Qual o legado da visita do papa Francisco ao Brasil? A primeira
viagem ao exterior do primeiro papa jesuíta e latino-americano foi marcada por
muitas surpresas, principalmente relacionadas ao perfil do próprio pontífice e
aos novos caminhos que vem propondo para a igreja católica. O que mais me
marcou não foram as manifestações espetaculares que o catolicismo ofereceu ao
mundo. Claro que tudo foi bonito de se ver, superando expectativas e demonstrando
uma grande vitalidade em tempos de tantos ataques que a religião vem recebendo.
Não foi também o modo gentil, simpático e bem humorado do papa. Nem mesmo o seu
gesto simbólico pela simplicidade, andando em carro simples, carregando sua
própria bagagem de mão abraçando crianças e gente do povo. São gestos bem
populistas.
Suas mensagens, sim, marcaram profundamente sua passagem pelo
Brasil. A opção pelo discurso simples e objetivo indica uma nova atitude da
igreja para com a sociedade, o que a aproxima de fato às pessoas em sua própria
circunst6ancia de vida. Alguns pontos foram definidores de uma nova práxis que
deve influenciar todo o cristianismo, católicos, ortodoxos e protestantes. Anoto
aqui alguns desses pontos que julgo serem os mais importantes:
a)
A igreja deve ser reconhecida como uma
comunidade acolhedora e não como uma instituição que detém o poder ou que tem
todas as respostas para o drama humano.
b)
O cristianismo deve ser visto como caminho que
encoraja, que estimula a fé, que produz alegria.
c)
A fé é a experiência do encontro com Cristo e
com o outro. Um não acontece sem o outro.
d)
A missão do cristão é missão de Deus partilhada
aos homens. Ser discípulo e ser discipulado são virtudes que caminham juntas. A
evangelização é mais um testemunho de vida do que uma busca por adeptos.
e)
No caminho do diálogo com o mundo, busca-se a
afirmação da perspectiva comunitária da ação política, que se dá em solidariedade
e generosidade, e não com elitismo e distanciamento de Deus.
f)
A vida de serviço e a ação comunitária do
cristão devem estar na contramão dos valores enfatizados nesta era secular. O combate
à corrupção se dá primeiramente pela rejeição ao egoísmo e à ganância nas
nossas relações.
Como se vê, não são afirmações dogmáticas ou moralistas. São
temas que estão na pauta do cristianismo como um todo e que atendem ao clamor
por mudanças por parte de cristãos de todo o mundo. Não se pode esperar que o
catolicismo rompa com uma herança histórica da noite para o dia. Como protestante,
ainda estranho os rituais e o apego aos santos, mas me alegro em ver novos
ventos que sopram sobre a fé católica. Se queremos que o mundo inteiro seja
alcançado para Cristo, é primordial que todos estejamos unidos naquilo que é
essencial.
Nesta hora em que a humanidade atravessa um momento tão
crítico e que a cultura ocidental se vê diante de tantas ameaças, a mensagem
que faz sentido é de somarmos força para a construção de valores que resgatem a
dignidade da pessoa e aponte caminho para a salvação. Acredito que ficará muito
difícil para lideranças cristãs, e evangélicas em especial, levarem a efeito
uma mensagem que destoe do paradigma proposto pelo papa ou uma atuação que se
diferencie da simplicidade e da gentileza que ele demonstrou.
Meu caro amigo Ir. Irenio Chaves, parabéns pelo seu texto sobre a visita papal ao Brasil. Aprecio a maneira humilde, exemplar deste papa, mas a sua mensagem, conforme expressa no seu texto, é cristã e deveria ser proclamada por evangélicos e protestantes. Abraço amigo.
ResponderExcluirGrato Irenio! De início está legal teu legado observativo. Prefiro aguardar um tempo prá ver se estes ventos ficam ou terão resistência sólida no vaticano e suas nuances!
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