso que nos encoraja a sair de nossa acomodação e a desenvolver atitudes que tornem um mundo melhor viável.
A fé tem que estar comprometida com isso. Se não, de que vale crer?


sábado, 17 de maio de 2014

Jesus, o dissidente / Jesus, the dissident / Jesús, el disidente

Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria.” João 16.20
Muitos encontraram motivos de sobra para rejeitar Jesus: seus parentes quiseram afastá-lo de sua missão, os discípulos não entenderam sua mensagem, as autoridades o perseguiram, o povo buscava nele apenas a satisfação de necessidades pessoais e os religiosos o viam como um herege.
Por que tanta rejeição? O que um simples pregador poderia oferecer de tão ameaçador? O que a mensagem de salvação, do amor e do perdão poderia proporcionar de tão desagradável ou desconfortante? A boa notícia do Reino de Deus tornou-se, de fato, uma ameaça para a segurança das pessoas acostumadas à tradição e às rotinas de sua época. Os rituais de poder e de dominação trazem consigo uma segurança enganosa, uma paz superficial e até mesmo algumas certezas nada consistentes. A mensagem de Jesus, no entanto, confronta essas estruturas e nos chama a uma libertação de toda forma de dominação.
Esse tipo de confrontação diante da opressão não é fácil. Jesus não sairia com vida de uma conjugação de forças tão poderosa como a que enfrentou. Ele foi um dissidente do sistema vigente em sua época e essa dissidência o levou à morte. Isso causou certamente profunda tristeza naquele momento, mas proporcionou uma alegria que gera vida em todo aquele que o acolheu em fé.

Jesus abriu mão de valores e padrões de seu tempo para que pudéssemos ter vida em seu nome. Ele nos convida para seu Reino de alegria a fim de que possamos desfrutar do melhor que ele tem para nós.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Família, campo missionário / Family, mission field / La Familia, campo de misión

A maneira como tem se configurado o tratamento da família na contemporaneidade demonstra que, cada vez mais, ela é um campo missionário fértil e oportuno. O conflito que se percebe na formação e na dissolução de famílias, bem como a mudança de expectativas nas relações interpessoais, demonstra que as pessoas estão cada vez mais carentes de algo que as complete e que possa trazer novas perspectivas para a vida.
A família é parte tão importante na vida humana que o que acontece nela repercute na vida da pessoa. Da mesma forma, nossos conflitos e conquistas pessoais têm consequências na vida em família. Há uma inter-relação entre a pessoa humana e a família de tal maneira que, usando a expressão do papa João Paulo, o futuro da humanidade passa por ela.
Nesse contexto, nossos familiares são as principais testemunhas oculares de quem somos. Eles conhecem nossas virtudes e nossas falhas. Diante daqueles que convivem diariamente conosco, não há como fingir ser mais santo ou exercitar uma espiritualidade aparente. Por isso, estimular a fé em Jesus Cristo e a busca pelo conhecimento de Deus em família se constitui num grande desafio.
Certa vez, uma pessoa que fora grandemente abençoada por Jesus sentiu o desejo de segui-lo por todos os lugares. Era o endemoninhado de Gadara, liberto de uma vida de opressão. A transformação de vida dele era mais do que evidente e poderia servir como um forte apelo para que outros abraçassem a fé. Porém, Jesus não permitiu que o acompanhasse naquele momento e ainda recomendou: “Vá para casa, para a sua família e anuncie-lhes quanto o Senhor fez por você e como teve misericórdia de você.” Marcos 5.19.
A espiritualidade se torna mais relevante e significativa quando vivida em família do que no contexto da própria igreja. É nela que podemos exercitar atitudes como perdão, paciência e compaixão; é nela que podemos desenvolver valores morais e afetivos; é nela que podemos alimentar sonhos e esperança quanto ao nosso futuro; é nela também que podemos vivenciar a fé e aprofundar o nosso conhecimento de Deus.
A família é o nosso primeiro campo missionário porque é ela a primeira e maior beneficiada quando a salvação acontece. Jesus disse que a salvação havia chegado à casa de Zaqueu por causa de sua mudança de vida. Os discípulos Paulo e Silas disseram ao carcereiro de Filipos que toda sua família poderia ser salva se ele tão somente depositasse a sua fé em Jesus Cristo.

