terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Natal, o amor encarnado / Christmas, love incarnate / Navidad, el amor encarnado

O Natal é a mais sublime história de amor já contada e vivida pela humanidade. O nascimento de Jesus traz consigo a mensagem de que o amor de Deus se tornou visível e real entre nós. Esse amor que moveu o coração de Maria e seus parentes, que levou José a acolher a sua prometida esposa grávida de outro, que mobilizou criaturas celestes e pessoas humildes a se juntarem em reconhecimento desse grandioso gesto de amor.

O evangelho de João não possui uma narrativa sobre o nascimento de Jesus, como o fazem Mateus e Lucas. Toda a mensagem sobre o início da vida de Jesus de Nazaré se concentra na encarnação de Deus em Cristo. Ela consiste o prólogo, que é a parte inicial do evangelho, dos versículos de 1 a 14. Nele, João se refere ao conceito de logos, muito presente na filosofia ocidental e que marcou muitos pensadores judeus que procuravam uma aproximação com o Ocidente.

Os primeiros filósofos gregos se debruçaram sobre esse termo, referindo-se a ele como uma ideia inicial, formadora de toda a nossa compreensão da realidade. Um deles foi Heráclito, que o entendia como um princípio universal, racional e divino que governa e sustenta o cosmos em unidade. Platão ampliou esse significado, relacionando-o à razão e ao conhecimento, como o fundamento das ideias verdadeiras.

A palavra grega corresponde ao substantivo do verbo legein, que significa “dizer”. O logos é aquilo que é dito, como um discurso, uma fala. O logos é mais do que Palavra, Verbo ou equivalente. O logos é aquilo que não sabemos o que é, mas temos apenas uma ideia. É a base do discurso, como aquilo que se diz de algo, como um saber que se desvela. Por isso que a tradução do vocábulo grego, em filosofia, é “ideia”. Quem a traduziu para “verbum” foi a edição em latim conhecida como Vulgata.

No prólogo de João, o logos remete à sabedoria divina, como um princípio orientador e organizador do universo que está em permanente mudança. Essa sabedoria foi revelada como Palavra de Deus e entregue aos homens. Muito provavelmente João se apropriou da noção ontológica do logos que Filo de Alexandria apresentou naquela mesma época. Filo entendeu o logos como um ser divino intermediário, que atua entre a criação e a transcendência divina, como um mediador da revelação divina. Por isso, João declara: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1.1 ARC).

O logos de João remete à sabedoria divina, como um princípio criador, orientador e organizador do universo que está em permanente mudança. Essa sabedoria foi revelada como Palavra de Deus e entregue aos homens. João afirma: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.14 ARC).

João deixa claro que aquilo que era apenas uma ideia se tornou humano, o divino habitou entre nós, o sagrado se tornou carne, Deus virou gente como a gente. A palavra grega usada é sarcs, que quer dizer corpo formado pela complexa constituição de carne, sangue, ossos, órgãos, tecidos e sistemas vitais, como a natureza sensível do ser humano. O divino tornou-se corpo vivo e sensível.

Dessa forma, os gestos de amor divino puderam ser vistos de forma concreta nos gestos de Jesus. O amor se tornou encarnado. João diz que essa ideia encarnada de perfeito e pleno amor “habitou” entre nós. Ele usa a palavra grega skenoo para dizer que Jesus “fixou sua tenda” entre nós. E o fez cheio de graça e de verdade.

Mais adiante, João amplia o significado do amor encarnado ao dizer que ele é extensivo a toda e qualquer pessoa. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16 NAA)

O amor do Pai pela criação e o amor do Filho pelo seu Pai se uniram desde o início para trazer salvação para a humanidade perdida. Jesus é a expressão do amor divino pela humanidade, um amor apaixonado, capaz de renunciar a tudo para colocar a vida inteira a serviço de quem se ama.

Esse amor encarnado nos convoca a tomarmos parte dele, a encarnarmos esse amor na nossa própria vida. “Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor” (João 15.9). O amor encarnado se realiza quando somos capazes de reconhecer no outro o rosto de Deus, quando somos impelidos a transformar em ações o cuidado para que o outro seja tratado como um ser humano digno e amado por Deus.

No amor encarnado, o sagrado e o humano se unem nas práticas cotidianas. Somos interpelados a cumprirmos a missão de Deus no mundo (a Missio Dei) a fim de torná-lo mais justo e solidário, em que todos e todas tenham acesso a uma vida mais digna.

O Natal nos remete à encarnação do amor na nossa própria vida, e esse amor encarnado corresponde à nossa própria humanização. Um Feliz Natal cheio de amor para toda humanidade.

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