terça-feira, 9 de junho de 2009

Bioética e espiritualidade / bioethics and spirituality / la bioética y la espiritualidad

Quando se fala de bioética, logo vem à mente questões relacionadas à pesquisa de células tronco, aborto, eutanásia e manipulação genética. Mas a principal questão que a ser levantada deve ser relativa ao sentido da existência humana diante dos avanços tecnológicos. Exatamente pelo fato de que tais avanços dão a falsa ideia de que a humanidade melhorou por causa das recentes descobertas.
Desde a década de 1950, é possível perceber que cada vez mais precisamos de uma ciência que nos proteja da ciência, e a bioética é uma resposta interdisciplinar às grandes mudanças que, de um modo geral, se tem experimentado em relação à vida humana. E, dentro da reflexão bioética, permitir uma abordagem que seja fruto de uma reflexão bíblico-teológica – e por que não dizer espiritual – a respeito do tema. A preocupação deve ser de abordar os fatos que envolvem os novos procedimentos médicos e científicos à luz de compreensões que nascem da fé e que estão ligadas ao significado da vida, principalmente em relação ao sofrimento e à morte.
Uma vez que a bioética se constitui em um discurso sobre direito e dignidade humanos, o assunto precisa ser tratado na perspectiva da proteção da pessoa. Ser pessoa é a base para se ter direitos. A perspectiva adotada deve ser a da valorização da identidade individual, que não é resultado de uma conquista pessoal, mas de um relacionamento mais amplo: o da comunhão com Deus, que é marcado pelo reconhecimento de que, como pessoas, somos constituídos de liberdade e de finitude. Essa condição aponta para uma visão moral que habilita a dizer não para algumas práticas que são motivadas pela liberdade humana.
Nesse sentido, a medicina e as ciências que tratam da vida humana devem ser entendidas como cuidados dispensados a seres humanos que sofrem. Uma ética assim submete os cuidados com a vida a vínculos mais afetivos, que são regidos por uma moral fundada na Bíblia, como expressão de um Deus que fala e conhece as nossas dores.
Um exemplo disso é a substituição da noção de procriação para a de reprodução. A questão é: quando o ser humano passa a existir? A resposta a essa pergunta define o rumo da abordagem sobre reprodução assistida, aborto, pesquisa com células-tronco e manipulação genética. São temas que têm sido tratados com base na ideia de privacidade e pessoalidade que dominam a sociedade contemporânea. Em lugar disso, é preciso dar ênfase à procriação como resultado de vínculos mais expressivos, de amor. Uma vez que não temos o controle da criação da vida, é preciso exercitar o direito de dizer não quando a humanidade está na condição de paciente.
Até mesmo as questões relativas à eutanásia, ao suicídio e ao uso de embriões devem ser entendidas não como tentativas de amenizar o sofrimento, mas na perspectiva de otimizar e maximizar o cuidado com o outro. Quando se trata do cuidado com o ser humano, seja como um embrião seja no fim da vida, não se está simplesmente diante de cobaias. O que deve estar em jogo é a tentativa de salvar a sociedade e a nós mesmos, e não somente a melhoria da vida natural. Por outro lado, não é também correto rejeitar os recursos que a medicina e as ciências oferecem. O que se deseja é que sejamos capazes de reencontrar a alegria de existir mesmo em meio a circunstâncias que são desesperadoras.

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