O que Jesus diria para a igreja de hoje que vive no limiar
do fim dos tempos? A humanidade nunca viveu tão próxima de sua própria extinção.
Esse tema tem ocupado os meios de comunicação e acadêmicos há algum tempo, com
estudos, diagnósticos e até previsões de um fim catastrófico para a vida no
planeta.
Um desses recursos é o relógio do Apocalipse, um contador de
tempo simbólico que existe desde 1947 (criado pelo comitê que organiza o
Boletim dos Cientistas Atômicos da Universidade de Chicago), que aponta para o
fato de que vivemos a poucos minutos do fim catastrófico da vida no planeta
provocado por uma guerra nuclear. Esse relógio conta os minutos que falta para
o que chamam de “meia-noite”, o momento crucial para o qual convergem decisões
políticas, sociais, econômicas, diplomáticas e militares globais somados aos
acontecimentos ligados à mudança climática, pandemias, terrorismo e até o uso
de inteligência artificial.
No começo do ano de 2023, o relógio do Apocalipse, também
chamado de Relógio do Juízo Final ou Doonsday Clock, chegou a apontar que
faltavam apenas 90 segundos para a catástrofe final que exterminaria com a
civilização, sobretudo após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro
de 2022. Desde 1991, quando o relógio marcava 17 minutos, esse tempo vem sendo
reduzido, indicando que vivemos o risco iminente de um conflito de proporções
globais. Nunca estivemos tão próximos da meia-noite. Isso tem levado a um apelo
insistente para que governos, órgãos de defesa, instituições que visam promover
a paz e até grupos humanitários atuem para que a ameaça de uma catástrofe
nuclear seja afastada.
O que a igreja tem a ver com isso? Qual a mensagem que
cristãos e cristãs têm a dar para o mundo diante das crises globais? O que Jesus
diria para a sua igreja sobre como viver em comunhão, servir, testemunhar,
celebrar e até evangelizar em dias tão complexos? Essas questões nos remetem
para o final do século I da Era Comum, quando a fé cristã se deparou com situações
que lembravam os discursos escatológicos de Jesus nos evangelhos. Para aqueles
primeiros seguidores de Jesus, seria fácil presumir que viviam os tempos do
fim.
Eram tempos de perseguição, intolerância religiosa e até de
desigualdade social. A maioria dos frequentadores da igreja era de origem
escrava, despossuídos e excluídos da vida social. Mesmo assim, representavam
uma ameaça ao poder imperial romano, pois eram confundidos como subversivos em
relação às leis que obrigavam o culto ao imperador. Isso fez com que sofressem
a mais sangrenta perseguição da história do cristianismo.
Um importante documento dessa época encontra-se no livro do
Apocalipse de João. Em sua experiência com a revelação divina, o Apóstolo João
é orientado a escrever a sete igrejas de sua área de atuação a fim de que
cristãos e cristãs fossem consolados e encorajados a viverem a fé uma vez dada
aos santos sem desanimar. Trata-se de um trecho, abrangendo os capítulos 2 e 3,
que contém as sete cartas às igrejas do Apocalipse, ou sete cartas às igrejas da
Ásia Menor (atual Turquia), a região onde elas se encontravam.
São pequenos recados, que continham elogios e exortações,
repreensões e promessas. Cada igreja vivia aqueles momentos angustiantes a
partir do lugar onde foram construídas, em suas inter-relações com a sociedade
e em suas condições internas de vida em comunidade. Para cada uma dessas
igrejas, João ressalta aspectos sobre como podemos enfrentar tempos difíceis
sem perder a fé e a esperança, sem deixar de se colocar como agentes da graça
num mundo onde há tanta maldade e engano.
O que a comunidade da fé enfrentava não era o fim. Apesar da
dor, das perdas, do sofrimento, da perseguição, da insjustiça e da desigualdade
social, aquela situação não era final. A igreja precisava ser lembrada da
missão de Deus entregue a ela por Jesus, de ser testemunha da graça em qualquer
circunstância. Os problemas não tinham o poder de dar a palavra final sobre a
vida, sobre a prática do amor, sobre a disposição de seguir Jesus, sobre a vida
em comunhão, sobre a solidariedade, sobre a generosidade, sobre a vida cristã
autêntica e tantos outros temas tão caros à fé cristã, mais até do que
princípios doutrinários, tradições e dogmas.
Cristãos e cristãs precisam ser lembrados que quem tem a palavra
final sobre a vida é Deus, mesmo nos dias atuais. Embora vivamos o risco de um
fim iminente, a fé lembra que quem conduz o curso da história é Deus e a
esperança aponta para o fato de que no fim Ele já está lá. Como viver essa fé e
essa esperança como seguidores de Jesus hoje? As cartas do Apocalipse também
nos ensinam a conduzir a vida a partir dos ensinos de Jesus.
Parabéns, excelente texto.
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