Soren Kierkegaard afirmou que “o homem é uma síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade.” Se buscarmos compreender essa frase á luz da proposta de Juan M. Velasco, em El fenomeno místico, poderíamos afirmar que Kierkegaard se refere ao fenômeno que envolve a mística. Para Velasco, a mística é a “experiência no mais íntimo da pessoa de uma realidade sobre-humana”. Ou seja, vai além do que se percebe na vida comum e que se faz presente através de uma série de manifestações que a convertem em fato histórico e humano. Isso tem a ver com transcendência.
A frase de Kierkegaard aponta para o fato de que há uma angustia humana pela busca de algo que está para além de nós mesmos. É o que se chama de transcendência. Não importa, neste momento, se está busca tem a ver com o divino. O que é relevante pensar é que a transcendência é um fenômeno humano que engloba um campo de percepção. A ideia da transcendência começou com a teologia medieval que a utilizou em contraposição à ideia de imanência, referindo-se às categorias do conhecimento formuladas pelo aristotelismo. Tem a ver com outras categorias, mais abrangentes e mais gerais que as categorias aristotélicas, como a noção de existência, do verdadeiro, do bem e do belo. Posteriormente, com Kant, transcendental passou a designar o conhecimento que podemos ter das condições de possibilidade do próprio conhecimento, a faculdade que se tem de conhecer como os objetos são possíveis a priori. Envolve uma habilidade de estar autoconsciente e de experimentar o mundo das coisas. Mas foi a fenomenologia que melhor trabalhou essa noção na Filosofia ao afirmar que a transcendência é tudo aquilo que está para além de nossa consciência, além da possibilidade da experiência, que é exterior ao mundo da experiência.
Santo Agostinho apresenta uma fórmula: Deus é para mim o mais íntimo que o meu íntimo, para apontar que o caminho mais penoso que se tem a trilhar não é para um fora-de-si, que pode se tornar alienante e ilusório, mas um para-dentro-de-si, para o que é mais íntimo e profundo, que de tão íntimo parece tão distante. Isso lembra a proposta mística do mestre Eckhart, que denominou essa atitude de um “deixar ser”. Não uma mera renúncia de si, mas de um aceitar a transformação, “tendo de reformar-se sempre, o homem deve transformar-se para não se deformar”, como afirma Carneiro leão no livro organizado por Maria Clara L. Bingemer e Marcus Reis Pinheiro, Mística e filosofia.
Edward Schillebeeckx, no livro História humana revelação de Deus, define a mística como “uma forma intensiva da experiência de Deus na fé”. Mística é vida de fé. Ele não inclui nessa experiência os elementos não essenciais para uma vida de fé, tais como os fenômenos extraordinários ou mesmo as disposições psicossomáticas, vistos apenas como fenômenos colaterais. Embora a mística não se reduza à ética, ela se realiza sob o ethos. Sua natureza seja é metaética, dentro de uma dimensão teologal. Em outras palavras, a mística ultrapassa a ética por não se limitar a um comprometimento por um mundo melhor, por exemplo. “A vida de fé tem ao lado da dimensão ética, inter-humana, ecológica e sociopolítica, também uma dimensão mística, ou seja, um aspecto de união cognitiva com Deus.”
Leonardo Boff, no livro Mística e espiritualidade, consegue desenvolver uma compreensão que abrange o sentido sociopolítico da mística. Este sentido está ligado ao “conjunto de convicções profundas, as visões grandiosas e as paixões fortes que mobilizam pessoas e movimentos na vontade de mudanças, inspiram práticas capazes de afrontar quaisquer dificuldades ou sustentam a esperança face aos fracassos históricos”. Nesse aspecto da mística, o que determina a ação e a capacidade de projetar novos sonhos e modelos alternativos à realidade concreta vivenciada historicamente é a utopia. É o que mantém a sociedade em movimento, a partir da ação de visionários que se recusam a aceitar uma situação dada. Uma mística assim é geradora de energia, formadora de uma força que se opõe ao poder dominante. Diz ele: “A mística é, pois, o motor secreto de todo compromisso, aquele entusiasmo que anima permanentemente o militante, aquele fogo interior que alenta as pessoas na monotonia das tarefas cotidianas e, por fim, permite manter a soberania e a serenidade nos equívocos e nos fracassos.”
