O 17 de junho entra para a história como o dia em que o Brasil saiu às ruas. Ele já é identificado pela marca 17J, dada a relevância do fato de que jovens saíram às ruas para protestar em várias capitais e grandes cidades contra o quadro a que chegou a vida pública no país, abrangendo todas as esferas do poder. Engana-se quem ainda acha que é por causa do aumento de 20 centavos na passagem. Isso foi só o estopim para se dar o grito de basta.
O quadro emblemático desse movimento foi marcado
pela ocupação da rampa do Congresso Nacional e pela multidão de mais de 100 mil
pessoas no centro do Rio de Janeiro. O movimento começou a tomar forma em São
Paulo e se inflamou com as cenas de violência da polícia contra os manifestantes,
usando de um forte aparelhamento repressor que relembrava os anos de chumbo da
ditadura militar. Essa insatisfação já vinha sendo expressa nas redes sociais.
Agora, ganhou as ruas, com repercussões em todo o mundo.
O ambiente é propício. Cansou-se de se gritar “fora
Renan” e vê-lo eleito presidente do Senado. A demora de um desfecho do julgamento
do “mensalão” soa como impunidade. As negociatas no Congresso Nacional para
elaborar leis chegam a ser escandalosas. O risco da volta da inflação como
resultado da especulação do mercado é uma ameaça aos salários. E, como se já
não bastassem os problemas internos, os preparativos para a Copa 2014
proporcionaram a construção de estádios com custos elevados, surgindo verbas de
onde se dizia que não havia e que poderiam ser destinadas para sanar
deficiências nas áreas de educação, saúde e infraestrutura.
Histórico, sem dúvida. Mas não inédito na história.
Foi assim em 1968, contra a ditadura. Foi assim entre 1983 e 1984 com a
campanha das Diretas Já. Foi assim com o movimento dos caras pintadas pelo impeachment do então presidente Collor.
A diferença de hoje é que não há uma coordenação do movimento, sem uma entidade
com credibilidade para dar forma a uma ação de mudança concreta. É um movimento
de indignação, de gente que vai para a rua dizer que não aguenta mais o quadro
de corrupção, impunidade e desmando político que grassam em todos os níveis de
poder.
Ideológico, sem dúvida. O movimento nasce de uma
mentalidade engendrada no contexto de uma sociedade marcada pelo consumo e pelo
espetáculo. O importante é ganhar visibilidade e usar as redes sociais para
expandir as manifestações com efeito viral. Além disso, a cultura pós-moderna
aprendeu a questionar as instituições da sociedade e a colocar em xeque as
estruturas de poder vigentes, sejam religiosas, governamentais e até
político-partidárias. E isso é tremendamente caracterizado por uma ideologia
neoliberal, influenciada pelo comportamento da classe média, apesar de ser
apartidária, a favor da não violência e não direcionada a uma pessoa específica.
O dado positivo desse movimento é o grau de amadurecimento
político a que chegou a juventude, ao afirmar que não aceita mais conviver com
esse estado de coisas. De uma forma ingênua, talvez, mas que tem a coragem de
dizer que do jeito que está não dá para continuar. Não dá para se ter mais uma
mídia vendida a interesses políticos, confundindo a informação. Não dá para continuar
aumentando impostos e tarifas sem a melhoria dos serviços. Não dá para gastar
mal o dinheiro público, sem priorizar a educação, a saúde e a infraestrutura.
Não dá mais para usar a força policial contra o povo, quando não a usa na mesma
intensidade contra a criminalidade.
É isso. Escrever aqui é uma forma de protesto.
Estou junto dessa juventude que conscientemente diz “basta”. Depois de ter
assistido a tantos movimentos que foram explorados por forças de esquerda e de
direita, torço daqui para que não descambe para atender a interesses de grupos hegemônicos.
E oro para que uma voz profética se levante, como foram Dietrich Bonhoeffer e Martin
Luther King Jr., para dizer que essa luta só terá sentido se for materializada
na esperança de uma sociedade mais justa, com pessoas com direitos iguais,
melhor distribuição de renda e tratamento digno como cidadãos.
Reflexão salutar. Apenas temo q seja algo pontual, engenheirado para apenas confundir em época de visibilidade mundial - copa das confederações - mas q não produza mudança no nosso agir como cidadão do dia a dia. Quem saberá? Vamos em frente porque a propaganda da Fiat chamou: Vem pra rua! Vem pra rua!
ResponderExcluirEu creio que em meio a crise mundial, conflitos sociais, desigualdades e pior de tudo o nosso comportamento a isso tudo. Sim, estourou no tempo certo, seja inflamar esse povo para ir as ruas e deixar ali o seu protesto ou simplesmente manifestar em suas casas colocando os seus cartazes dizendo "não aguentamos mais". O gigante está se levantando e espero que possa pisar firme com passos bem largos em direção há um real mudança. Vamos lá Brasil, mostra a tua cara!!!!
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