sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A arte de perguntar / The art of asking / El arte de preguntar

Interrogou-o com muitas perguntas, mas Jesus não lhe deu resposta” (Lucas 23.9).

Quantas vezes você já se perguntou sobre qual é o sentido da vida, como será o futuro, quem é você ou mesmo qual é o seu valor como pessoa? Fazer perguntas é uma habilidade humana diante daquilo que não conhecemos. Jesus ouviu muitas dessas perguntas e procurou conduzir as pessoas a uma busca pelas respostas mais adequadas.

Por que perguntamos? Perguntamos quando somos confrontados diante daquilo que desconhecemos. As perguntas funcionam como chaves que abrem portas para o nosso entendimento. Só é capaz de fazer perguntas quem admite sua própria ignorância.

As perguntas estimulam o conhecimento em todos os campos de saber. A ciência só consegue avançar quando o próprio cientista reconhece que não tem conhecimento sobre um assunto. Quando as perguntas são feitas de forma adequada, elas podem gerar diversas possibilidades de respostas, podem despertar novas investigações e podem promover mudanças de entendimento que parecem consolidados há muito tempo.

O ato de perguntar ou de ser perguntado dá origem a novas descobertas , nos mobiliza a construir novos conceitos e aponta novas formas de compreensão da realidade. As perguntas têm o poder de despertar novos sentidos. Se nós não formos capazes de indagar a respeito dos problemas que enfrentamos, podemos nos tornar pessoas que se queixam de tudo sem buscar soluções.

A arte de perguntar é milenar. Os primeiros filósofos procuravam compreender os fenômenos naturais a partir da indagação sobre a causa dos próprios fenômenos. Sócrates desenvolveu um método próprio de fazer perguntas, chamado de maiêutica. Seu objetivo com isso era descobrir o que seus interlocutores tinham certeza a respeito do que sabiam. Através de um jogo de perguntas com base na ironia, Sócrates levava seus alunos e seus oponentes a novas descobertas.

Os tempos mudaram, o volume de informações aumentou e nossas demandas por conhecimento se tornaram mais urgentes. O conhecimento não está mais na capacidade de obter respostas, mas em fazer novas perguntas. Qualquer um de nós é capaz de olhar em volta e se perguntar a respeito do significado ou utilidade das coisas. As crianças descobrem isso desde cedo e começam a perguntar sobre o que é e o por quê das coisas.

Em tempos de novas tecnologias de informação e de inteligência artificial, quando alguém quer saber sobre algo, a recomendação mais fácil é: “dá um Google”. Mas a realidade é que não há ninguém que tenha uma inteligência tão extraordinária que seja capaz de resolver todos os problemas. Sempre haverá a necessidade de se fazer novas perguntas diante de novas possibilidades.

Nos evangelhos, encontramos Jesus ouvindo muitas perguntas de diversas pessoas a respeito de vários assuntos relacionados à vida. Ricos e pobres, autoridades e pessoas comuns, religiosos ou não, todos procuravam Jesus para perguntar sobre aquilo que angustia a todos nós: o sentido da vida, quem somos, para onde vamos. Jesus, porém, aproveitou essas oportunidades para desenvolver um diálogo com essas pessoas a respeito daquilo que mais as interpelavam.

Isso faz lembrar a ideia filosófica de que por traz de uma pergunta há sempre outras que não são ditas, mas que estão ali implícitas. Houve questões, entretanto, que não foram respondidas, como no caso de Herodes antes da crucificação. Houve outras que Jesus devolveu com um chamado à autorreflexão, como no caso da mulher pega em adultério. Houve também perguntas a respeito da sua pessoa, como a que foi feita pelos discípulos de João Batista, que só a observação dos fatos poderia oferecer a melhor resposta. E ainda houve as que Jesus aproveitou a ocasião para passar grandes ensinamentos, como no caso da cura do cego de nascença.

Se a fé nasce da busca de entendimento, como afirmou Anselmo de Cantuária, ela se faz através de muitas perguntas. Para ele, a busca de Deus é permeada de indagações: onde podemos encontrá-lo? Por que não o vemos? De que forma podemos buscá-lo? São algumas das muitas perguntas que também podemos fazer hoje. A fé cristã não é passiva, mas uma inquietante atitude diante do imponderável.

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