A frase de Kierkegaard aponta para o fato de que há uma angustia humana pela busca de algo que está para além de nós mesmos. É o que se chama de transcendência. Não importa, neste momento, se está busca tem a ver com o divino. O que é relevante pensar é que a transcendência é um fenômeno humano que engloba um campo de percepção. A ideia da transcendência começou com a teologia medieval que a utilizou em contraposição à ideia de imanência, referindo-se às categorias do conhecimento formuladas pelo aristotelismo. Tem a ver com outras categorias, mais abrangentes e mais gerais que as categorias aristotélicas, como a noção de existência, do verdadeiro, do bem e do belo. Posteriormente, com Kant, transcendental passou a designar o conhecimento que podemos ter das condições de possibilidade do próprio conhecimento, a faculdade que se tem de conhecer como os objetos são possíveis a priori. Envolve uma habilidade de estar autoconsciente e de experimentar o mundo das coisas. Mas foi a fenomenologia que melhor trabalhou essa noção na Filosofia ao afirmar que a transcendência é tudo aquilo que está para além de nossa consciência, além da possibilidade da experiência, que é exterior ao mundo da experiência.
Santo Agostinho apresenta uma fórmula: Deus é para mim o mais íntimo que o meu íntimo, para apontar que o caminho mais penoso que se tem a trilhar não é para um fora-de-si, que pode se tornar alienante e ilusório, mas um para-dentro-de-si, para o que é mais íntimo e profundo, que de tão íntimo parece tão distante. Isso lembra a proposta mística do mestre Eckhart, que denominou essa atitude de um “deixar ser”. Não uma mera renúncia de si, mas de um aceitar a transformação, “tendo de reformar-se sempre, o homem deve transformar-se para não se deformar”, como afirma Carneiro leão no livro organizado por Maria Clara L. Bingemer e Marcus Reis Pinheiro, Mística e filosofia.
Edward Schillebeeckx, no livro História humana revelação de Deus, define a mística como “uma forma intensiva da experiência de Deus na fé”. Mística é vida de fé. Ele não inclui nessa experiência os elementos não essenciais para uma vida de fé, tais como os fenômenos extraordinários ou mesmo as disposições psicossomáticas, vistos apenas como fenômenos colaterais. Embora a mística não se reduza à ética, ela se realiza sob o ethos. Sua natureza seja é metaética, dentro de uma dimensão teologal. Em outras palavras, a mística ultrapassa a ética por não se limitar a um comprometimento por um mundo melhor, por exemplo. “A vida de fé tem ao lado da dimensão ética, inter-humana, ecológica e sociopolítica, também uma dimensão mística, ou seja, um aspecto de união cognitiva com Deus.”
Leonardo Boff, no livro Mística e espiritualidade, consegue desenvolver uma compreensão que abrange o sentido sociopolítico da mística. Este sentido está ligado ao “conjunto de convicções profundas, as visões grandiosas e as paixões fortes que mobilizam pessoas e movimentos na vontade de mudanças, inspiram práticas capazes de afrontar quaisquer dificuldades ou sustentam a esperança face aos fracassos históricos”. Nesse aspecto da mística, o que determina a ação e a capacidade de projetar novos sonhos e modelos alternativos à realidade concreta vivenciada historicamente é a utopia. É o que mantém a sociedade em movimento, a partir da ação de visionários que se recusam a aceitar uma situação dada. Uma mística assim é geradora de energia, formadora de uma força que se opõe ao poder dominante. Diz ele: “A mística é, pois, o motor secreto de todo compromisso, aquele entusiasmo que anima permanentemente o militante, aquele fogo interior que alenta as pessoas na monotonia das tarefas cotidianas e, por fim, permite manter a soberania e a serenidade nos equívocos e nos fracassos.”
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