John Stott, em seu
último sermão, disse que o propósito de Deus é que nos tornemos semelhantes a
Cristo. Isso tem a ver com o que o apóstolo Paulo escreveu no passado: “Meus filhos, novamente estou sofrendo dores
de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês.” Gálatas 4.19.
Ser semelhante a Cristo é um projeto de vida.
O centro da mensagem
cristã é que Deus se fez humano por amor ao humano. Jesus Cristo não pode ser
visto como simplesmente um humano, mas o ser humano. A encarnação, a maneira
como viveu e a crucificação de Jesus estabeleceram um novo paradigma para a
noção de realização humana. Quando a gente fala do humano, sempre é a partir de
um campo limitado. O único que pode elaborar um conhecimento do humano em sua
condição real é Deus, não só como criador, mas também por ter assumido a
própria condição humana.
Até mesmo quando se
pensa no sucesso como uma forma de realização humana, sempre será pelo viés da
incompletude, dentro dos limites de nossa razão. Ser bem-sucedido levando-se em
consideração os modelos fornecidos pela sociedade de consumo ou pela lógica da
competitividade é uma forma de rejeição de nossa humanização. O novo paradigma
proposto pela fé é ser semelhante a Cristo. Sem dúvida, é muito mais
confortável ajustar-se ao modo de vida aceito pela sociedade do que aceitar o
desafio de viver como Cristo.
Somente pela fé em
Jesus Cristo é possível ter esperança de humanização, pois nele a humanidade se
fez nova, ganhou novo significado. O milagre da encarnação, o fenômeno da
crucificação, a ressurreição de Jesus deu à luz a um novo modo de ser, uma nova
vida, uma nova criatura: o novo homem reconciliado com Deus. Isso significa que
Deus toma forma no humano para que possamos viver a nossa humanidade perante
Deus. Significa que Cristo toma forma no humano a partir de circunstâncias
concretas vividas. Significa dizer que desperta o chamado para viver em
novidade de vida na medida em que somos interpelados pelo tempo e pelo espaço,
marcados pela cultura, pelos processos históricos e pela abertura na relação
com o outro.
Bonhoeffer afirmou
que “o ser humano real, julgado e renovado não existe senão na forma de Jesus
Cristo e, consequentemente, na conformação com ele”. O evangelho nos convida a
adotar um modo de vida em que Cristo tome forma nele. Entretanto, ninguém
consegue fazer isso sozinho. Isso é uma experiência trinitária e comunitária:
trinitária porque o Espírito Santo nos encoraja a assumir o caráter em Cristo e
comunitária porque a igreja se constitui o espaço onde se pratica a
conformidade com Cristo. A Trindade está envolvida nisso e a comunidade dos que
aceitam esse desafio está implicada nisso também.
Em função disso, Paulo
também dizia: “Trazemos sempre em nosso
corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso
corpo.” 2 Coríntios 4.10. Muitos hoje têm muita informação sobre a figura
histórica de Jesus, mas a grande maioria não faz ideia do que significa fazer
disso um projeto de vida. Esse conhecimento só será possível a partir do momento
em que eu mesmo fizer disso o meu projeto de vida.
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