domingo, 23 de dezembro de 2007

O Natal e o futuro / the Christmas and the future

Jesus Cristo poderia ter sido o homem mais amargurado da face da terra. Antes de vir ao mundo, estava com Deus, era Deus, mas teve que nascer em uma família humilde, em situações precárias. Antes de vir ao mundo, tinha o céu como morada, mas teve que viver em uma cidade com má reputação (“pode vir coisa boa de Nazaré?”). Antes de vir ao mundo, era o dono de todas as coisas, tinha os anjos a seu serviço, uma simples palavra ou um simples toque e tudo acontecia conforme a sua vontade, mas viveu sem nada possuir, dependendo de ajuda de estranhos, de ter que colher espigas em épocas impróprias para comer, de ficar ao relento. Antes de vir ao mundo, tinha uma atitude marcada pela justiça e eqüidade, mas teve que suportar um julgamento equivocado e pagar por crimes que não cometera.
Do nascimento até a morte, Jesus Cristo teria todas as razões para viver como um revoltado e reclamar – como muitos afirmam – de ter sofrido perdas e experimentar um verdadeiro fracasso, de ter que se mostrar como um Deus que se deixa morrer e, além de tudo, ter que suportar a morte como um maldito.
Imagino que esse tipo de pensamento passou pela cabeça de Jesus. Passou pela minha também. E Jesus foi tão humano quanto eu. A Bíblia mostra que algumas vezes Jesus se debateu com esse quadro. Ele mesmo disse que até as aves têm seus ninhos, mas ele mesmo não tinha onde repousar a cabeça. Em uma de suas orações, ele pediu a Deus que pudesse experimentar aquela glória que tinha antes que o mundo existisse. Em meio a agonia da chegada do momento final, ele pediu que, se fosse possível, o livrasse daquela sina. Até na cruz ele ainda perguntou por que Deus, como Pai, o havia abandonado.
Entretanto, a Bíblia mostra que o que fez com que Jesus Cristo suportasse tudo o que sofreu desde o seu nascimento foi a sua visão do futuro. Ele sabia que havia uma promessa de um tempo de glória que o Pai estava reservando para Ele. É isso que dá sentido ao fato de que temos algo a comemorar no Natal: o fato de que alguém viveu como homem com a sua visão fixada no futuro.
Isso nos ajuda a imaginar que é no futuro que está a nossa esperança. Jesus Cristo nos deu prova de que Deus prepara um futuro de glória para todos que depositam a sua confiança nele. Isso nos ajuda a pensar que o melhor tempo de nossa vida ainda está para acontecer.
A mensagem do Natal é que, ainda que as circunstâncias sejam difíceis para nós, existe um tempo que Deus está cuidando que nos trará a vitória e tudo fará sentido. Isso é possível porque o próprio Jesus, sendo Deus, demonstrou isso em sua vida. “Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha” (Hebreus 12.2).
A beleza do Natal não está na história de uma criança que nasceu em Belém, de reis magos, anjos e pastores. O Natal não existe para trocarmos presentes e usarmos enfeites coloridos e iluminados. O sentido do Natal não está na fartura do banquete nem na solidariedade entre os povos. Ainda que tudo seja tão expressivo para alguns. O Natal é a lembrança de que Deus se fez o homem para mostrar para nós que se importa com a nossa dor e que cuida de nosso futuro. E isso aconteceu por meio da pessoa de Jesus Cristo, que deseja tomar parte da vida de cada um de nós. Um feliz Natal é permitir que Jesus Cristo realize o desejo dele na vida da gente, uma oportunidade de entrega de nossa vida a Ele para que ele cuide de nós e renove a nossa esperança num futuro melhor. Um Feliz Natal para todos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ética e Virtude / Ethics and virtue