Viver em família e não se importar com ela é um dos extremos do individualismo. Para superar essa tendência, a Bíblia convida a restaurar o cuidado pessoal com a família. Ela nos diz: “Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente.” 1 Timóteo 5.8.

domingo, 11 de maio de 2014

O remédio para a solidão / Solution to loneliness / El remedio para la soledad

Deus dá um lar aos solitários [...].” Salmos 68.6
O melhor remédio contra a solidão é a vida em família. Seria suficiente dizer que é a Bíblia quem diz e, se a Bíblia falou, está certo. Porém, não é uma questão tão simples assim. Há muitas pessoas que vivem solitárias em família.
Não se trata de uma solução que já vem pronta. Ela precisa ser construída pelas nossas atitudes. Quero apresentar algumas razões para que a família seja, de fato, o melhor remédio para a solidão.
A família precisa ser o espaço do encontro. Pessoas podem realizar em família relacionamentos profundos e duradouros.
A família precisa ser o lugar em que se pode ser o que é. Pessoas não precisam mudar seu status de pai, mãe, filho ou filha, avo ou avó, por serem o que são.
A família precisa oferecer oportunidades de vivenciar a nossa humanização. Pessoas solidárias e generosas têm maiores chances de se realizarem se desenvolverem tais atitudes em família.
A família precisa proporcionar encorajamento para a vida. Pessoas se sentem mais encorajadas quando encontram apoio por parte da família.
A família precisa ser um convite para a fé. Pessoas que têm fé e esperança são os melhores rostos de Deus que alguém pode ver.
Entretanto, a família só será remédio para a solidão na medida em que cada um vai descobrindo seu valor e o quanto se é relevante para o outro. Só assim poderemos sonhar com uma vida melhor. Quando a família é vista apenas como espaço para realização de nossos interesses, aí ela se torna um pesadelo.

domingo, 4 de maio de 2014

Família abençoada / Blessed family / La familia bendecida

Agora, por tua bondade, abençoa a família de teu servo, para que ela continue para sempre na tua presença. Tu, ó Soberano Senhor, o prometeste! E, abençoada por ti, bendita será para sempre a família de teu servo.” 2 Samuel 7.29
Quantas vezes você já orou para que sua família seja abençoada para sempre? Não estou falando das vezes em que você suplicou pela saúde de alguém, ou intercedeu para a solução de um conflito, ou pediu por um emprego, melhor salário, casa, carro, bens e até estudos, ou orou pela conversão de algum ente querido. Todos nós já fizemos isso muitas vezes. E precisamos fazer sempre.
Chega um momento em que não basta suplicarmos por bênçãos. É quando a gente percebe que fizemos tanto por nós mesmos ou nos envolvemos tanto com nossas circunstâncias, mas demos pouca importância ao propósito de Deus para nossa vida.
Davi estava vivendo esse dilema. Já estava morando no palácio que construiu, o número de inimigos havia diminuído, o reinado já estava consolidado. Davi chegou a achar que não era justo estar tão bem enquanto a arca de Deus estava numa cabana.
Era uma tolice, pois Deus não precisava de nada que Davi pudesse fazer. Por isso, Davi declarou em sua oração: “Quem sou eu e o que é a minha família para que me trouxesse a esse ponto?” Só assim ele pode constatar: “Quão grande és tu...” Daí a sua petição final, não para que a família receba bênçãos especiais, mas para que ela fosse abençoada. Ele encontrou coragem para pedir que sua família fosse abençoada para sempre.

Não importa como sua família esteja ou seja, tome coragem e faça o mesmo.

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