A necessidade de se ter sucesso a qualquer preço despertou a
descoberta de que ele não é determinante para que alguém seja feliz, mas que a
felicidade é imprescindível para se chegar ao sucesso. Isso quer dizer que o
maior esforço que precisamos fazer não é ter o emprego dos sonhos, perder uns
três quilos, ser promovido ou mesmo morar em um lugar paradisíaco. É preciso estar bem consigo mesmo. As pesquisas
recentes no campo da psicologia têm demonstrado um novo paradigma, que é
exatamente o oposto dessa mentalidade: a felicidade é que promove o sucesso, e
não o contrário.
O campo de estudo que tem se dedicado à felicidade é o da
Psicologia Positiva, que aponta formas objetivas para identificar os fatores
que contribuem para o desenvolvimento pessoal e o bem-estar. Por essa razão,
grandes universidades como Harvard e Unicamp têm promovido cursos com o tema da
Felicidade com grande procura de alunos interessados em todos as áreas de
conhecimento há mais de 10 anos.
Martin E. Seligman, no livro Felicidade autêntica, apresenta uma proposta de construção da
felicidade a partir da conjugação de virtudes e forças de caráter. O trabalho foi
resultado de uma ampla investigação em várias culturas, concepções filosóficas
e expressões religiosas a respeito do que as pessoas fazem em busca do
bem-estar, da felicidade e do desenvolvimento pessoal.
Foram identificadas 6 virtudes essenciais, que podem
ser identificadas através de 24 forças de nossa personalidade que nos auxiliam
em nossos modos de pensar, de sentir e de se comportar.
Veja a relação das virtudes humanas mais comuns e suas
respectivas forças de caráter:
a) Sabedoria – Criatividade, curiosidade, critério ou pensamento
crítico, gosto pelo aprendizado e perspectiva.
b) Coragem – Bravura, perseverança, integridade e vitalidade.
c) Humanidade – Amor, generosidade e inteligência social.
d) Justiça – Justiça, liderança e trabalho em equipe.
e) Temperança – Perdão, humildade, prudência e autocontrole.
f) Transcendência – Apreciação da beleza e da excelência, gratidão,
esperança, bom humor e espiritualidade.
Para se alcançar a felicidade autêntica, é preciso dar atenção à maneira como desenvolvemos as virtudes e as forças de caráter, e qual o impacto disso em nossa saúde física, mental e coletiva. Por essa razão, a busca da felicidade se torna apenas um ingrediente na busca de amadurecimento. Muitas vezes, precisamos tomar decisões que podem trazer novos sentidos para a vida, mas que não são muito confortáveis. Também precisamos manter muitos relacionamentos que não nos fazem felizes.
As forças de caráter nos auxiliam na busca pelo florescimento, construindo em nós virtudes essenciais para viver no mundo e interagir com as pessoas.
Seligman propôs, então, uma nova abordagem sobre a busca da
felicidade no livro Florescer: uma
nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar. Para ele, era
preciso enfatizar o florescimento através do fortalecimento das emoções
positivas, do engajamento, dos relacionamentos positivos, do propósito e da
realização. Esses cinco elementos foram inseridos para que pudessem fortalecer nossa trajetória de vida. Ele compreende que as virtudes e as forças de caráter sustentam
esses elementos. A maneira como nos empenhamos em buscar o bem-estar é que produz
mais sentido de realização pessoal.
Florescer é despertar o humano que há em nós. A felicidade
está mais relacionada com o se sentir bem mesmo em situações adversas. Para tanto, o modo
como construímos nossa trajetória de vida é fundamental para que possamos
experimentar o florescimento. Porém, uma vida feliz e satisfeita envolve
critérios tanto subjetivos quanto sociais. Como diz Seligman, “o bem-estar não
pode existir somente na nossa cabeça”.
A felicidade, portanto, é uma conquista que precisa ser
feita continuamente. A mensagem e o ensino de Jesus visavam a formação de um novo
sentido de humanidade. É possível fazer uma análise dos mesmos e identificar
como ele desenvolveu as virtudes essenciais e as forças de caráter como fatores
importantes para que possamos alcançar a vida feliz.
As seis virtudes (sabedoria, coragem, humanidade, justiça,
temperança e transcendência) estão presentes nos ensinos de Jesus. Entretanto,
Jesus se ocupou com a felicidade e com o bem-estar na perspectiva da salvação, como
uma experiência de sentido para a vida toda. Para quem perdeu o sentido da vida,
Jesus convida a aprender com ele o que significa viver plenamente.
Isso lembra o refrão de Tom Jobim e Luiz Bonfá: “Tristeza
não tem fim / Felicidade sim”. É um engano pensar que conseguiremos a
felicidade apenas pelas nossas forças. Ela não é uma conquista individual com
também não conseguiremos ser felizes sozinhos enquanto muitos à nossa volta
sofrem. Todos nós enfrentamos tanto circunstâncias que nos trazem felicidade quanto as que nos fazem sofrer. A vida não é um monótono programa de realizações
pessoais. Ela é formada de uma sucessão de sucessos e fracassos, de conquistas
e perdas, de realizações e frustrações. Jesus nos deixou claro que podemos ser felizes encontrando razões de
viver tão significativas que façam com que até mesmo nas situações difíceis encontremos forças para seguir em frente.
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