Desde o começo da Ética a Nicômaco, Aristóteles define a ética como o estudo da ação humana fundamentada no bem: “admite-se geralmente que toda arte e toda investigação, assim como toda ação e toda escolha, têm em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem” (1973, p. 249). Fica claro que a existência humana se inscreve num plano geral e harmonioso, mas de realização bastante complexa.
A natureza humana, para Aristóteles, encerra em sua estrutura o conflito da forma, que luta para subordinar a matéria, e da razão, que tenta comandar as paixões, desejos e sentimentos, na perspectiva do dualismo psicofísico – a superioridade da alma sobre o corpo e a distinção entre a parte racional e a parte dominada pela vontade. Entretanto, para ele a idéia não existe separada dos indivíduos concretos. Por isso, é preciso distinguir o que o indivíduo é atualmente e o que pode vir a ser. Enquanto Deus é ato puro, o homem é atividade, passagem da potência ao ato.
O que é a felicidade, então para Aristóteles? É a vida teórica ou contemplação, como atividade humana guiada pela razão, que não se realiza de forma acidental, mas mediante a aquisição das virtudes, como sendo certos modos constantes de agir. As virtudes são atitudes adquiridas e se constituem num termo médio e equilibrado entre dois extremos. A felicidade que se alcança por meio da virtude exige condições que não se bastam sozinhas para se realizarem, como a liberdade. O triunfo da virtude é, portanto, a vitória do homem sobre si mesmo, conquistando a harmonia interior, quando se torna senhor de si.
Porquanto a existência é boa para o homem virtuoso, e cada um deseja para si o que é bom, ao passo que ninguém desejaria possuir o mundo inteiro se para tanto lhe fosse preciso tornar-se uma outra pessoa (quanto a isso, Deus é quem tem a posse atual do bem). Tal homem só deseja essas coisas com a condição de continuar sendo o que é; e o elemento pensante parece ser o próprio indivíduo, ou sê-lo mais do qualquer outro dos elementos que o formam. E ele deseja viver consigo mesmo, e o faz com prazer, já que se compraz na recordação de seus atos passados e suas esperanças para o futuro são boas, e portanto agradáveis.
Aristóteles elabora um discurso sobre a felicidade do homem que se tornou consciente de si: “Mas uma tal vida é inacessível ao homem, pois não será na medida em que é homem que ele viverá assim, mas na medida em que possui em si algo de divino. [...] Se, portanto, a razão é divina em comparação com o homem, a vida conforme a razão é divina em comparação com a vida humana. Mas não devemos seguir os que nos aconselham a ocupar-nos com coisas humanas, visto que somos homens, e com coisas mortais, visto que somos mortais; mas, na medida em que isso for possível, procuremos tornar-nos imortais e envidar todos os esforços para viver de acordo com o que há de melhor em nós; porque, ainda que seja pequeno quanto ao lugar que ocupa, supera a tudo o mais pelo poder e pelo valor” (1973, p. 429).
O objetivo da ética aristotélica é tornar o homem bom. “Não investigamos para saber o que é virtude, mas a fim de nos tornarmos bons, do contrário o nosso estudo seria inútil” (ARISTÓTELES, 1973, p. 268). Indagará mais adiante: “Se estes, assim como a virtude e também a amizade e o prazer, foram suficientemente discutidos em linhas gerais, devemos dar por terminado o nosso programa?” (p. 432). A resposta só pode ser negativa, pois a ética não visa à especulação, mas à prática. “No tocante à virtude, pois, não basta saber, devemos tentar possuí-la e usá-la ou experimentar qualquer outro meio que se nos antepare de nos tornarmos bons” (p. 432).
(Extraído de minha dissertação de Mestrado: Ética protestante e pós-modernidade)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Um profissional a serviço do Reino / A professional serving the Kingdom

Neemias foi um homem usado por Deus, modelo de um profissional a serviço do Reino. Sua profissão: copeiro do rei babilônico Artaxerxes, residente na cidade de Susã. Estamos falando de um dos mais imponentes e aristocráticos reis que os babilônicos conheceram e da cidade mais progressista daquela época.
Em sua profissão, Neemias nunca esteve triste, aborrecido ou chateado com alguma coisa. O rei, seu patrão, podia constatar isso, tanto que preferia o vinho que era servido pelas mãos de Neemias. Como servo, não murmurava, não se queixava do salário ou do serviço, nem fazia planos de largar tudo na primeira oportunidade que aparecesse. Mas nem por isso era um acomodado.
Mesmo sendo um escravo, Neemias estava satisfeito com o posto que conseguira com seus esforços, fruto de seu trabalho dedicado. Em todo o tempo, apesar da sua condição, ele fez o melhor que pôde. Poderia ter sido melhor, se tivesse crescido livre, em condições de estudar e encontrar melhores empregos. Mas, o que importava? Ser escravo foi a chance que teve. Restava a ele aproveitar aquela oportunidade da melhor forma possível. Tornou-se o escravo copeiro de confiança do rei!
Um dia ele soube como estava a sua cidade de origem, onde se encontravam os restos mortais de sua família e o restos de suas lembranças de infância. Tudo destruído e desolado, toda a sua gente na mais completa miséria. Lembrou-se das palavras de Deus, plantadas por seus pais desde criancinha. Dali por diante, tudo o que tinha conseguido com seu esforço passaria a ser de menor importância diante da necessidade de alguém que se coloca nas mãos de Deus.
Para isso, ele orou ao Deus vivo que tudo vê. Deus moveu o coração do rei, Deus moveu os reinos vizinhos, Deus moveu o intento dos inimigos, Deus moveu o coração daquele povo sofrido. Notem a diferença: um homem dedicado naquilo que faz orou ao Deus dos impossíveis, dizendo: “faze prosperar hoje o teu servo e dá-lhe graça perante este homem” (Neemias 1.11).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A CPMF acabou. Isso é uma boa notícia?

