“[…] porque você é pó e
ao pó voltará.” Gênesis
3.19
A Quaresma é um período do calendário cristão
quando os fiéis são chamados a um exercício de conversão, em que a inclinação para atitudes
pecaminosas se transforma em vida sacrifical. Começa com a Quarta-feira de
Cinzas, logo após o Carnaval, e termina com o Domingo de Ramos, na semana da
Páscoa, num total de quarenta dias de jejuns, orações e penitências visando à
preparação para a Páscoa. O primeiro dia da Quaresma é chamado “de cinzas” porque, nesse dia, os devotos
recebem um sinal da cruz, feito com as cinzas dos ramos do ano anterior, para
lembrar a necessidade de mudança de vida.
Quaresma vem do latim e quer dizer “quadragésimo
dia”, uma referência aos períodos de preparação mencionados na Bíblia para
momentos importantes na história da revelação: o dilúvio durou 40 dias, Moisés
passou 40 dias no Monte Sinai, o povo hebreu vagou 40 anos no deserto, Elias caminhou
40 dias pelo deserto até Horebe, Jesus jejuou por 40 dias no deserto antes de
começar sua atividade pública. Por essa razão, o número quarenta tem um
simbolismo que corresponde a um período de provas.
Católicos romanos, ortodoxos, anglicanos,
luteranos, calvinistas e metodistas do mundo inteiro observam esse calendário
litúrgico. Desde o século II já se tem referência à observação de períodos
prolongados de jejuns antes de Páscoa. A fixação dos quarenta dias ocorreu no
século IV, mas foi só no século XI que passou a fazer parte do calendário
litúrgico da tradição Ocidental. No Brasil, a Conferência Nacional de Bispos do
Brasil promove durante a Quaresma uma Campanha da Fraternidade com temas de relevância social, que
envolvem católicos e algumas denominações protestantes.
Nesse período, os cristãos são chamados a um
exercício de espiritualidade, um convite a uma caminhada para que as pessoas se
voltem para aquilo que realmente é importante. Todos somos lembrados de nossa
finitude, da transitoriedade da vida, de que somos marcados pela fragilidade e
de o quanto a vida é efêmera. Isso remete a uma atitude de humildade e
obediência aos ensinos de Jesus, com a observação de um estilo de vida voltado
para os valores evangélicos.
Depois de constatar que tristeza não tem fim –
felicidade, sim –, o poeta diz que tudo se acaba na quarta-feira de cinzas. Porém
aquele que se volta para sua própria condição humana encontra uma oportunidade
de recomeçar um novo jeito de viver, que é proposto por Jesus. É um tempo para
renunciar à maldade que nos desumaniza, para praticar ações que dignificam a
vida humana, para descartar toda forma de ostentação e orgulho e para se
praticar o perdão e acolhida do outro.
As marcas da Quaresma são, portanto, a
compaixão, a generosidade, a simplicidade, o desapego e o altruísmo. Falar de
tais atitudes hoje faz mais sentido do que promover práticas meramente
religiosas de confissão, de dar esmolas, de fazer votos, de observar jejuns e
penitências. Para tanto, um calendário litúrgico é o que menos importa. Independente
da duração e da ocasião em que esteja relacionada, a observação de um período
de reflexão e de preparação para uma vida mais profunda com Deus é uma
necessidade para todos nós. Nesse aspecto, vale a pena dar ouvido ao que Jesus
disse no começo do seu ministério: “[...]
Arrependei-vos, e crede no evangelho.” Marcos 1.15
Muito boa reflexão! Em tempos de opiniões conflitantes e ânimos acirrados, está palavra é bem acolhida pelo meu coração!
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