quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fé: Um coração sensível a Deus / Faith: A sensitive heart to God / Fe: Un tierno corazón a Dios

“Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração", disse Pascal. Fé é uma palavra que se encontra entre as mais incompreendidas e que, ao mesmo tempo, produz maior controvérsia. Agostinho precisou fazer a clássica distinção entre a fé com que se crê (fides qua) e a fé que é crida, que se direciona à revelação de Deus (fides quae). Uma que aponta para o sujeito que crê e outra que remete ao objeto da fé. Uma e outra estão inter-relacionadas, correspondem ao modo como somos possuídos por um conteúdo que nos preenche, que dá sentido e nos constitui como pessoas.
Fé é difícil de se definir. Prefiro pensar a fé como uma atitude que orienta a caminhada em nossa experiência com Deus. A cada passo nessa caminhada mais descobrimos a nós mesmos. Conhecer Deus não é um saber intelectual, que se dá de forma explícita, mas é um conhecimento que dá sabor à vida, um novo sentido à existência. O conhecimento de Deus é a experiência da fé, que implica um caminho ao mesmo tempo ético e intelectual, sob a inspiração do Espírito Santo e orientado pelos ensinos de Jesus Cristo, a fim de superarmos o que nos desumaniza e nos abrirmos para os valores que dão sentido à vida.
É necessário ter fé. Uma pequena fé é suficiente para que possamos experimentar o melhor de Deus para nós. Disse certa vez Paul E. Holdcraft: “Muitas pessoas desejam ter uma fé do tamanho de uma montanha, antes mesmo de tentarem mover uma semente de mostarda.” Pela fé, descobrimos que fomos formados para viver em comunidade, que não dá para viver só: precisamos de uma fé que depende do outro. Pela fé, somos encorajados a crescer espiritualmente: precisamos de uma fé que conduza a ser como Cristo. Pela fé, somos capacitados a servir: precisamos de uma fé que se expresse em dons e habilidades. Pela fé, somos convocados para uma missão: precisamos de uma fé que se transforme em ações concretas e responsáveis. Pela fé, contemplamos a grandeza de Deus: precisamos de uma fé que se sensibiliza com o inefável e o transcendente.
Ter fé é essencial porque está em jogo a nossa própria existência. É isso que nos leva a descobrir quem somos. Como disse Soren Kierkegaard: “A fé é a mais elevada paixão de todos os homens.” A experiência de Deus aperfeiçoa o nosso caráter e desperta o que há de melhor no homem, o que nos realiza e nos faz feliz. Fé é busca de entendimento do Deus que se faz mistério. Deus não se revelou a nós por meio do poder e da força, mas na encarnação em Jesus Cristo e na humilhação da cruz. Isso implica uma fé que pensa e nos convida a pensar. Isso nos chama a uma fé solidária. Compartilhar a fé não se resume em oferecer uma informação sobre Deus, mas promover o encontro salvífico e libertador com o único que pode satisfazer nossos anseios pela paz,de justiça, de comunhão e amor.
Entretanto, a fé não é algo que se deva guardar para si nem é uma atitude heroica, como se fosse algo reservado para alguns indivíduos eleitos. Fé é vida que se expressa em amor e dedicação ao outro. É uma questão de maturidade pessoal. Simone Weil denunciou que “a incredulidade de alguns ateus está mais próxima do amor de Deus do que a fé fácil daqueles que, sem nunca tê-lo experimentado, penduram uma placa com o seu nome como se fosse uma fantasia infantil ou uma projeção do eu.”


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