A CPMF acabou, nada a comemorar. Desde que o governo do PSDB inventou o imposto do cheque, vejo com muita suspeita todo o discurso de que temos impostos demais. Também não sou defensor de impostos e até acho que pagamos muito caro para sermos brasileiros. Eu não esqueço que foi com o PSDB que passei a pagar mais impostos, principalmente em relação ao imposto de renda. A oposição não tem nada a comemorar em relação ao fim de uma cobrança que ela mesma criou, uma vez que tinha como finalidade financiar uma área que o próprio governo abandonou: a saúde. O que é preciso ser feito - e aí a oposição daria uma grande contribuição para o país - é apontar os modos como fazer um país crescer sem tantos tributos. Isso não tenho ouvido de nenhum político, de nenhum cientista político, nem mesmo da mídia que promove uma verdadeira campanha anti-impostos - necessária, mas mal-direcionada. Como gerar mais emprego? Como promover o consumo interno? Como fazer produzir mais para atender a demanda e baixar os preços? Essas respostas estão muito interligadas e remetem a uma outra: como evitar os gargalos da economia, como a corrupção, o excesso da burocracia etc.? A CPMF acabou, mas deixou sua sombra: o espaço aberto para a continuidade de todas as ações que vêm sendo praticadas há muito tempo nesse país contra a economia da população. Eu estou convencido de que nunca antes na história desse país se tratou com tanto descaso as finanças públicas.

Ética e significação / Ethics and meaning

O homem é um animal em busca de significados. É no emaranhado de relações entre ética e discurso que os homens estabelecem com o mundo, com os outros e consigo mesmo que se realiza o processo comunicativo e, conseqüentemente, a vida moral. Ao agirem moralmente, em conformidade com a teoria de Jürguen Habermas, os sujeitos mobilizam para si, necessariamente, uma teia de relações intersubjetivamente formadas a partir da qual falantes e ouvintes negociam a definição das situações morais, tendo como elemento mediador suas próprias linguagens.
Para Habermas, em seu livro Consciência Moral e Agir Comunicativo, as proposições ético-racionais não se constituem em verdades, por si sós. Necessitam de validação e esta deve ser buscada através de um processo argumentativo. Ou seja, ao contrário de Kant, Habermas discorda da existência de conteúdos normativos universais. Para ele, universal é o processo de submissão argumentativa da validade desses conteúdos. Isto é, “o princípio da ética do discurso proíbe que, em nome de uma autoridade filosófica, se privilegiem e se fixem de uma vez por todas numa teoria moral determinados conteúdos normativos” (2003, p. 149). Daí sua teoria ética, ao contrário da kantiana, ser denominada de procedimental por caracterizar-se pela submissão dos princípios universais às regras de argumentação conectadas com a perspectiva de validação normativa.
Para Habermas, “o discurso prático é um processo não para a produção de normas justificadas, mas para o exame da validade de normas consideradas hipoteticamente” (2003, p. 148). Percebe-se, portanto, que, em vez de princípios fixos, rigidamente estabelecidos e universalmente aplicáveis, Habermas vai falar de uma esfera da eticidade. Esta refere-se ao “mundo da vida posto à distância e no qual se entrelaçam obviedades culturais de origem moral, cognitiva e expressiva” (2003, p. 130). Neste sentido, a vida ética apresenta-se como imersa numa configuração cultural complexa e a sua regulamentação exige uma comprovação pragmático-transcendental de pressupostos universais e necessários à argumentação. À primeira vista, tal concepção pode assemelhar-se à do imperativo categórico kantiano. Segundo Habermas, a realização de uma ética pautada no discurso dos participantes da fala se orienta pela busca de validez normativa para as ações morais. Tal busca deve se pautar pelo estabelecimento de critérios de justificação dos juízos morais, não tomados de forma imperativa, apriorística, como queria Kant.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Ética e Discurso / Ethics and discourse

