quinta-feira, 6 de junho de 2019

Ressignificar / Resignification / Resignificación


Ressignificar é alterar o modo como você vê a realidade. É como olhar no espelho, Você vê sua aparência e tenta dar a ela um novo sentido. Você pode fazer o mesmo com seus valores, com suas crenças, com a maneira como você conduz sua vida, com sua carreira, com seus relacionamentos.
Ressignificação é um processo que envolve mudança. Acontece sempre que você se dá conta de que nada de novo vai acontecer se continuar fazendo as mesmas coisas, pensando do mesmo modo. É quando você tenta de outro modo, segue outro caminho, vê por ouro ângulo. É uma ilusão acreditar que tudo vai mudar quando nada muda.
A ressignificação é sempre intencional. Depende tanto da coragem de experimentar o novo, mas também da confiança de que nenhuma luta é em vão e da esperança de que uma vida melhor é possível. É vencer o medo de arriscar, de tentar de novo, de ir até o inexplorado. Muitas vezes, isso demanda romper paradigmas, quebrar tabus, soltar amarras, vencer amarguras.
Para ressignificar, é preciso alterar o filtro com o qual vemos a realidade. Nós só conseguimos ver o mundo através de uma lente, que pode ser também chamada de janela ou de filtro. Quando mudamos essa lente, janela ou filtro, novas possibilidades de interpretação surgem, nova forma de conhecer acontece, o significado muda. E, quando os significados mudam, as atitudes também mudam.
Ressignificar faz parte da força criativa humana, da abertura que toda pessoa tem para o que está além de si, da capacidade de transcender. Quando um fato acontece em nossa vida, seja ele bom ou ruim, temos que fazer uma escolha a respeito de como vamos lidar com ele. A forma como reagimos aos fenômenos da vida é pessoal e influenciam a maneira como vamos viver dali para frente.
Diante de um fato ruim, você pode ficar triste ou lutar contra a tristeza. Diante de uma perda, você pode pensar em desistir ou seguir adiante de forma perseverante. Diante de uma conquista, você pode extravasar sua alegria num instante ou compartilhar essa alegria com outros. Diante de uma gafe, você pode se fechar em si com vergonha ou pode aprender a rir de si mesmo. Diante de problemas, você pode viver resmungando ou aproveitar a oportunidade para crescer com eles. Ou seja, você sempre terá a chance de transformar algo ruim em algo produtivo.
Para entender o que é ressignificar, é preciso recorrer a alguns saberes. O primeiro é o da linguística. A palavra deriva de “signo” que, conforme ensinou Ferdinand de Saussure, é a união do conceito, que é o significado, com uma imagem acústica, que é o significante. Dito de outro modo, não é uma relação entre palavras e coisas, mas entre conceitos e suas representações. Essa relação presente no signo é, no entanto, arbitrária. Não existe uma razão para que um significado esteja ligado a um significante, a não ser as relações sociais de produção de sentido.
Já para a semiótica, signo é a representação que transmite a ideia de um objeto, que orienta a percepção. É, portanto, a representação de algo a que atribuímos sentido. Todo signo envolve uma relação entre em aspecto sensorial, o significante, e a compreensão do mesmo, que é o significado. Isso envolve uma aproximação entre a percepção e o entendimento, que é o que podemos chamar de significação. É o que acontece com os ícones, com os sinais e com os indicadores.
Para a psicanálise, sobretudo a lacaniana, o signo não possui uma relação equilibrada entre significante e significado, mas o significante se sobrepõe ao significado na medida em que, no ato de fala, o sujeito sempre diz mais do que pronuncia. A fala em si não serve apenas para comunicar algo para alguém, mas para a busca de reconhecimento, como um desejo de se obter resposta, de ser percebido. Para Lacan, o sujeito é sempre o que um significante representa para outro significante. Toda pessoa está sempre em busca de ser percebida e valorizada pelo outro. Nossos desejos, nossas concepções de vida, nossas paixões, nossos temores dependem da relação com o outro.
Outro psicanalista importante que procurou entender a busca de sentido foi Victor Frankl, que afirma que o desejo de sentido funciona como um “valor de sobrevivência”, relembrando os tempos de aflição nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Para ele, a vida tem um sentido a ser realizado, ainda que no futuro. O ser humano sempre está voltado para algo diferente dele próprio, para outro ser humano, para alguma causa à qual se entrega, para alguém que precisa ser amado, para um sentido que precisa ser realizado.
A grande questão humana é a que levanta o problema do sentido naquelas situações-limite da vida, diante do sofrimento. Para Victor Frankl, o sofrimento não é bom para ninguém, ele não ajuda em nada a encontrar o sentido da vida. Mas, por isso mesmo, é preciso buscar um explicação para ele quando nos atinge. Não é fácil encontrar sentido quando tudo não faz sentido algum. Exatamente porque o sentido não é algo que encontramos racionalmente, mas a partir de nossas vivências.
Estamos tão acostumados com o que nos é dado pronto no mundo que temos muita dificuldade de desenvolver a busca pelo sentido, de ressignificar a vida quando valores e até a alegria de viver se perderam. Mas é essa busca contínua e perseverante que faz a vida ter ritmo, é o que nos torna resilientes. Isso depende de nossa capacidade criativa e inovadora. Quando não desenvolvemos essa busca, a vida fica vazia e se torna espaço para muitas patologias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails