Ressignificar
é alterar o modo como você vê a realidade. É como olhar no espelho, Você vê sua
aparência e tenta dar a ela um novo sentido. Você pode fazer o mesmo com seus
valores, com suas crenças, com a maneira como você conduz sua vida, com sua
carreira, com seus relacionamentos.
Ressignificação
é um processo que envolve mudança. Acontece sempre que você se dá conta de que nada
de novo vai acontecer se continuar fazendo as mesmas coisas, pensando do mesmo
modo. É quando você tenta de outro modo, segue outro caminho, vê por ouro
ângulo. É uma ilusão acreditar que tudo vai mudar quando nada muda.
A
ressignificação é sempre intencional. Depende tanto da coragem de experimentar
o novo, mas também da confiança de que nenhuma luta é em vão e da esperança de
que uma vida melhor é possível. É vencer o medo de arriscar, de tentar de novo,
de ir até o inexplorado. Muitas vezes, isso demanda romper paradigmas, quebrar
tabus, soltar amarras, vencer amarguras.
Para ressignificar,
é preciso alterar o filtro com o qual vemos a realidade. Nós só conseguimos ver
o mundo através de uma lente, que pode ser também chamada de janela ou de
filtro. Quando mudamos essa lente, janela ou filtro, novas possibilidades de
interpretação surgem, nova forma de conhecer acontece, o significado muda. E, quando
os significados mudam, as atitudes também mudam.
Ressignificar
faz parte da força criativa humana, da abertura que toda pessoa tem para o que
está além de si, da capacidade de transcender. Quando um fato acontece em nossa
vida, seja ele bom ou ruim, temos que fazer uma escolha a respeito de como
vamos lidar com ele. A forma como reagimos aos fenômenos da vida é pessoal e
influenciam a maneira como vamos viver dali para frente.
Diante de um
fato ruim, você pode ficar triste ou lutar contra a tristeza. Diante de uma
perda, você pode pensar em desistir ou seguir adiante de forma perseverante.
Diante de uma conquista, você pode extravasar sua alegria num instante ou
compartilhar essa alegria com outros. Diante de uma gafe, você pode se fechar
em si com vergonha ou pode aprender a rir de si mesmo. Diante de problemas,
você pode viver resmungando ou aproveitar a oportunidade para crescer com eles.
Ou seja, você sempre terá a chance de transformar algo ruim em algo produtivo.
Para entender
o que é ressignificar, é preciso recorrer a alguns saberes. O primeiro é o da
linguística. A palavra deriva de “signo” que, conforme ensinou Ferdinand de
Saussure, é a união do conceito, que é o significado, com uma imagem acústica,
que é o significante. Dito de outro modo, não é uma relação entre palavras e
coisas, mas entre conceitos e suas representações. Essa relação presente no signo
é, no entanto, arbitrária. Não existe uma razão para que um significado esteja
ligado a um significante, a não ser as relações sociais de produção de sentido.
Já para a
semiótica, signo é a representação que transmite a ideia de um objeto, que
orienta a percepção. É, portanto, a representação de algo a que atribuímos
sentido. Todo signo envolve uma relação entre em aspecto sensorial, o
significante, e a compreensão do mesmo, que é o significado. Isso envolve uma
aproximação entre a percepção e o entendimento, que é o que podemos chamar de
significação. É o que acontece com os ícones, com os sinais e com os
indicadores.
Para a
psicanálise, sobretudo a lacaniana, o signo não possui uma relação equilibrada
entre significante e significado, mas o significante se sobrepõe ao significado
na medida em que, no ato de fala, o sujeito sempre diz mais do que pronuncia. A
fala em si não serve apenas para comunicar algo para alguém, mas para a busca
de reconhecimento, como um desejo de se obter resposta, de ser percebido. Para
Lacan, o sujeito é sempre o que um significante representa para outro significante.
Toda pessoa está sempre em busca de ser percebida e valorizada pelo outro.
Nossos desejos, nossas concepções de vida, nossas paixões, nossos temores
dependem da relação com o outro.
Outro
psicanalista importante que procurou entender a busca de sentido foi Victor
Frankl, que afirma que o desejo de sentido funciona como um “valor de
sobrevivência”, relembrando os tempos de aflição nos campos de concentração
durante a Segunda Guerra Mundial. Para ele, a vida tem um sentido a ser
realizado, ainda que no futuro. O ser humano sempre está voltado para algo
diferente dele próprio, para outro ser humano, para alguma causa à qual se
entrega, para alguém que precisa ser amado, para um sentido que precisa ser
realizado.
A grande
questão humana é a que levanta o problema do sentido naquelas situações-limite
da vida, diante do sofrimento. Para Victor Frankl, o sofrimento não é bom para
ninguém, ele não ajuda em nada a encontrar o sentido da vida. Mas, por isso mesmo,
é preciso buscar um explicação para ele quando nos atinge. Não é fácil
encontrar sentido quando tudo não faz sentido algum. Exatamente porque o sentido
não é algo que encontramos racionalmente, mas a partir de nossas vivências.
Estamos tão
acostumados com o que nos é dado pronto no mundo que temos muita dificuldade
de desenvolver a busca pelo sentido, de ressignificar a vida quando valores e
até a alegria de viver se perderam. Mas é essa busca contínua e perseverante
que faz a vida ter ritmo, é o que nos torna resilientes. Isso depende de nossa
capacidade criativa e inovadora. Quando não desenvolvemos essa busca, a vida
fica vazia e se torna espaço para muitas patologias.
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