Um novo caminho dentro da perspectiva da ética racional é o de Jürgen Habermas. Embora o direito de existir seja negado por Nietzsche, Habermas vai defender a possibilidade de uma ética fundamentada racionalmente. Entretanto, sua posição difere substancialmente da dos outros teóricos racionalistas éticos.
O projeto de Habermas é desenvolver uma concepção não-metafísica tanto da razão quanto da subjetividade. Para ele, a ética racionalista moderna não se adapta mais à complexidade das relações entre os homens nos dias de hoje, posto que seu fundamento é baseado em uma razão monológica, desengajada. Como contraponto, apresenta a ética do discurso, cujo fundamento é uma razão dialógica, pautada na ação comunicativa, onde as interações entre os homens se dão na comunicação quotidiana, mediatizada pela linguagem.
A ação comunicativa se baseia na idéia de um processo de socialização lingüisticamente mediado, através do qual falantes e ouvintes interagem na busca do estabelecimento de um consenso tácito entre eles. Quando as interações comunicativas acontecem no plano das ações comunicativas normais, cotidianas, são denominadas fala. No nível da fala, espera-se que todas as pessoas envolvidas possam proferir sentenças que sejam inteligíveis (pretensão de inteligibilidade) do ponto de vista gramatical e lingüístico; espera-se também que seu conteúdo proposicional seja verdadeiro (pretensão de verdade); que, ao emiti-lo, o falante seja sincero ou veraz (pretensão de veracidade) e que a sentença seja correta ou adequada (pretensão de justiça) em relação às normas e valores vigentes aceitas por todos os ouvintes.
Habermas, no livro Consciência moral e agir comunicativo, pressupõe, ainda, que todos os falantes, potencialmente, possuam a capacidade de entrar no processo comunicativo, isto é, a competência tanto lingüística quanto cognitiva e interativa para participar dos atos de falas, em menor ou maior grau. E isso é universal. Ou seja, no plano das interações lingüísticas normais, as sentenças proferidas não são contestadas quanto às suas pretensões de validade. Assim, o consenso tácito pode ser estabelecido sem que seja necessário submetê-las a uma avaliação crítica. Quando, ao contrário, pelo menos uma das quatro pretensões de validade são desafiadas, falantes e ouvintes passam do plano das interações lingüísticas normais – fala – para um outro plano comunicacional, através do qual as sentenças proferidas são questionadas – o discurso. Assim, o consenso verdadeiro só pode ser estabelecido através de um processo argumentativo, em que falantes e ouvintes são convidados a justificar suas sentenças. Para Habermas existem dois tipos de discurso: o teórico e o prático. No discurso teórico, o que entra em questionamento é a verdade dos fatos, ao passo que no discurso prático é a verdade das normas que se encontra desafiada.
No plano comunicacional do discurso, o estabelecimento do consenso verdadeiro deve ser precedido de uma série de condições. Entre elas duas são as mais importantes: a garantia de que o processo argumentativo aconteça sem qualquer tipo de coação, seja externa (através da violência), seja interna (falsa consciência) e a garantia de que tanto os argumentos como os contra-argumentos sejam amplamente discutidos a fim de que não haja manipulação por parte dos falantes. Tanto na fala quanto no discurso, a relação interativa que se estabelece, na busca do consenso possível (cuja função é coordenar as ações dos diferentes sujeitos), se desenvolve no âmbito do mundo vivido.
Isso significa que a ética discursiva, pautada na ação comunicativa entre os sujeitos, é aquela que remete tanto à objetividade do mundo das coisas quanto à subjetividade do mundo das paixões, dos desejos, das emoções. Ao entrarem em interação, através dos atos de fala, os homens emitem enunciados que remetem a uma tripla conexão, na qual se entrelaçam o mundo objetivo das entidades reais, o mundo social das normas e o mundo subjetivo das experiências individuais. As próprias ações concretas levam o sujeito a posicionar-se em face destes três mundos. Para Habermas, a vida ética fica imersa nesta configuração de mundos humanos, possuindo conteúdos não apenas cognitivos, mas também valorativos e expressivos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Ética e Razão / Ethics and Reason

As concepções éticas racionalistas tiveram como objetivo a formulação de uma visão de mundo baseada na autonomia do sujeito. Entretanto, esse modo de compreender a realidade, apenas sob uma ótica da objetividade, mostrou-se uma ilusão. Tanto que hoje vivemos um conflito de afirmação do sujeito que, embora seja social e culturalmente construído, luta para ver questões como vontade e desejo serem valorizadas.
Esse conflito pode ser explicado visto que sofremos os resultados de uma lógica fundada na objetividade e no princípio da causalidade, heranças tanto do positivismo quanto do pragmatismo. A realidade, porém, é que, como afirmou Bachelard, somos “o resultado de nossas ilusões perdidas”.
A crítica mais acentuada ao racionalismo foi desencadeada por Nietzsche. Em sua obra A genealogia da moral, Nietzsche se opõe à ética cristã e à ética racionalista. Chama a moral cristã de moral de escravo, porque a considera responsável pelo aprisionamento do homem à idéia do pecado. Ao mesmo tempo, acusa a ética racionalista de ter pretensões universalistas, impossível de se realizar. Afirma que a ética só é possível ao “homem nobre”. Admite que a casta nobre é, em princípio, sempre bárbara, mas toda elevação do homem se deve à sociedade aristocrática, pois nenhuma moral é possível sem um bom nascimento.
Essa moral aristocrática se move no sentido da afirmação da potência (ou força) dos instintos e desejos, considerada como libertadora.
A moral racionalista, segundo Nietzsche, é característica dos fracos que, temendo a vida, os desejos e as paixões, inventaram o dever, ordenaram a submissão da vontade à razão e impuseram o castigo para quem transgredisse suas leis. Nesse caso, a moral racionalista é, eminentemente, repressora e depõe contra a liberdade. Dessa forma, só os fortes (os aristocratas) conseguem romper com ela.
Para Nietzsche, o bem deve ser entendido como algo capaz de fortalecer os desejos vitais, enquanto o mal seria tudo aquilo que visa a enfraquecer tais desejos. Isso significa que toda e qualquer tentativa de regulamentação das ações morais assume um caráter coercitivo e, portanto, os enunciados morais devem obedecer apenas aos ditames do desejo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Razão e paixão / Reason and passion / La razón y la pasión

