“Eis o que
é a fé: Deus sensível ao coração", disse Pascal. Fé é uma palavra que se
encontra entre as mais incompreendidas e que, ao mesmo tempo, produz maior
controvérsia. Agostinho precisou fazer a clássica distinção entre a fé com que
se crê (fides qua) e a fé que é
crida, que se direciona à revelação de Deus (fides quae). Uma que aponta para o sujeito que crê e outra que
remete ao objeto da fé. Uma e outra estão inter-relacionadas, correspondem ao
modo como somos possuídos por um conteúdo que nos preenche, que dá sentido e
nos constitui como pessoas.
Fé é difícil de se definir. Prefiro
pensar a fé como uma atitude que orienta a caminhada em nossa experiência com
Deus. A cada passo nessa caminhada mais descobrimos a nós mesmos. Conhecer Deus
não é um saber intelectual, que se dá de forma explícita, mas é um conhecimento
que dá sabor à vida, um novo sentido à existência. O conhecimento de Deus é a
experiência da fé, que implica um caminho ao mesmo tempo ético e intelectual,
sob a inspiração do Espírito Santo e orientado pelos ensinos de Jesus Cristo, a
fim de superarmos o que nos desumaniza e nos abrirmos para os valores que dão
sentido à vida.
É necessário ter fé. Uma pequena fé é
suficiente para que possamos experimentar o melhor de Deus para nós. Disse
certa vez Paul E. Holdcraft: “Muitas pessoas desejam ter uma fé do tamanho de
uma montanha, antes mesmo de tentarem mover uma semente de mostarda.” Pela fé,
descobrimos que fomos formados para viver em comunidade, que não dá para viver
só: precisamos de uma fé que depende do outro. Pela fé, somos encorajados a
crescer espiritualmente: precisamos de uma fé que conduza a ser como Cristo.
Pela fé, somos capacitados a servir: precisamos de uma fé que se expresse em
dons e habilidades. Pela fé, somos convocados para uma missão: precisamos de
uma fé que se transforme em ações concretas e responsáveis. Pela fé,
contemplamos a grandeza de Deus: precisamos de uma fé que se sensibiliza com o
inefável e o transcendente.
Ter fé é essencial porque está em jogo a
nossa própria existência. É isso que nos leva a descobrir quem somos. Como
disse Soren Kierkegaard: “A fé é a mais elevada paixão de todos os homens.” A
experiência de Deus aperfeiçoa o nosso caráter e desperta o que há de melhor no
homem, o que nos realiza e nos faz feliz. Fé é busca de entendimento do Deus
que se faz mistério. Deus não se revelou a nós por meio do poder e da força,
mas na encarnação em Jesus Cristo e na humilhação da cruz. Isso implica uma fé
que pensa e nos convida a pensar. Isso nos chama a uma fé solidária. Compartilhar
a fé não se resume em oferecer uma informação sobre Deus, mas promover o
encontro salvífico e libertador com o único que pode satisfazer nossos anseios
pela paz,de justiça, de comunhão e amor.
Entretanto, a fé não é algo que se deva
guardar para si nem é uma atitude heroica, como se fosse algo reservado para
alguns indivíduos eleitos. Fé é vida que se expressa em amor e dedicação ao
outro. É uma questão de maturidade pessoal. Simone Weil denunciou que “a
incredulidade de alguns ateus está mais próxima do amor de Deus do que a fé
fácil daqueles que, sem nunca tê-lo experimentado, penduram uma placa com o seu
nome como se fosse uma fantasia infantil ou uma projeção do eu.”
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