quinta-feira, 5 de maio de 2011

Teologia para um tempo de incerteza: leituras necessárias 2 / Theology for a time of uncertainty / Teología para un momento de incertidumbre

Se vivemos de fato um tempo de incertezas, isso não quer dizer necessariamente uma coisa ruim. O problema é que necessitamos de mudanças de paradigmas para entender e produzir um saber que atenda às demandas deste tempo. Entendemos como paradigma a noção desenvolvida por Thomas Kuhn no livro A estrutura das revoluções científicas: o conjunto das realizações científicas que acabam por estabelecer modelos que orientam as pesquisas científicas, por um período longo e de forma clara, tendo em vista a busca de solução para os problemas suscitados pela própria ciência, ou seja, “aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma.”
Não resta a menor dúvida de que a Teologia é uma ciência e, como tal, segue padrões epistemológicos próprios. Desde Karl Popper, de fato, é possível verificar que a ciência segue uma lógica que não dá conta do conhecimento da totalidade, o que demanda um processo que envolve falseamento e refutação constante. A Teologia tem também um paradigma segundo o qual o saber teológico se desenvolve. Visto de um modo geral, esse paradigma segue o mesmo princípio sobre o qual está construído todo o pensamento ocidental, baseado no dualismo psicofísico, primeiramente platônico – caracterizado pelo pensamento agostiniano – e posteriormente da Modernidade – envolvendo a crise que acompanhou o surgimento da teologia liberal.
Nesse sentido, á possível traçar um paralelo entre as mudanças de paradigma propostas por Thomas Kuhn e a Teologia. Em primeiro lugar porque há na Teologia uma fundamentação teórica subjacente, histórica e consolidada, com seus mestres clássicos e os manuais, que fornecem o arcabouço de conhecimento e apontam as questões ainda em aberto. Isso implica tanto a necessidade de ruptura com o já existente quanto uma resistência ao novo e à possibilidade de supressão desse modelo hermenêutico.
Tomando por base as considerações de Hans Küng, em Teologia a caminho, é possível traçar um paralelo entre mudança de paradigma na ciência e na Teologia. O que se vê, no entanto, é a tomada de consciência de que há uma crise e que isso se constitui o ponto de partida para a mudança. Afinal, é evidente que a Teologia tem encontrado dificuldades de responder aos questionamentos contemporâneos. Um novo modelo se faz necessário, uma nova forma de entender as relações humanas que envolvem a fé suas expressões num contexto totalmente novo e pós-moderno.
As mudanças que se fazem necessárias na Teologia não acontecerão sem resistência, haja vista, por exemplo, a reação à afirmação de uma neo-ortodoxia frente à teologia liberal (influenciada pela mentalidade iluminista), no começo do século XX, ou mesmo o surgimento da Teologia da Libertação na América Latina, quando da aproximação do final desse mesmo século. É, inclusive, difícil prever em que dimensões um novo paradigma poderá ser aceito. É certo, porém, que, uma vez aceito, um novo modelo hermenêutico servirá como base para a fundação de uma nova tradição.
A diferença essencial entre ciência e Teologia é que esta tem na mensagem cristã seu objeto fundamental, cujo testemunho são as Escrituras Sagradas e sua transmissão pela igreja ao longo dos séculos. Esse testemunho é também a base para a fé cristã que é firmada na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, apresentado no Novo Testamento como princípio de fé para todo o tempo. Isso significa que o grande desafio para a Teologia é realizar uma mudança de paradigma que não seja contra o Evangelho, de encontrar o caminho para uma mudança que não seja só ruptura, mas também continuidade e permanência da mensagem cristã. As afirmações teológicas que foram verificadas na história não aconteceram sem o risco de rejeições e condenações, de heresia e de oposição. Essa possibilidade precisa ser sempre levada em consideração. Contudo, o caminho há que ser perseguido.

2 comentários:

  1. Gostei irenio!
    Reflexões patrocinadas pelo mestre Garcia... rs
    Abraço!
    Rodrigo

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  2. "A diferença essencial entre ciência e Teologia é que esta tem na mensagem cristã seu objeto fundamental, cujo testemunho são as Escrituras Sagradas e sua transmissão pela igreja ao longo dos séculos"

    Boa noite!

    Realmente o que deve diferenciar a Teologia das demais ciências é o seu objeto de estudo. E, neste sentido, não pode a Teologia deixar de usar as ferramentas das demais ciências.

    No entanto, será mesmo no campo do exercício da fpe que a Teologia e qualquer outra ciência vai se frustrar. Por exemplo, jamais a Teologia vai poder provar a existência do Deus Eterno, o qual é crido sem razões lógicas, mas sim por razões íntimas de cada crente.

    Abraços.

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