Com a modernidade, passou-se a desenvolver a idéia de que a vida ética depende, quase que exclusivamente, do desenvolvimento da nossa capacidade de raciocínio, da razão. Para Espinosa, porém, a vida ética depende da nossa vontade, que pode querer ou não querer o que a razão ordena. Pare ele, a natureza humana é passional.
As paixões que nos dominam não são, em si, nem boas nem más; são naturais e, por natureza, nos encontramos cercados delas, sofrendo, passivamente, suas ações (que nos são externas). Diz ele: “as ações da alma nascem apenas das idéias adequadas e as paixões dependem apenas das idéias inadequadas” (Espinosa, 1973, p. 187).
As paixões ou afecções da alma, que nos são originais, são a alegria, a tristeza e o desejo. A paixão alegre é aquela que é capaz de aumentar a potência de agir do nosso corpo e de pensar da nossa alma. Dela decorre o amor, a esperança, a glória, a misericórdia, o contentamento e a segurança. Já a paixão triste, por oposição à alegre, refere-se à diminuição da potência de agir do nosso corpo e de pensar da nossa alma. O desespero, o ódio, a inveja, o orgulho, o medo e o pudor são derivados da paixão triste. A paixão do desejo, por exemplo, pode ser alegre ou triste. “O desejo é a essência ou a natureza de cada indivíduo na medida em que é concebido como determinado a fazer qualquer coisa pela sua constituição, tal qual ela é dada” (Espinosa, 1973, p. 216).
Nesse sentido, então, a ação moralmente correta, segundo Espinosa, é aquela que se orienta no sentido de aumentar a nossa potência de agir. A este movimento ele chamou de virtude e ao seu contrário, denominou de vício. Mas a virtude não é um bem em si, apenas significa a força do homem em ser e agir de forma autônoma. Do mesmo modo, o vício representa a fraqueza para existir, ser e agir, não se constituindo, portanto, num mal em si mesmo.
Segundo Espinosa, um homem deve agir moralmente correta não se submetendo às causas externas; passando da paixão à ação, tornando-se causa ativa interna de sua existência, atos e pensamentos; não se deixando dominar pelas paixões e desejos tristes e fortalecendo as paixões e desejos alegres. A razão é o equipamento de que o homem dispõe para concretizar esta ação moral no sentido do bem.
“Os homens, só na medida em que vivem sob a direção da Razão fazem necessariamente o que é necessariamente bom para a natureza humana e conseqüentemente, para cada homem; isto é, aquilo que está de acordo com a natureza de cada homem e, por conseguinte, os homens estão também sempre necessariamente de acordo, na medida em que vivem sob a direção da Razão” (Espinosa, 1973, p. 252).

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ética e felicidade / Ethics and happiness

A função da ética é a de explicar, esclarecer e investigar uma determinada realidade. Esse modo de ver a abordagem ética é importante para repensar o sujeito de forma histórica e o modo como se constitui a sua relação com o simbólico. A questão ética pode ser tratada como uma questão de interpretação, uma vez que está relacionada à produção de significação, na relação da língua e da constituição dos sentidos e do sujeito. Nos processos de subjetivação, a abordagem ética é parte de uma ideologia, produzida pela ilusão de uma consciência de que se trata de uma questão pessoal, de conduta individual. Desse modo, a questão ética resulta ainda de uma relação política que se insere no espaço da ideologia, do equívoco.
É possível ver isso através da análise das teorias éticas que historicamente se assentam nos princípios da racionalidade e da autonomia do sujeito. Essas teorias surgem, basicamente, no período conhecido como modernidade, que abrange os séculos XVII a XIX. Uma concepção de racionalidade ética é aquela que afirma a possibilidade de uma fundamentação racional do dever moral, que se utiliza de procedimentos discursivos, com base na linguagem, para demonstrá-la. Significa que pretende argumentar acerca de uma concepção mais ampla de compreensão da ética racionalista. Uma concepção que privilegia não apenas os aspectos lógicos formais do pensamento autônomo, mas que também presta atenção aos aspectos intersubjetivos de constituição dos mesmos.
O início das preocupações com os problemas relacionados à vida ética sob a égide do pensamento, na filosofia ocidental, localiza-se na ética grega, precisamente com Sócrates. No ocidente, a origem da ética racionalista é atribuída a Sócrates, que, rompendo com a tradição da ética naturalista, parte da suposição da existência de um sujeito ético-moral dotado de consciência adquirida através da razão. Para este filósofo grego o homem age moralmente correto quando conhece o bem (felicidade da alma) e, conhecendo-o, não poderá deixar de praticá-lo. Em contrapartida, quando o homem aspira ao bem, sente-se senhor de si e, conseqüentemente, feliz.
Para Aristóteles, o fim último da vida é a busca da felicidade pela prática da virtude, como uma atividade da alma. Para Epicuro, a felicidade está no prazer, entendido aí como ausência de dor, e não somente volúpia. O prazer é visto como o começo e o fim da vida feliz. Para os estóicos, a felicidade estava na ausência de perturbações, o que eles chamavam de ataraxia, o estado em que a pessoa não é afetada pelos males da vida. Para os primeiros pensadores cristãos, a felicidade consiste na salvação da alma, no encontro de fé com Jesus Cristo associado à pratica da moral cristã.
No racionalismo clássico, localizamos uma ética que se contrapõe à ética cristã medieval, basicamente por ser humanista, isto é, por conceber o homem como o sujeito dos atos morais, e não mais Deus ou a natureza. Nesse período, acentua-se a idéia de que a razão humana é capaz de controlar e predizer as causas e os efeitos tanto dos fenômenos físicos quanto dos fatos sociais. Natureza e sociedade possuem as mesmas leis que as governam. O intelecto é capaz de dominar as emoções e as paixões, de modo que a vida prática ou a ética pode ser fundamentada racionalmente. Seus principais representantes foram Thomas Hobbes e Baruque de Espinosa.
O iluminismo, logo em seguida, caracterizou-se por ser um dos períodos mais fecundos e profícuos para o desenvolvimento da concepção de que a vida ética era governada pela razão. O iluminismo vai diferenciar natureza e civilização. A natureza representa o “reino da necessidade” no qual se encontram as leis naturais, universais e imutáveis. Já a civilização representa o “reino da liberdade”, responsável pela livre vontade humana para promover melhoramentos tanto intelectuais quanto morais. Isto significa que há níveis diferenciados tanto de natureza quanto de civilização e que os progressos no conhecimento moral se realizam através do aperfeiçoamento das civilizações. O principal representante da ética iluminista foi Kant.
Em todas essas abordagens, a felicidade é vista como um fim a ser atingido. Mas a realidade é que a felicidade consiste em um estado da alma, como uma função vital. Não se trata de algo a ser conquistado, mas algo a ser vivido. Ela não está fora, inatingível. Ela está dentro de você. Você precisa organizar o seu mundo interior e descobrir a si mesmo, descobrir o prazer e a coragem de ser o que você é.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O que é religião / What is religion

