sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Igreja humana, demasiadamente humana / Human church, all too human / Iglesia humana, demasiado humana

“[...] mas Cristo é tudo e está em todos” (Colossenses 3.11).

A igreja é uma comunidade de seres humanos que têm em comum a disposição de serem seguidores dos ensinos de Jesus de Nazaré, que se congregam em torno do seu nome e assumem o compromisso de levarem adiante a causa do Reino de Deus no poder do Espírito Santo.

É imprescindível que a Igreja que se afirma como uma comunidade de seguidores de Jesus se pareça mais com ele do que com a mentalidade que rege a contemporaneidade, que é individualista, gananciosa e competidora.

Há três fatos que estão relacionados à igreja. Primeiro, ela é uma comunhão de pessoas que atenderam ao convite amoroso de Deus. Segundo, os participantes da igreja têm a tarefa de encarnar a mensagem de Jesus na vida. E terceiro, a vida de comunhão da Igreja é uma tarefa inacabada, que precisa sempre ser renovada, revitalizada e atualizada. Dito de outro modo, a igreja deve assumir a sua própriaco0ndição humana. Quando assume a sua humanidade, ela também se compromete com aquilo que promove a dignidade da pessoa humana.

Jesus declarou que tinha muitas pessoas que precisam ser alcançadas, mas que ainda não tinham sido alcançadas. “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (João 10.16). Em uma igreja mais humana, todos são tratados como filhos de Deus iguais.

A igreja se torna mais humana a medida em que se assemelha mais ao caráter de Cristo. O cerne da mensagem do evangelho é que Jesus é o enviado de Deus para assumir toda a nossa humanidade em sua encarnação, vida e morte. Ele se fez o humano demasiadamente humano.

Como afirmou Irineu de Lyon, no século II, Jesus assumiu toda a condição humana a fim de restaurar em sua vida toda a nossa humanidade. “O que não foi assumido pelo Verbo não foi redimido”, disse Irineu. Ele se fez como um de nós para que sejamos como ele é.

Paulo, em sua Carta aos Colossenses, relembra que a humanidade de Jesus foi o gesto divino para nos redimir de tudo aquilo que nos desumaniza. “Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação (Colossenses 1.22). A obra da redenção implica a restauração do que há de mais humano em nós.

Paulo tinha todos os motivos para compreender de forma prática a humanidade de Jesus. Ele estava preso em Roma por causa de sua fé e serviço a Cristo. Ele conheceu de perto as formas da maldade humana durante sua última viagem de Jerusalém a Roma como um prisioneiro.

Agora ele podia testificar com sua própria vida que não há nada mais importante para a fé do que trabalhar em favor da dignidade da vida em todas as suas formas.

A igreja de Colossos não era fruto direto do trabalho missionário de Paulo e provavelmente não fazia parte do seu círculo direto de cuidado e de relacionamento. No entanto, ele escreve uma carta por causa de Epafras, provavelmente um dos fundadores daquela comunidade de fé (Colossenses 1.7). Ele também havia se tornado um cooperador no cuidado com a igreja e um companheiro de Paulo em sua prisão (Filemom 1.23).

A atuação de Paulo em favor dos colossenses incluía outras igrejas da região como a de Laodiceia (Colossenses 2.1) e Hierápolis (Colossenses 4.13). Por essa razão, a carta servia para ambas as igrejas. Paulo fala ainda de uma carta aos laodicenses, que se perdeu.

Através da Carta aos Colossenses podemos fazer uma leitura de nossas próprias ações como seguidores de Jesus que vivem num mundo marcado por tantas formas que nos desumanizam. O objetivo é fazer com que nos tornemos participantes ativos de uma comunidade de pessoas que assumem o compromisso de se tornaram mais humanos, demasiadamente humanos.

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