Existem muitas definições para religião. Algumas delas podem ser consideradas como aquelas que encaram a religião como o reconhecimento de um mistério e que dão ênfase a aspectos coletivos formadores da cultura. Outras, por sua vez, estão relacionadas a aspectos individuais, como o sentimento de dependência de deus. Seja qual for a definição, o fato é que o atual entendimento do que vem a ser religião está muito ligado ao que Émile Dürkheim , em As formas elementares da vida religiosa, desenvolveu no começo do século XX: “uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas; crenças e práticas que unem numa mesma comunidade moral chamada igreja todos os que a ela aderem”.
A experiência religiosa se constitui em uma relação de encontro do homem com o sagrado, quando toma consciência desse conceito, de algo que é precioso, inviolável e respeitável. A idéia do sagrado está ligada à natureza divina, na medida em que se considera que um ser possui um elemento divino, e que por isso deve ser respeitado e adorado, objeto de culto que inspira respeito, reverência. Em toda a história da humanidade, a vida humana é caracterizada pelo desenvolvimento de um comportamento religioso, incluindo crenças em forças e poderes sobrenaturais, em sentimento de impotência perante esses poderes e na manifestação de um desejo de salvação e de libertação de uma realidade desordenada e caótica.
A principal questão, ao tentarmos analisar o que é esse sentimento tão enraizado no homem, é saber como o ser humano desenvolve a idéia do sagrado para com ele se relacionar. Nesse sentido, o primeiro passo a ser dado é identificar o que se pode chamar de sagrado. Podemos entender por sacralidade uma ruptura entre o natural e o sobrenatural, ainda que os seres ou coisas sagradas sejam naturais (ou da natureza). Trata-se de uma experiência da presença de uma força sobrenatural, ou uma potência, que habita um ser, que pode tanto pertencer a ele mesmo, quanto pode ser adquirida. Essa experiência está no domínio do simbólico, da diferença entre os seres, da superioridade de uns sobre os outros, que gera o espanto, o mistério, o maravilhoso, o desejo e o temor.
O sagrado é sobrenatural porque diz respeito à capacidade que um ser tem para que se realize tudo o que o homem julga impossível realizar com a sua própria capacidade humana. É por meio do sagrado que se dá origem ao encantamento através de poderes, sinais e maravilhas que são operados magicamente. Criam-se vínculos de simpatia ou repulsa, atração e rejeição, autoridade e submissão. É uma qualidade – boa ou má, protetora ou ameaçadora – que um ser possui, que o distingue de todos os outros e que pode suscitar devoção, amor, temor e ódio.
A religião surge dessa necessidade de vínculo entre o sagrado e seu oposto, que é o profano, isto é, entre o mundo sobrenatural, habitado pela divindade, formado pelos seres portadores dessa força sobre-humana, na esfera do sagrado, e o mundo natural, habitado pelos seres limitados e falhos. É pela ação da sacralização – atribuir um valor simbólico – e pela ação de consagração – delimitação de um espaço, de uma área de domínio – que se cria a idéia do espaço sagrado, o lugar da adoração, do culto, do templo. A religião, portanto, põe em ordem o espaço que lhe atribui valores diferentes de suas qualidades naturais.
(extraído do meu livro O que é religião)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A ação responsável / Responsible action

Um pensador que precisa ser lido e atualizado nesse tempo é Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão morto pelo nazismo. Principalmente porque sua teologia aponta para a ética. Ele considerava que somente pelo fato de saber que Deus se tornou humano é possível compreender e não desprezar o ser humano. Essa é a motivação para a formulação do conceito de ação responsável.
A ação responsável deve ser empreendida em nome destes seres humanos reais a quem Deus ama, e não para reivindicar sobre eles superioridade, retidão ou sabedoria própria. A ação responsável ganha agora alguma profundidade teológica. Não é simplesmente um gesto nobre de uma pessoa responsável, nem um serviço paternalista oferecido por alguém que faz o bem para aqueles que estão desprovidos de algo. A ação responsável é uma verdadeira imitação de Cristo, uma disposição de se tornar desprezado e de se colocar a serviço daqueles que por si mesmos se fizeram desprezíveis. A prontidão para a morte está presente em cada página do manuscrito, não como um ato da coragem pessoal, mas como uma afirmação teológica.
A ação responsável não é somente responsável perante Deus. É responsável naqueles lugares específicos onde a vida é moldada para uma sociedade inteira. Não se pode ser responsável por si mesmo, sem viver em solidariedade com pessoas que compartilham do mundo uns com os outros. Não se pode ser responsável somente por ser a igreja.
Bonhoeffer não estava preocupado em formular uma teologia a respeito da salvação. Os princípios protestantes de sola fide e sola gratia precisavam de uma realização concreta na vida cristã, uma vez que sua formulação ética consiste no fato de que vida cristã é vida para o outro. Para o pensamento de Lutero, a salvação do homem depende totalmente da atividade divina e não é condicionada, de modo algum por qualquer ação humana.
Nessa concepção, Deus tomou a iniciativa de restituir, por meio da obediência de Cristo, a humanidade a sua dignidade e imputou a justiça de Cristo aos que crêem. Ao contrário do pelagianismo, que defendia a necessidade de uma ação humana na justificação, a reforma protestante enfatiza que a salvação é um dom da graça de Deus que é comunicado ao homem. O perdão, a redenção, a salvação, a justificação, termos que caracterizam a experiência inicial cristã na teologia, são conferidos ao homem somente pela graça mediante a fé. Porém, a preocupação de Bonhoeffer não é desenvolver essa teologia, mas saber quais são as suas implicações para a vida cristã no mundo. Em sua Ética, ele vai indagar sobre o modo como Cristo toma forma no mundo através daqueles que passaram pela experiência da regeneração pela fé no próprio Cristo, conforme a concepção luterana. Essa preocupação começa com o Discipulado, quando aborda sobre o modo como se dá a conformidade de Cristo:
"Conseguir a conformidade da imagem de Jesus Cristo não é uma tarefa que consistisse na realização de uma imagem de Cristo que se nos exigisse. Não somos nós que nos transformamos em imagem de Cristo; é a própria imagem de Deus, a do próprio Cristo que quer se formar em nós (Gl 4.19). É a sua própria estatura que quer revelar-se através de nós. [...]
[...] Na encarnação de Cristo em forma humana, toda a humanidade reencontra a dignidade da semelhança de Deus. [...] Na comunhão com o encarnado é nos restituída a nossa verdadeira natureza humana. Somos arrancados do isolamento gerado pelo pecado, e devolvidos à humanidade toda" (BONHOEFFER, 1989, p. 191).
A prática da vida cristã pode ser aprendida somente sob os quatro mandatos divinos: família, trabalho, autoridade e igreja. Para Bonhoeffer, Deus colocou os seres humanos sob todos os quatro mandatos, não somente cada indivíduo sobre cada um ou outro, mas todas as pessoas sob todos os mandatos. Não pode haver um recuo, de um domínio “espiritual” para um domínio “mundano”. “Deixe a igreja ser a igreja”, então, como queria Karl Barth. Mas deixe também a família, o governo e as instituições econômicas e sociais que realizam a cultura serem eles mesmos.
A sociedade boa em termos teológicos não é, então, aquela que se conforma a este ou aquele padrão da legislação ou de organização econômica, mas a que se constitui em um lugar onde a pessoa possa ser responsável em todos os aspectos do mandato ao mesmo tempo. Um modo de reconhecer se um governo ou um sistema político está sendo conduzido de forma equivocada ou injusta é quando este tenta negar a autoridade dos outros mandatos, reivindicando toda a lealdade para si e redefinindo o critério de responsabilidade, de tal modo que a pessoa considerada responsável é aquela que serve ao estado ou ao partido político, traindo, assim, a família, a igreja ou a cultura.
(Extraído e adaptado de minha dissertação de Mestrado em Filosofia: Ética protestante e pós-modernidade)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Prêmios




A Alê e o Alberto presentearam o nosso blog com dois prêmios: "Escritores da Liberdade" e "Blog Cabeça". Fiquei muito feliz com a premiação e quero retribuir, enviando esses prêmios àqueles que leio de vez em quando:




- O blog dos adolescentes da IBON, http://alealb.blogspot.com/








Espero que visitem e gostem.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A hora de fazer ajustes / The time of change

Uma das grandes questões que afeta nossas escolhas diz respeito ao tempo. Em que momento a decisão de mudar é mais propícia? Em princípio, numa explicação bem simples, em todo o tempo você muda. A própria vida é um processo constante de mudanças. Essa é a noção do devir.
Hegel explica o devir como uma passagem entre o ser e o não-ser, uma vez que tudo o que existe é contraditório e está sujeito a desaparecer. E isso é uma constante. Ou, como disse Heráclito: só há uma certeza, que tudo muda. O que nos permite ultrapassar os limites da contradição é o pensamento dialético.
Se é assim, a pergunta é: pode haver mudança significativa em sua vida se você permanecer como está? Considerando o fato de que Deus tem o controle de nossa história e de nosso futuro, Ele pode realizar a Sua vontade do jeito que você está?
Jesus disse certa vez: "Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.33). Isso nos leva a três afirmações sobre a necessidade de experimentar mudanças: (1ª) você não pode permanecer como está e fazer a vontade de Deus ao mesmo tempo; (2ª) você precisa fazer ajustes para que a vontade de Deus se realize em sua vida; (3ª) você precisa fazer uma escolha de deixar Deus agir por seu intermédio.
Para que a vontade de Deus se realize em sua vida, você precisa fazer ajustes que resultem mudanças significativas. A experiência com Deus envolve duas crises essenciais para o homem. A primeira crise é a da fé. Para experimentar mudanças significativas, você precisa crer que Deus é quem Ele diz que é. A segunda crise é do ajuste. Para que as mudanças sejam realmente significativas, você precisa ajustar a sua vida a Deus.
Se você reconhece que chegou a hora de vivenciar mudanças significativas, pare para escutar o que a Bíblia diz sobre isso.
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nosso modo de pensar: "porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos" (Isaías 55.9).
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nossos relacionamentos: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" (Mateus 5.43-48).
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nossos compromissos: "Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e chamou-os. Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram" (Mateus 4.18-22).
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nossas convicções: "E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais" (Mateus 6.5-8).
A Bíblia diz também que precisamos fazer ajustes em nosso caráter: "Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mateus 20.26-28)

domingo, 2 de dezembro de 2007

Auditoria Moral / Moral Inventory

Você já parou para fazer uma auditoria moral de sua vida? De que maneira você pode fazer isso? Faça um levantamento das escolhas que você fez e que podem ser consideradas erradas. Dentre essas escolas, quais as que afetaram somente a você e quais as que afetaram a alguém?
Certamente você terá mais facilidade de identificar as coisas que prejudicaram a você, que levaram a perdas e fracassos. Isso acontece porque temos uma tendência muito grande de centrar o nosso foco no eu, de achar que o nosso problema é sempre maior do que o do outro.
Essa maneira de tratar as nossas escolhas, atitudes e decisões envolvem o nosso campo perceptivo da realidade. Isso pode nos levar a uma auto-ilusão, porque não somos dotados de sinalizadores que nos indicam o grau de risco e de perigo em cada situação. Isso pode levar também a uma racionalização, porque nós temos uma capacidade apurada para buscar explicações causais que justifiquem nossas circunstâncias.
Entretanto, é preciso apontar uma outra perspectiva para a avaliação de nossas escolhas, atitudes e decisões. Ela está relacionada ao imaginário, que é o conjunto das representações através das quais vemos a realidade. Imaginário é o ato de imaginar, de romper as barreiras do real, da temporalidade, do que é dado, para pensar aquilo que se tem apenas como desejo.
O imaginário, melhor dizendo, é uma capacidade de prever como nossas escolhas, atitudes e decisões afetam o outro. Uma capacidade de prever também como essas mesmas escolhas, atitudes e decisões afetam o nosso próprio processo de transformação pessoal.
Esse modo de ver a questão da moral é o que move o cinema, o teatro, a literatura, a arte. É uma visão criativa que pode ser aplicada ao trabalho, à fé, aos relacionamentos. Pascal já dizia que “nossa obrigação é pensar como deveríamos”. A base dessa reflexão é: como você gostaria de ser tratado se estivesse no lugar do outro?
Foi isso que Jesus ensinou: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mateus 7:12). Essa também é a regra de ouro de todo relacionamento.
Essa questão nos remete à definição de quem somos e para onde estamos caminhando. Uma sociedade que não vê a questão moral do ponto de vista do imaginário é uma sociedade sem rumo. É um sinal de que precisa corrigir a sua visão.

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